1 - ANY

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O despertador toca e eu tateio a cômoda com as mãos, sem abrir meus olhos, até encontrar o maldito alarme, o qual faz um barulho infernal. Encontro-o e o jogo no chão, provavelmente quebrando.

Mais um dia se passou e eu ainda estou viva.

Droga!

Ainda de olhos fechados, sinto a claridade invadir meu quarto e não evito de soltar um resmungo.

Alguém abriu minhas cortinas, sem permissão.

— Vamos, levanta! — Sabina diz enquanto puxa o lençol de cima de mim.

Não quero levantar.

Me deixa aqui!

Jurei ter dito isso em voz alta, mas parece que não.

Na verdade, acho que adormeci novamente, porque logo depois sou acordada com um balde de água fria na cara.

Levanto buscando ar.

Mas que porra?

Você é maluca?? — Pergunto limpando o rosto com as costas do braço.

— Todo dia essa mesma ladainha. Vamos Any, não posso me atrasar.

Ela sai do quarto e eu a xingo mentalmente de todos os palavrões possíveis.

As vezes gostaria de não ter uma irmã.

Confesso que nem sempre foi assim.

Nós éramos unidas.

Unha e carne.

Ela era meu espelho.

Irmã mais velha, a mais perfeita e a pessoa que eu mais amava no mundo, porém há anos que nossa relação mudou.

Desde...bem, desde aquele dia.

Balanço a cabeça pra tirar esses pensamentos idiotas de lá.

Não tenho tempo para isso. Preciso ir á escola pra fazer nada.

Porque é isso que eu faço lá, absolutamente NADA.

(...)

Sabina está com sua calça jeans, tênis preto e uma blusa de manga curta. Seus cabelos estão penteados, com a franja presa para trás. Percebo que ela passou um pouco de maquiagem. Só um pouco mesmo. Quem não a conhece, diria que ela está sem.
Eu me encontro de calça jeans rasgada, com minha blusa preta, a qual deixa minha barriga de fora e consegui, milagrosamente, secar meu cabelo a tempo para poder vir com ele solto.

— Ainda vou queimar essa sua blusa. Escola é um lugar de respeito e você me vem com essa barriga de fora?

Ela diz sem me olhar enquanto dirige seu pequeno carro.

— Se você tocar nela, eu juro que corto sua mão fora.

Digo de olhos fechados e com a cabeça encostada na janela do carro.

Só queria dormir mais um pouco.

Era pedir muito?

Dez minutos depois, Sabina estaciona e eu saio do veículo antes que ela desligue o carro.

— Não me espere, não vou para casa.

Ela diz enquanto fecha a porta.

Eu já estou a meio metro de distância.

Minha primeira vontade é perguntar onde ela vai, mas logo passa.

Ela não me diz.

Nunca me diz e eu também não quero saber.

Viro de frente para ela, andando de costas para a porta da escola e levanto os dois polegares, sorrindo um sorriso que não chega ao rosto.

Me viro pronta para vazar dali e bato de frente com um muro.

Não, espera.

Muro não tem braços.

Olho para a figura masculina que me segurou e solto o ar com força.

— Olha por onde anda, Beauchamp!

Ele me olha indiferente e responde:

— Você que estava de costas, Gabrielly.

Ele me solta e vai em direção a Sabina.

Quando ela o vê, abre um sorriso e abraça ele com carinho.

Nunca mais ela me abraçou assim.

Engulo em seco e volto a fazer meu caminho para o pátio.

Sozinha.

Como sempre estou.

Trust | Beauany - (em revisão)Where stories live. Discover now