A casa não é de dois andares, mas tem uma elevação no chão, então tem uma escadinha pequena, e, por motivos de que o universo parece estar contra mim hoje, tudo estava fazendo muito barulho naquela madrugada.

Atravessei a sala e finalmente cheguei na porta, lhe abrindo tão devagar que Yoon me olhou torto por um período.

— Olá, pode entrar. — Sussurrei, a adrenalina percorrendo minhas veias.

— Muito obrigado mesmo. — Yoongi disse, tirando os calçados e entrando na minha residência, sendo seguido por mim. — O seu quarto é o penúltimo, certo?

— Isso mesmo. — Respondi.

Andamos até lá no mais absoluto silêncio, sem sequer falar um com o outro, até eu finalmente fechar a porta do cômodo e Yoongi soltar um suspiro longo, se espreguiçando.

Ainda em silêncio, lhe admirei. Estava usando uma camisa toda branca de manga curta, calça de moletom cinza e chinelos de dedo. Seu cabelo estava bagunçado, seus olhos estavam inchados e ele também estava com olheiras bem marcadas; não devia ter dormido nada naquela noite.

— Se importa se eu me sentar? — ele perguntou, me tirando do transe.

— Sinta-se à vontade. — Sorri, nervoso.

Se acomodou na cama, olhando com curiosidade ao redor. Engoli em seco. Minhas mãos estavam suando frio por causa de sua presença ali, na minha cama, e eu não conseguia entender o porquê de isso me afetar tanto.

— Bom, o que houve? — questionei, ainda em pé, os braços cruzados.

Yoongi não respondeu, apenas resmungou algo, e cruzou os braços também, emburrado. Eu fiquei confuso, até me lembrar de suas palavras de antes.

Muito tímido, me aproximei dele, sentando ao seu lado. Passei uma mão por cima de seus ombros, mas Yoongi continuou com um biquinho formado nos lábios.

Então, sentindo as bochechas queimarem, o abracei, e logo ele deitou a cabeça no meu ombro, o nariz quase encostando no meu pescoço, a respiração batendo ali.

— Vou ter o pior feriado da minha vida, Jimin. — Começou. — Eu vou ir no inferno um pouco antes do que estava planejando.

— Por quê? — perguntei baixinho.

— Eu vou ter que ficar com o meu... pai, digo, o biológico. — Seu tom tornou a ser choroso, e o escutei inspirando e expirando bem fundo. — Você não faz ideia de como tenho azar com exemplos masculinos... — Confessou.

— Por que acha ele tão ruim?

— Você lembra do que meu padrasto fez com o Jeongin naquele dia? — balbuciei um “uhum”, lhe ouvindo atentamente. — Meu pai sempre foi muito pior que aquilo, Jimin, e eu não quero vê-lo, não quero que ele…

A voz dele ficou diferente, eu quase podia ver os seus lábios tremendo. Antes que Yoongi pudesse terminar a frase, simplesmente avançou o nariz no meu pescoço. E então ele começou a chorar.

Eu não sabia o que fazer.

Com toda a coragem que existia em mim, lhe puxei pro meu colo, colocando seu corpo de lado, a cabeça deitada no meu peito, seus braços me apertando e as lágrimas ainda escorrendo rapidamente.

— Calma, eu tô aqui. — Acariciei sua cabeça, quase chorando junto com ele. Queria fazê-lo parar, queria dar um jeito de tornar sua vida a mais feliz do mundo e além dele, mas o que fazer? — Yoon, eu tive uma ideia! Por que você não vem comigo e os meus pais pra Orlando? — Foi a primeira coisa que me veio a cabeça, e não tinha muita opção. — Olha, você podia dizer pra sua mãe que, hm, já tava tudo combinado com os meus pais. Garanto que ela vai entender.

— Os seus pais não vão deixar. — Fungou, tentando findar o choro, sem sucesso.

— Se eu explicar o motivo, eles deixam sim, meu... amor. — Eu estava oficialmente desesperado para fazê-lo parar, para deixá-lo feliz de novo, e não tinha tempo pra me preocupar com os apelidinhos que usava para com ele. — Por favor, se acalme, nós vamos dar um jeitinho, eu prometo.

Ficamos em silêncio por algum tempo, só o som dos últimos resquícios do choro alheio no ar — eu derramei algumas lágrimas também, não vou mentir... doeu mesmo vê-lo daquela forma —, até Yoongi parar e, com os olhos ainda brilhando pela água que deles escorreu, me encarar.

— Você realmente faria i-isso?

— Te ajudar? — ele afirmou. — Mas é óbvio que sim, hyung! Eu gosto muito de você, e detestaria pensar em você perto de alguém que te faz tão mal.

— Jimin… — Se animou, dando aquela risada baixa, junto daquele sorriso largo que exibe a gengiva e o deixa tão fofo, mas as lágrimas continuavam descendo. Eu fiquei feliz em constatar que agora eram de felicidade. — Park Jimin, você é o meu anjo!

Isso me fez rir bobo.

Yoongi, depois disso, se confortou no meu colo, e acabou adormecendo. Eu, com todo o cuidado do mundo, me deitei na cama junto de si, de frente um para o outro, olhando pro seu rosto adormecido.

Ele parecia tão calmo, me passava uma tranquilidade intensa. Guiei meus olhos por si, de forma inocente. Seus lábios me traziam as memórias daquela noite, daquela festa, daqueles beijos. A sua pele me lembrava do dia que o vi pela primeira vez, em como ele não me parecia real — ele ainda não parece — e em como eu lhe achava semelhante a um boneco de porcelana.

— Anjo, é? — passei a ponta do indicador em sua bochecha, sorrindo ao ver que ela estava cheinha, sinal de que ele estava se alimentando bem...

De súbito, um sentimento profundo me atingiu. Meu coração acelerou, tudo parecia estar ficando claro.

Quase como uma epifania.

Na minha cabeça, inúmeras memórias de vários momentos que vivenciamos juntos se passavam como um filme. E, ao vê-las do ângulo de um expectador, eu pude julgar que, se nossa história fosse mesmo um longa metragem, o gênero principal seria romance.

Acho que estou... sentindo alguma coisa por Yoongi.

É assustador pensar nisso, e colocar aquela palavra de quatro letras nesse contexto só me fez tremer mais ainda porque infelizmente faz sentido.

— Min Yoongi. — Sussurrei, lhe apertando contra o meu peito sem saber exatamente o porquê. Estava assustado com meus pensamentos e ao mesmo tempo eu sentia uma necessidade de protegê-lo de tudo. Como um completo idiota, beijei sua testa, passando a mão por seu cabelo em seguida, o que lhe despertou. — Desculpe, não queria te acordar.

— Tudo bem. — Se ajeitou, movendo a cabeça contra o meu corpo, como um gato. Estava tão fodidamente perto, e eu realmente não queria me sentir tão bem com isso. — Você devia tentar dormir um pouco também, Jimine.

Quando ele sorriu, antes de fechar os olhos para dormir de novo, senti como se minhas batalhas internas tivessem se encerrado por um breve momento.

Acho que sinto algo por ele, e não sei se posso fazer algo pra mudar isso.

Mas, por enquanto, vou apenas mantê-lo perto e tentar adormecer.

yellow list | yoonminWhere stories live. Discover now