GOLDFIELD - Nerdices e análises

Star Wars: Episódio IX - A Ascensão Skywalker (28/12/2019)

Também não me incomodou a relação de Rey com Palpatine – o problema estando mais uma vez na execução. Por que "neta"? Isso cria uma série de questões desnecessárias, que ficam em aberto e, coisa que mais me irrita nesses filmes, só serão respondidas em material de outras mídias. Palpatine teve uma parceira em algum ponto? Ou gerou um filho por manipulação da Força, como fez com Anakin? Quem raios era o filho dele, e por que se revoltou contra o pai?

Isso tudo seria evitado se estabelecessem que a Rey era um "clone" do Palpatine, criada a partir de seu material genético.

Primeiro, a clonagem é um tema já entranhado à saga, e seria outro aceno ao antigo universo expandido, em que Palpatine criou diversos clones seus como medida de contingência caso morresse. Os próprios minutos iniciais do filme mostram que Snoke era um clone (há muitos outros entubados), e que o Imperador já estava disposto a usar esse recurso em seus planos. Os "pais" de Rey poderiam ser um casal de geneticistas, lacaios do Império ou simplesmente pessoas que, nas circunstâncias, quiseram proteger a criança dos desígnios de seu criador.

Por que então o lance da neta, com todos os buracos que ele cria?

Essa tendência se estende por todo o filme. Ideias não necessariamente ruins (ao contrário do que alguns fãs mais veementes alegam), mas mal costuradas, e com potencial para muito melhor desenvolvimento – tornando o envolvimento emocional com o filme mais autêntico, e não apenas pela repetição de situações, cenários revisitados ou a trilha do John Williams.

OS CAMINHOS TORTUOSOS DA FORÇA

Os problemas narrativos são inúmeros. O filme todo é dividido numa série de seções problema-solução (como minha namorada, a Ana Carolina Silva, salientou logo após o término) que nunca causam tensão ou sentimento de urgência genuínos, mesmo com a ameaça de o Palpatine destruir toda a galáxia. Há suspenses tolos (como supostamente "matar" o Chewbacca somente para revelá-lo vivo já minutos depois, com uma desculpa que foge à lógica do filme), ausência de sentimento de real perda, o que não torna o Imperador uma ameaça convincente (como destruir o planeta Kijimi, afetando drasticamente o Poe Dameron, só para mostrar que os dois personagens realmente "importantes" desse núcleo, incluindo o bichinho engraçado, sobreviveram à explosão), ou soluções descabidas, como um artefato importante para localizar o esconderijo de Palpatine ser destruído e do nada revelar que havia uma cópia.

A parte do filme que mais concentra esses problemas é a do deserto de Pasaana. Há elementos sem sentido (a festa dos nativos, que a nada serve – a não ser a solução forçada do colar para determinar a localização de Rey pelo Kylo Ren – e então desaparece), humor descabido (uma sequência de piadinhas, a maioria com o C3PO, que cedo começa a cansar e logo roguemos que pare), situações criadas para demonstrar coisas que poderiam ser melhor explicadas (a serpente ferida só para "estrear" os poderes de cura da Força) e desfecho desconjuntado, como toda a batalha enquanto Chewie é capturado e a Rey descobre que tem os poderes do Palpatine.

Nesse ponto eu já estava terrivelmente desconfortável, quando então o filme melhorou consideravelmente. As cenas em Kijimi e no destroier imperial são bem executadas, remetendo a boas sequências de "Uma Nova Esperança" (a infiltração na Estrela da Morte) e "O Império Contra-Ataca" (como quando Kylo revela a Rey sua origem, num paralelo Darth Vader/Luke). Apenas a trama de traição do General Hux, se quis aprofundar mais o personagem, acabou muito rápido e em quase nada serviu ao enredo.

No entanto, com a ida dos protagonistas a Endor atrás das ruínas da Estrela da Morte, o ritmo do filme volta a piorar, voltando ao esquema de problema-solução que continua até o final, criando apenas uma continuidade básica para que as homenagens e cenas ambicionadas pelos fãs sejam entregues uma após a outra.