[14] A p***a do beijo.

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— Claro. — O Min disse, e nós fomos recolhendo as vassouras, nos direcionando até a pequena salinha qual Dawon tinha apontado logo depois.

— Yoongi — lhe abordei quando nós chegamos lá, ou seja, quando nós finalmente ficamos sozinhos —, poderia parar de fugir? Preciso falar com você sobre aquilo que aconteceu entre a gente no sofá da sala...

— Nós falamos sobre isso mais tarde. — Ele me garantiu e deixou a área de limpeza, mas nós não conversamos sobre.

Um dia depois, enviei um e-mail pra ele, e o Yoongi simplesmente respondeu com outro no qual dizia pra eu não levar o beijo pro lado pessoal, que nós estávamos bêbados, então não podíamos ter noção do que estávamos fazendo naquela noite. Mesma coisa que nada!

E, além de ter ficado com inflamação na garganta sabe lá deus o porquê, meus olhos estão doendo e meio avermelhados desde ontem. Falei aos meus pais que não dormi muito bem — como médicos, sei que eles não acreditaram em mim, mas, como pais, eles preferiram fingir. Tô com muita dor muscular e dor no coração, com uma leve vontade de sumir.

Tudo ótimo.

[° ° °]

Quando chegou a maldita segunda-feira, fui até o ponto de ônibus pronto pra cair no soco com qualquer um. Yoongi me mandou alguns e-mails ontem, mas estava tão chateado que não lhe respondi, e se quiser ficar irritado, que fique! Tô pouco me fodendo!

Meu mal humor estava transparecendo, emanando do meu corpo. As pessoas que normalmente me cumprimentavam e me davam "bom dia" ficaram só me olhando de longe, até os cachorros não latiram pra mim!

— Jimin! — encontrei com Jeongguk no ponto, ele sorria nervoso. — Quase nem te vi depois da fest…

— Não fale sobre essa merda perto de mim. — Bufei, passando a mão pelo cabelo. — Pode ter certeza mais do que absoluta de que essa vai ser a última coisa que você vai dizer.

— Nossa, que porra te aconteceu? — resmungou.

— Nada. — Murmurei, indignado. — Não aconteceu nada!

— E aí? — como se meu dia não pudesse ficar pior, Yoongi chegou junto de Siwon e Elise.

— Nada que seja da sua conta. — Me sentei no chão, emburrado.

— O que deu nele? — olha só, o cavalheiro vai se fazer de desentendido agora. Cade a nota de um dólar com a foto da Madonna pra eu dizer que Yoongi Min é mais falso que ela?

— Não faço ideia. — Mesmo sem olhar para o Jeongguk, quase podia vê-lo dando de ombros agora. — Vi ele chegando e tentei começar uma conversa, mas o senhor Mal Humor ali me jogou paus e pedras.

— Por que você ficou tão de mal com a vida do nada, Jimine? — ah, agora você me chama de “Jimine”, não é? Deus tá vendo, Yoongi.

— Por nada. — Bradei. Felizmente, o ônibus veio logo em seguida, e fui o primeiro a embarcar. Mostrei a carteirinha de estudante pro cobrador e fui até um lugar vazio na penúltima fileira de bancos. Achei que estivesse bem, sozinho, pronto pra me acalmar, quando Yoongi sentou ao meu lado. — O que você quer? Tem outros lugares livres, não tá vendo?

— O banco é público, e eu me sento onde me der na telha. — Fiquei ainda mais chateado, eu tinha motivos pra estar mal humorado, ele só estava sendo estúpido gratuitamente! — Escuta aqui, Park Jimin, você pode fazer birra, pode agir como uma criança pelo resto do dia, da semana, do mês ou até do ano, a vida é sua e eu não tenho nada a ver com ela. — Ótimo, você conseguiu me deixar magoado. — Mas, cara, precisa mesmo disso?

— Precisa! — me escorei na janela do ônibus, decidido a cortar laços consigo.

— Jimin… — Ele repensou. — Olha, eu sei o porquê de você estar assim, não vou mais me fazer de idiota. — Olhei pra ele de canto, atento. — Só não sei o porquê de você estar levando isso tão a sério. Foi por causa do e-mail?

— Não, eu só… — Suspirei, agora lhe encarando. — Ah, Yoongi, eu não ligo pro que você quer fazer sobre isso, mas acontece que preciso falar com você sobre o que rolou. — Expliquei, e senti um peso sair da minha consciência, me deixando mil vezes mais calmo. — Eu ainda tô confuso, tem uma completa bagunça aqui dentro! — bati o punho contra o peito fracamente. — E aquilo me deixou ainda mais perdido.

— Não sabia que você se sentia assim, podia ter sido mais específico. — Yoongi comentou, me fazendo revirar os olhos.

— Enfim — me aproximei mais de si no banco, falando mais baixo —, por que você tava evitando tanto isso?

— Eu gosto de você, Park Jimin. — Ele lançou isso com tanta naturalidade ao passo em senti meu corpo virar uma gelatina. — Isto é, gosto de ser seu amigo, seu hyung, de conversar com você até escurecer, de trocar e-mails e tudo o que mais eu tiver direito. Gosto da pessoa que você é e do que conseguimos ser em tão pouco tempo. — Explicou. — E eu venho de um mundo onde as pessoas que fazem o que nós fizemos naquela noite param de se falar, às vezes nem se olham mais, e, sinceramente, a sua companhia é uma das poucas coisas que posso dizer que amo na minha vida, e não quero perder. Eu não quero isso pra gente.

Não soube o que dizer pra ele naquele momento, apenas fiquei quieto. Ainda não entendia nada dessas coisas, sou um completo inexperiente no assunto, enquanto que, creio eu, Yoongi já deve ter muita experiência nesse quesito, e em muitos outros também.

— Ei, preciso contar um negócio pra vocês! — ouvi um garoto praticamente berrando para outros três, bem no fundo do ônibus. — Ontem eu comi uma gracinha de ladinho, enquanto o pai dela tava em casa e...

Não prestei mais tanta atenção depois disso, mas foi nojento mesmo assim, ele detalhou todo o sexo em voz alta, e ficava se referindo a garota com termos ruins, umas coisas não quero reproduzir nem mesmo em pensamento.

Mesmo assim, ninguém além de mim, algumas garotas e Yoongi deu importância pro assunto. Depois de olhar rápido pro narrador, constatei que ele estava bem nos padrões. Então pensei que, além de nem termos citado a palavra “beijo” no assunto, o hyung e eu ainda ficamos sussurrando, mas o cara tava gritando como tinha sido transar com a menina, e ninguém ligava.

Se Yoongi e eu tivéssemos falado em um tom normal que tínhamos nos beijado, o que teria nos acontecido? As pessoas também iriam ficar daquele mesmo jeito, fingindo que não estavam ouvindo nada?

— Se você pensar muito nisso, vai morrer de enxaqueca. — Yoongi murmurou, percebendo em que realidade eu já estava. — A vida é muito injusta, Park Jimin.

É, Yoongi, a vida é realmente muito injusta, afinal, ela te maltratou tanto e ainda te tirou de mim no final das contas.

— Jimin? — me chamou a atenção quando estávamos quase no nosso ponto. — Sabe, quando eu preciso desabafar, costumo escrever um poema ou uma música. Tenho desabafado nos e-mails com você, mas, às vezes, é bom escrever algo que você sabe que ninguém além de si mesmo vai ler. Sei lá, é difícil de explicar, mas você devia tentar, é relaxante.

— Ah, eu posso tentar. — Sorri, tentando ignorar a bagunça em meus pensamentos.

yellow list | yoonminWhere stories live. Discover now