[01] Ponto e vírgula.

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— Uma semana em casa, sem nenhum dever, sem Taehyung Kim, sem senhor Mitzvargell, sem escola! — Jeongguk comemorou, se espreguiçando assim que fomos pro quintal de casa. — Eu tô no paraíso, Jimin!

— Realmente. — Concordei, focado em ajeitar a câmera para iniciar as filmagens do dia. — Tá quase tudo pronto pra começar.

Tínhamos um local razoavelmente grande para gravarmos, e, sem os meus pais e a dona Míriam, aquela velha bruxa da casa ao lado, nós estávamos livres pra fazer barulho e ficar até tarde do lado de fora. Costumávamos fazer isso apenas nas férias, mas um recesso de uma semana é bom demais para ser desperdiçado.

Fazíamos os nossos filmes caseiros desde que eu ganhei a minha primeira câmera, com onze anos. Sempre sonhamos com aquilo, pois tanto o Jeon quanto eu queríamos ser do ramo do cinema — eu como um diretor famoso e ele como um ator bonitão.

Bonito, porém, era um adjetivo muito baixo pra se usar para descrever Jeon Jeongguk.

Aquele desgraçado nasceu com a bunda virada pra lua. Alto, bronzeado, sorriso branquinho, um corpo maravilhoso, força de vontade pra praticar esportes e uma voz doce... Perfeitinho.

Enquanto isso, eu estava abaixo em tudo, exceto nas médias escolares. Por que eu não puxei só a minha mãe e nasci um loirinho do olho azul? Eu tinha mesmo que ser a mistura literal dos meus pais?

Um coreano com o cabelo castanho tão fodidamente claro a ponto de ser confundido com loiro. Os apelidos que isso me rendeu são ótimos, pode apostar.

Mesmo com o Jeongguk sendo parte do time de futebol americano e um dos caras mais populares do colégio, ele sempre passa os intervalos comigo, não me trocava por festas e garotas, entre outras dessas coisas.

Jeon costuma dizer que gosta da minha companhia porque sou verdadeiro, diferente de seus colegas do topo da hierarquia escolar — ele sempre costuma dar ênfase a Taehyung Kim, esse garoto precisa tomar um banho de sal grosso urgentemente. É um papo bem besta, mas fico feliz com qualquer elogio que ele direcione a mim.

— Ei, está ouvindo isso? — Jeongguk me perguntou, me tirando dos meus pensamentos e reflexões, olhando pelo canto da cerca para a frente de minha casa.

— Ah, a minha mãe disse que uma família ia se mudar aqui pro lado. A tia Vivian morreu já faz um tempo. — Contei, deixando a câmera de lado para ir espionar com ele. — Você é mais alto. Consegue ver algo?

— Acho que é um caminhão de tamanho mediano. — Disse, ficando na pontinha dos pés. — Será que eles têm alguma filha? Que tal irmos dar as boas vindas, só pra conferir?

Tsc, típico mulherengo.

Ele não perde uma oportunidade de falar algo assim bem na minha cara. Não é sua culpa, nem eu sei explicar o que acontece dentro de mim toda vez que fala sobre garotas comigo, que dirá o pobre coitado, mas não consigo evitar de fazer uma careta.

— Tudo bem. — Suspirei, já indo para o interior de minha residência. O único jeito de chegar no quintal é atravessando a casa por dentro.

A minha mãe gostava de uma decoração meio monótona. A grande parte da casa em si era em tons de cinza, e os mais coloridos eram os chamados “pastéis”. Jeongguk dizia que era conceitual, eu dizia que era estranho mesmo.

No momento em que abri a porta da frente, o caminhão estacionou.

Nos apoiamos na cerca branca da fachada, aguardando ansiosos por quem quer que fosse sair de dentro do veículo.

Logo, uma mulher desceu praticamente espumando pela boca, sendo seguida por um homem que discutia consigo. Eu quase podia sentir todas as vizinhas fofoqueiras se unindo para apreciar aquela cena.

yellow list | yoonminWhere stories live. Discover now