Receita

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Estava muito frio. Quando a textura levemente úmida e macia encostou em seu ombro, logo depois indo até seu pescoço e aquecendo a porção de pele por alguns segundos, sentiu o corpo inteiro relaxar. Foi, então, envolvido por inteiro e todo o frio que estava sentindo desapareceu. Como quando puxava o cobertor até o pescoço, só que muito mais quente e confortável.

Sorriu de canto pelo alívio momentâneo, e então percebeu onde estava. E com quem estava.

As noites de sexta-feira não terminavam daquele jeito, nunca. Chanyeol respeitara seu desejo de distância emocional naqueles últimos meses e a relação apenas se manteve por conta desse respeito, resumido em sexo e diálogos curtos.

A noite em que fora parar naquela festa por convite da então desconhecida Jinsoul, encontrara Chanyeol e compartilhara as melhores horas de sua vida com ele agora eram apenas uma lembrança distante, que obrigara sua própria mente a enterrar todos os detalhes bem fundo para que nunca relembrasse nada.

Sabia que aquele breve período de abertura não iria durar muito tempo. E não durara. Bastaram mais alguns encontros sexuais para que Byun exigisse a tão desejada distância novamente e Chanyeol, como sempre, estava disposto a atender, mas dentro de uma condição: ninguém poderia se machucar fisicamente. Se Byun sentisse qualquer desconforto, iriam parar e encerrar o que quer que estivessem tentando fazer. Chanyeol havia concordado com a distância emocional, mas não com violência. E Byun tendia a ignorar as dores que sentia, ou melhor, escondê-las de Chanyeol para que assim, com o desconforto, fosse mais fácil manter-se distante emocionalmente dele.

Era loucura, mas era seu único artifício disponível. Porque ter relações íntimas com Chanyeol e não poder ser quem gostaria de ser era muito, muito difícil. Queria poder abraçá-lo por longos minutos, beijá-lo devagar em partes de seu corpo que nunca imaginaria beijar um homem... fazer todos os tipos de gestos carinhosos que pareciam lutar para se libertar. Os cafunés e as carícias nas bochechas nunca feitos... Nunca os havia feito, mas sabia que não precisava aprender. Era loucura pensar neles depois que o momento passava, mas durante... durante era como se a vontade de ser carinhoso fosse despertada e ele precisasse lutar para mantê-la adormecida novamente. 

O coração acelerou e Byun abriu os olhos, incerto sobre como reagir. Não deveria ter aceitado passar a noite com ele. Talvez houvesse aberto uma brecha muito difícil de ser fechada. Não podia perder mais tempo.

Era tão gostoso, mas não podia ficar ali. Permitiu-se mais alguns segundos e então empurrou de leve o braço de Chanyeol para longe de seu corpo. Achou que a movimentação brusca que estava fazendo para sair do colchão iria acordá-lo, mas o maior dormia pesado. Juntou suas roupas pelo quarto e as vestiu com pressa. Observou o garoto adormecido por alguns segundos e achou crueldade ir embora sem lhe deixar alguma satisfação. Ainda mais quando seria a última vez que iriam se ver por mais de mês, iria voltar para a casa naquele final de semana para as férias de inverno, passaria o Natal e o Ano Novo com a família no interior.

Precisava ser frio e distante, mas não era desumano.

Alcançou um bloco de notas riscado em cima da mesa do garoto e uma caneta de tampa perdida. A cada palavra lançava um olhar para o corpo adormecido, checando se estava salvo.

Estou voltando para casa amanhã, já fiz todas as minhas provas finais. Vou passar o final do ano com minha família. Espero que seu Natal e seu Ano Novo sejam agradáveis. Acho que nos vemos em janeiro. Não sei. Provavelmente o tempo com minha família vai me fazer voltar à realidade. Espero que não fique chateado se não nos vermos mais. Acho que lembra do que lhe contei sobre precisar ser alguém diferente do que eu gostaria de ser. É sobre isso. Eu não tenho a escolha que você tem. Sinto muito por tudo.
E obrigado por me compreender todo esse tempo. Foram minhas noites acordado ao seu lado que me fizeram compreender um pouco quem eu sou de verdade, incluindo aquela noite em que conheci Jinsoul e você colocou aquele brilho no meu rosto.
Você me ajudou a compreender quem eu sou e que pode ser muito bom ser eu mesmo, mas infelizmente outras pessoas não irão compreender. Eu gostaria que pudéssemos viver aquela noite para sempre, de verdade.
E não, eu nunca conseguiria falar tudo isso para você na vida real. Por isso estou escrevendo.
Foi legal te conhecer, Park Chanyeol.
Nos vemos por aí.

Noites AcordadoWhere stories live. Discover now