Capítulo 33

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Os toques se tornaram mais demorados do que simples apertos de mão, e os olhares mais profundos e mais legíveis. Na maioria das vezes, eu conseguia ler os sentimentos de Adam.

Estava deitada na minha cama, observando a nova sacada que Adam providenciou que construíssem enquanto estava na casa do meu pai. Passei dias sem perceber o surgimento dela ali, coberta por cortinas até o chão, até em um belo dia eu finalmente me atentei a sacada ali. Linda. Muito bem construída. E corri até o quarto de Adam para agradecê-lo, dei a volta pelo corredor, não cortei caminho pelo banheiro como eu queria.


— Eu não acredito — eu disse quando assim que ele abriu. — Muito obrigada.

— Não há de quê — ele respondeu sorrindo.

Mais uma vez, ninguém teve coragem de falar sobre o beijo. Ou pelo menos, eu não tive coragem de tocar no assunto. Adam me fazia bem assim, não queria ter a chance de estragar as coisas. Meu celular vibrou me tirando do transe, eu só o pego e vejo as mensagens já antigas dos meus irmãos, dizendo coisas como "Você vai voltar?", "Onde você foi? Poxa, justo pós funeral do papai."

O mais irônico é que a maioria me viu saindo com Adam, Olga e os meninos e ninguém me impediu ou perguntou algo. Achavam que ainda tinha algum direito de questionar ou ter satisfações, o que com certeza nenhum deles tinha.

Dá para entender como tudo funciona na minha família, e talvez, não seja uma particularidade só dos meus laços de sangue. Acontece com todo mundo, você perde e só aí que de fato valoriza.


Não que eu fosse a melhor pessoa da minha família, ou coisa assim, mas a maioria deles eram distantes e frios entre eles mesmos. Colocavam como desculpa a morte da minha mãe, e sinceramente, eu não conseguia me imaginar junto deles novamente. Entretanto, fomos fazer um tour em Aurora, cidade onde eu morava e onde minhas irmãs moram. É, eu quis dizer "fomos" mesmo, Adam quis me acompanhar, e eu deixei.

Agora ele está cada vez mais presente na minha vida. Não só pelo beijo, mas algo mudou desde a morte do meu pai. E às vezes achava que entendia, e às vezes eu me sentia em algum tipo de universo paralelo.


Mary se desculpou por seu comportamento pós funeral, eu aceitei as desculpas. Eu ainda estava extremamente chateada por tudo, mas certo tipo de piedade invadiu o meu coração, eu não consegui recusar ou ignorar o pedido de desculpas dela. Entendi que não era momento para mais brigas e desentendimentos na minha família. Perguntei sobre o inquilino que se encontrava em sua barriga.


— Se for menino será Bruce, e se for menina... hum... bom, nós não sabemos — Mary afirmou.


— O que acha de Hope? — Adam se intrometeu em nossa conversa.


Ele ainda não tinha falado nada além de cumprimentar minha irmã desde que chegamos. Seus olhos estavam pesadamente lindos, como sempre. Notei que estava de boca aberta olhando-o e desviei novamente o olhar para Mary.

— Ah, que lindo. Eu amei. Se for menina será Hope — ela disse, animada.


— Não vai perguntar a Josh o que ele acha? — perguntei.

— Já desisti que ele participe da gravidez.

— É uma pena, May — eu a consolei.


Nunca gostei de maneira nenhuma do marido da minha irmã, ele sempre insistiu em participar de coisas nada importantes (como a roupa que minha irmã "deve" usar, ou comer, e enfatizar em como ela não pode engordar), e não participar nos momentos mais  importantes da vida dela (quando meus pais morreram, e a gravidez, por exemplo).

— Eu gosto de Hope — afirmei, olhando para Adam que também me olhava.

Da casa de Mary, fomos à casa da Cristal (que era no bairro vizinho), meus irmãos estavam lá. Damon, Andrew e Filipe. A esposa de Andrew estava lá, Brooke, mais deslocada que ela só eu mesma.


Conversei com eles, e os apresentei a Adam também.


— Ele é seu namorado, Anna? — Andrew perguntou, com as sobrancelhas unidas quase formando uma só, encarando Adam.


Tudo dentro de mim gelou, as borboletas no meu estômago se agitaram em uma facilidade quase absurda.

— Não — corei. 

Tentei parecer firme ao dizer isso, mas de longe não pareci.

E depois disso, eu mudei sutilmente de assunto, sugerindo que a reunião de Natal e o Dia de Ações de Graça não acabassem, mas sim, agora, com todos os irmãos participando, cutucando assim Damon e Andrew com vara curta pois nunca participam pois Nova York e Chicago não os liberava. Mas ambos concordaram. Até notei Brooke se animar a respeito. 


— Como vai ficar a casa do papai? — perguntei.

— Eu e Mary estamos nos revezando para deixar ela limpinha. E antes que pergunte, papai queria que a casa ficasse para você. Bom, judicialmente falando, todos nós temos parte da casa. Mas já conversei com todos, e todos nós concordamos. Só Filipe que talvez vá aparecer por lá, é o único que não tem casa — Cristal disse rápido, quase que eu não entendi.

— Mas isso não é justo. Todos merecem a casa.

— Não. Que isso, menina? Você mereceu. Papai praticamente te vendeu, Anna — ela desviou o olhar para Adam e retornou para o meu rapidamente. — Ninguém merece passar por isso.

Eu não pude dizer mais nada, apenas olhei para o chão e assenti. Agora eu tinha para onde ir, eu tinha a "ajuda" dos meus irmãos, embora eu não soubesse até quando teria essa "ajuda", não me parecia algo sólido. Mas apesar disso, nada me prendia mais a mansão a não ser a tutela de Adam. Eu tinha tudo agora para ir atrás do meu sonho. Tinha uma casa que eu poderia vender para arrecadar uma quantia significativa em dinheiro necessária para ir embora para pagar minha estadia nos primeiros meses em Denver, mas me perguntava o tempo todo se era o certo a se fazer.

Quero ir.

Mas também quero ficar.

🌹

Naquela mesma noite, estava sentada na cama com os fones estourando no ouvido quando Adam abriu a porta do meu quarto de relance. Me surpreendi com Adam segurando uma bandeja de comidinhas deliciosas de Olga para mim.

— Tá com fome? — ele perguntou.

— Até que sim.

Ele se aproximou e deixou a bandeja atrás de mim sentando-se ao meu lado.

— Eu sei que foi muita coisa por um dia só, mas, bom, acho que precisa sair desse quarto.

— É... Eu vou.

Peguei uma batatinha frita que se encontrava numa tigela verde fluorescente.

— Eu quero estudar — eu disse, de supetão, sem pensar muito a respeito.

— Literatura?

— É — coloquei a batatinha na boca a mastigando impiedosamente.

— O que precisa para estudar?

— Eu quero ir para Denver.

— Hum, Denver? Não é tão longe, vai poder ver sua família sempre que quiser — ele fitou o chão e em seguida se prendeu ao meu rosto novamente.

— Minha família? — meus olhos lacrimejaram. — Não é minha família que me prende aqui.

— Então é o quê?

— É você.

Vi ele engolir em seco.

— Eu não tô te prendendo, Bela. Bom, no inicio eu te prendi sim. Te tratei da pior maneira que consegui. Você está livre para fazer o que achar melhor para a sua vida.

— Você não entende — minha voz elevou ao tom que a nossa conversa estava. — Aquele beijo... — suspirei. — Mudou tudo. 

🌹

RECADINHO

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Eu e a FeraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora