[02] Entre janelas.

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Na segunda, o primeiro dia oficial do recesso escolar de uma semana, Jeongguk não pôde vir até aqui porque seu irmão mais velho veio fazer uma visita. E meus pais não estavam em casa de novo.

Ou seja, Jimin Park estava sozinho, ouvindo músicas tristes no quarto.

Ontem, nós fizemos um progresso até que razoável com as filmagens de meu mais novo curta metragem, “Brown Horror”, no qual o protagonista é o Brown, o meu vira-lata, que volta e meia foge de casa. Só vamos poder gravar quando o Brown lembrar que tem uma família e voltar pra cá de novo.

Não vi mais o Yoongi ontem, e Jeon ficou pensativo de um minuto para o outro, vegetando no meu sofá. Quando eu perguntei no que tanto ele pensava, ele me disse que estava pensando no amor. Mas logo perguntou se eu queria jogar algo.

Voltando a hoje, eu estava ouvindo my heart will go on e pensando que a Rose poderia sim ter salvo o Jack de se afogar na água congelante, quando, olhando aleatoriamente pelo meu quarto até ver a janela, eu notei que tinha alguém na outra casa.

Havia temporariamente me esquecido da mudança do dia anterior, e jurei que era o espírito da falecida tia Vivian, mas foi só apertar os olhos um pouquinho mais pra eu perceber que se tratava de Yoongi.

Deixei meu walkman de lado, e fui para a minha janela também.

Yoongi estava distraído. Tinha um cigarro entre os seus dedos, e, céus, ele estava sem camisa, o corpo meio inclinado sobre a borda da ventana.

Não consegui resistir. Sem tirar o meu olhar de si, procurei por minha câmera pela escrivaninha. Quando a encontrei, fotografei o rapaz de imediato, esquecendo-me por completo da luz forte que surgia toda vez que uma foto era tirada.

— É Jimin, não é? — foi o que perguntou, piscando os olhos várias vezes devido ao flash e depois me encarando.

— Acertou. — Confirmei, ficando um pouco tímido. — Desculpe por isso, mas ficou muito boa. Você é bem fotogênico. — Balancei a polaroid, sorrindo ao ver a imagem.

— Obrigado. — Agradeceu com um sorriso fechado. — Tô entediado, você tá fazendo alguma coisa legal hoje? — ele quis saber, ainda inclinado sobre a janela, agora com o cigarro no canto da boca e os braços cruzados na frente do corpo.

— Sinto muito, mas eu tô no tédio também. Não posso nem discutir com a vizinha do outro lado, porque ela tá viajando. — Eu nunca pensei que fosse sentir falta da Míriam.

— Hm. — Yoongi se espichou um pouco, me dando uma visão melhor de sua parte superior nua. Ele tinha realmente muitas tatuagens pelos braços, mas, nos outros lugares, eram poucas. — Aquilo que eu estou vendo na sua porta é um pôster do Guns?

— Hã? — olhei na mesma direção que ele, vendo o papel plastificado com o símbolo do Guns N' Roses. — Sim, eu adoro eles, são a minha banda favorita.

— Também gosto muito. — Yoongi contou quando voltei a encará-lo. — Mas o Nirvana continua no topo pra mim.

— Ah, sim, é bom! — exclamei, feliz por finalmente encontrar um outro alguém que também gostasse de rock.

Jeongguk preferia, secretamente, os Backstreet Boys, o N'SYNC e as Spice Girls, então nunca pude falar disso com ele.

— Qual a sua música predileta atualmente?

— É meio velha, mas eu tenho ouvido muito instesticide ultimamente. — Sorriu, também empolgado. — E a sua?

— Lullaby, do The Cure.

Neste momento, a mãe do Yoongi entrou no quarto dele com um cesto, visivelmente cheio de roupas. Assim que me viu, ela sorriu envergonhada. Pude notar que o moreno era a versão masculina dela, sem dúvidas.

— Mãe, esse é o Jimin. — Yoongi me apresentou, sorrindo. — Jimin, essa é a Hyeri.

— Oi! — exclamei gentil, acenando.

— Olá. — Ela acenou, pegando algumas roupas que Yoongi provavelmente havia separado, e se aproximando mais da janela em seguida. — Desculpe pela recepção de ontem, espero que não tenha ficado com uma impressão muito ruim de nós.

— Está tudo bem. Acontece.

— Ah, que bom. — Ela suspirou, aliviada. Parecia ser alguém legal.

Após terminar de pegar as peças, ela virou-se para o filho com um pouco de desânimo.

— Seu pai quer falar com você, meu bem.

— Não tenho pai. — Yoongi bufou, fechando a cara. Ele me encarou, já pegando a alça pra fechar a janela. — Jimin, eu tenho que ir. Mais tarde eu te chamo pra conversar, tá?

— Está bem… — Concordei, um pouco chateado por não podermos conversar mais por agora.

Acho que minha tristeza foi visível além dos limites, porque ele suspirou e a sua mãe deixou o quarto de cabeça baixa.

— Tive uma ideia. — Yoongi bafejou no vidro da janela, escrevendo o seu endereço de e-mail e seu número de telefone. — Pode me mandar mensagem, fica mais fácil pra conversar também.

Meio desengonçado, peguei um papel qualquer e uma caneta. Tirei a tampa com os dentes e anotei tudo o mais rápido que pude, antes que sumisse.

Yoongi acabou rindo disso. Ele tinha uma risada baixa, chegava a ser fofa.

— Não há caras como você em Daegu, Jimin.

— Vou levar isso como um elogio, Yoongi, e espero que seja. — Brinquei, sorrindo fraco.

— Foi mesmo. — Riu. — Ah, e eu gostaria que você me chamasse de hyung. É que eu sou acostumado a ser chamado assim.

— Hyung? Ok, Yoongi hyung!

Deu um último sorrisinho, qual eu retribui largamente, então acenou e fechou a sua janela.

Tentei voltar para as minhas músicas, me estirando na cama por uns dez minutos. Mas logo corri pro lata velha — apelido carinhoso que meu pai deu para o computador que temos na sala — na intenção de enviar um e-mail para Yoongi desde já.

Após perder mais de meia hora só girando na cadeira, porque o lata velha leva uma eternidade pra ligar, finalmente vi o maldito papel de parede — uma foto de Jeongguk e eu quando éramos crianças, só de cuequinhas em uma piscina improvisada.

Então, depois de esperar mais um pouco até fazer o login no meu e-mail, pude escrever um assunto para o Yoongi. Mas aí tivemos um pequeno impasse, porque eu nunca sei o que escrever nesses momentos.

Mas, enquanto pensava em como puxar um assunto, eu percebi que o endereço de e-mail de Yoongi continha um palavrão, junto com uma outra palavra, ambos censurados.

Pode parecer besta, sei que é, mas até então eu não conseguia vê-lo como alguém que fala essas coisas. Tipo, mesmo com as tatuagens, a voz grave, a atitude... Sei lá, ele parece um bonequinho de porcelana.

yellow list | yoonminWhere stories live. Discover now