Capítulo 7

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Meus olhos estavam lentamente se abrindo, pesadamente, como se eu tivesse bebido mais do que devia ontem. Coisa que não aconteceu, por mais que eu quisesse dar uma chance para bebida me anestesiar.

Eu não tinha vontade de me levantar, não queria sair do quarto, nem que Olga ou Adam me encarasse, não queria que eles me perguntassem nada sobre a tarde de ontem.

Ainda não entendi a falta de estabilidade nos atos do Adam. Em um minuto me elogiando, em outro me dando a pior bronca do pior jeito possível.

Durante a madrugada tive um pesadelo muito terrível com Adam. Sonhei que estávamos no salão da mansão e de repente, por algum motivo, Adam se irritou comigo e me jogou em uma jaula enorme. Foi um dos piores sonhos que me lembro de ter sonhado. Ele ria alto, uma típica risada medonha. Tanto o pesadelo quanto o clima me fizeram transpirar durante a noite, sorte que estava vestida com um baby doll que era uma regata rosinha decotada demais para um pijama comum e a parte de baixo era um short curto e justo demais também rosa, combinando com a regata.

Duas batidas em ritmo rápido na porta.

Levantei rápido fazendo minha visão girar. Sem raciocinar muito bem, trombei com os móveis que estavam no caminho até a porta. Me analisei por alguns segundos através do espelho da penteadeira. Eu estava um pouco indecente mesmo, mas Olga não repararia. Foi um presente dado por Adam também, que com toda a certeza errou meu tamanho.

Abri a porta. Era justamente quem eu menos queria ver. Eu não sabia o motivo de Adam estar batendo na minha porta tão cedo. De roupão preto e pantufas combinando, com uma xícara - que era provavelmente café dentro dela - em uma das mãos. Ele arregalou os olhos quando me viu. Fechei a porta no susto, antes que pudesse falar ou fazer alguma coisa.

— Bela — ele disse, o tom de sua voz era continha constrangimento.

Sua voz era melodiosa, gostosa de ouvir. Eu podia ficar o dia todo ouvindo ele falar comigo. Só deixava de ser quando gritava ou quando sua voz se revelava rude, que eu tinha certeza que sempre era assim.

— Bela — ele repetiu. — Está tudo bem?

— Ta. Por que não estaria?

— Porque eu só queria saber se gostaria de vir dar uma volta comigo? — ele fez uma pausa. — Eu te acordei?

"Não, não. Abri a porta de pijama porque eu sabia que era você mesmo" — pensei ironicamente.

— Eu só espero que da próxima vez você me avise que é você, por favor. Enfim, deixa pra lá.

Eu me sentei de pernas dobradas recostando na porta fechada.

— Você não deveria estar trabalhando?

— Eu me dou folga aos fins de semana.

Abri um sorriso mínimo, achando graça.

— Eu vim aqui para — ele parou de falar. — É que não consigo dormir mais das sete horas e eu passei por aqui e pensei se você gostaria de ir comigo dar uma volta depois de tomar café. Você iria? — perguntou Adam, com a voz constrangida.

Soou como algo inseguro, como se eu pudesse acreditar que ele estaria arrependido de ter me deixado para trás ontem.

— É, sim. Claro. Eu só preciso de um tempo, ok? — eu disse mais para mim mesma do que para ele.

Eu sei. Eu sei. Eu não deveria ter aceitado, principalmente por ter me tratado tão mal ontem.

Mas a ideia de viver com ele, até os meus 18, sei lá, presa revirava meu estômago. As coisas podiam ser o que fossem morando com meu velho pai, mas liberdade eu tinha. E aqui, aparentemente, vou conseguir isso apenas se for legal com Adam. Mesmo não querendo.

— Ok, eu te espero lá embaixo — ele respondeu.

Consegui ouvir através da porta, os passos dele fazendo eco no corredor.

Assim que parei de ouvi-lo atrás da porta, andei vagarosamente para o banheiro e tomei boa uma chuveirada. Assim que terminei soltei e penteei as madeixas. Vesti o vestido novo no manequim.

Ele era azul, com pequenas pedrinhas na cintura também azuis. Assim como todos os outros, lindo.

Não interpreto esses presentes de Adam como uma obrigação do que devo usar todos os dias, mas vejo como uma espécie de respeito usar cada vestido que ele me dá no mesmo dia em que ele escolheu para colocar no manequim ao lado da minha cama. Me perguntava como alguém entrava ali sem eu nem ao menos ouvir nenhum passo ou barulho. Depois de já pronta, arrumei minha cama e desci.

Adam tinha trocado de roupa também. Estava usando uma camisa pólo, seu cabelo cor de ferrugem estava em um penteado meio preso num coque e o restante solto. De bermuda e sandálias de dedo pretas. Nem se parecia com o Adam que eu tinha visto no dia anterior. Ele parecia estar jogando algum tipo de jogo comigo e as minhas emoções. Uma coisa eu tinha em mente, eu não podia confiar nele de jeito nenhum. O estilo dele sem o terno se parecia com um surfista arrumadinho. Passei direto por ele, que lia um jornal sem graça na entrada do saguão.

Fui até a cozinha e cumprimentei Olga e as outras mulheres que trabalhavam enquanto ouviam música animada em um rádio velho demais, até para elas. Adam com uma mansão desse tamanho, não podia comprar um rádio melhor?

Pedi a Olga um sanduíche completo e uma lata de refrigerante. Eu sei que não é muito bom como primeira refeição do dia, mas minha fome era desesperadora, e situações desesperadas levam a medidas desesperadas, não é?

Comi na mesa da cozinha mesmo, e ninguém pareceu se importar com isso.

Terminei de comer mais rápido do que eu imaginara. Me levantei e saí pela segunda porta da cozinha, a que não dava para a sala de jantar, tentando evitar ver Adam para poder escovar os dentes novamente, mas não deu certo. Ele estava de pé me esperando.

— Vamos?

Eu não podia dizer "espera aí que vou ao banheiro rápido", eu mesma me senti no dever de ir, para não criar mais problemas. No fundo eu sabia que estava com medo de ele me deixar para trás de novo.

— Vamos — afirmei.


🌹

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Eu e a FeraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora