20- Mia

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— Tá doendo?

Pressionei o algodão umedecido no supercílio de Garrett, percebi que ele se segurava para não falar nada, mas isso não me impedia de perguntar o tempo todo se estava doendo. Ele me olhava daquele jeito que deixava óbvio que a resposta era sim. Continuei fazendo o curativo, sentada ao seu lado no sofá. Ele tirou a camiseta para eu aplicar arnica nos ferimentos nas costelas e seu abdômen definido virou o foco da minha atenção.

— Prontinho — declarei, jogando fora o algodão que usei para limpá-lo.

— Valeu — ele sorriu, fiquei presa naquele sorriso, adorava como fazia isso abertamente comigo — Hoje foi um bom dia, ganhei a luta.

— Não tinha hipótese de você não ganhar — rebati, fui até a cozinha e peguei duas cervejas — O cara ainda tirou uma casquinha de você, mas fora isso, só deu Garrett!

— Eu ganhei logo para parar de ouvir seus gritos histéricos na arquibancada — ele zombou.

— Engraçadinho — fiz uma careta mostrando a língua — Da próxima eu não vou então — blefei.

— Tá, se eu não tiver seus gritos não tenho porque ganhar, então se você não tiver lá, não terá luta.

Não sei que merda aconteceu, mas fiquei comovida com suas palavras, deixei meu eu patético e adolescente acreditar que ele tinha acabado de dizer que eu era o motivo para ele lutar, e foi a coisa mais fofa que eu já ouvi. Me joguei no sofá e gemi quando minha tatuagem arranhou no estofado.

— Que foi? — ele soou preocupado.

— Nada, só que esqueci que fiz uma tattoo hoje e me sentei depressa — contei.

— Opa, quero ver — ele brincou levantando as duas sobrancelhas.

Virei de costas para ele e levantei a camiseta com cuidado, tomando cuidado para deixar o máximo de pele coberta.

— Não toque — repreendi quando senti seu dedo na minha coluna.

"Freedom is a fire burning my bones" (Liberdade é um fogo queimando meus ossos).

— Ficou linda — declarou — Você é linda, Mia — eu me virei para ele — Tudo em você, seu jeito, seu espírito livre, seu sorriso e seu corpo...

— Mas? — eu sabia que tinha um mas, sua frase pairou no ar.

— Mas você não quer o que eu quero. Eu tenho tentado me convencer todo esse tempo, de que eu posso ficar com você e te dividir com o Matthew ou com qualquer outro homem — arrumei a camiseta no lugar — Mas eu não... consigo. Eu quero que você seja leal a mim, fique comigo quando eu lutar, ou um dia subir nos casarmos... — ele riu sem humor e abaixou a cabeça — Você tem fodido com a minha cabeça, eu até procurei minha ex esposa e perguntei o porquê de não ter dado certo — ele me olhou — Entendi que o problema não foi eu, nem ela. Só que queríamos coisas diferentes ... então também não vai dar certo com você.

Eu não sei quanto tempo eu fiquei calada, mas, em poucos dias passei por dois momentos na vida, que não fazia ideia do que dizer. Eu sabia que tinha que respeitar sua decisão, mas, merda, eu não queria. Eu queria que ele aceitasse ficar comigo do jeito que eu queria, e eu temi por alguns minutos fazer alguma coisa, que iria me arrepender mais tarde.

— Certo — me senti a Lia falando aquilo, ela sempre era monossilábica.

— Eu quero estar na sua vida e foi por isso que eu disse que podíamos ser amigos — Garrett me brindou com um sorriso lindo que eu amava — Eu até pensei que podia rolar algo, enquanto eu procurava alguém que quisesse a mesma coisa que eu, mas, definitivamente, não vou ter olhos para ninguém enquanto estou... intimamente com você.

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