Desespero

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Charlie estava acostumado com o som de tiros, mas nem por isso ficou sem se assustar quando Frank atirou três vezes em si mesmo.

A arma caiu no chão, juntamente com o corpo, que Itzel soltou imediatamente depois dos disparos. Itzel achava meio frustrante todo o comportamento de Frank, pois era suposto dele obedecer ela, não de tentar se auto destruir toda vez que ela o pedisse algo, e ela nem tinha chegado a pedir nada dessa vez. Itzel também sentia um formigamento estranho por toda a cabeça. Era irritante. Acontecia sempre que Frank se machucava em algum lugar, e o fato de que de alguma forma ela sentia a dor do servo quase lhe despertava alguma empatia, mas esse quase nunca acontecia de verdade. Frank podia ser importante e uma grande conquista para um nahuatl inexperiente em magia, mas Itzel não o via como alguém que se devesse sentir pena. Era apenas um instrumento, e ele era superpoderoso, que motivo se tem pra sentir pena de alguém com tanto poder? Gente poderosa nem deve se sentir mal quando arrancam suas cabeças, o perseguem e o fazem matar pessoas de forma indireta. Itzel não o tinha abraçado por saudade ou carinho - Ela apenas tinha agarrado a arma valiosa que tinha perdido, antes que Frank resolvesse sair correndo como tinha feito antes. E ela precisava daquela arma pra ser feliz de novo. Precisava mesmo, por isso não podia deixá-lo escapar.

Aretha ainda sentia toda a agonia das queimaduras fritar seu cérebro, mas a agonia do ódio da desgraçada sem escrúpulos que tinha feito toda aquela merda com ela era um pouco maior que isso. Itzel estava tão perto, e mesmo que ela tivesse aquela esfera negra de magia estúpida, Aretha poderia rasgar a sua garganta com facilidade. Não tinha uma faca, mas tinha um chicote, unhas e dentes, e eles podiam fazer um bom estrago.

Mal havia se ouvido o baque do corpo de Frank no chão quando Aretha pulou em cima de Itzel feito um puma.

Aretha apertou o pescoço de Itzel, mesmo que não estivesse nada bem para fazer aquele esforço todo. Sua visão estava embaçada, se sentia fraca e tonta, e toda a dor a fazia querer gritar muito alto, mas a adrenalina a fazia conseguir se manter. Itzel era menor e mais fraca que ela, e talvez isso fosse até uma vantagem, mas quando Itzel resolveu cravar as unhas nas queimaduras ensanguentadas em um dos braços de Aretha, ela conseguiu vencer um pouco a diferença de força.

Itzel achava aquilo ridículo. Era para Aretha estar morta. Elas nunca chegaram a ser amigas de verdade, mesmo depois de tudo, e se Aretha e Loydie morressem no final de tudo aquilo, seria apenas a dissolução de um impecilho, não uma tragédia. Mas para a infelicidade e miséria de Itzel os impecilhos estavam vivos, e um deles tentava arrancar a garganta dela fora.

Deve ter sido por isso que Itzel nunca gostou de Aretha. Ela era muito impulsiva e violenta.

Igual Itzel era.

A esfera negra de magia morta de Itzel rolou pelo chão ao sair de seu bolso em meio à briga, e parou seu caminho quando se encontrou com as botas pretas de Ulukie, que estava tentando manter a calma para não fazer algo impulsivo, despreparado e inconsequente, como era de costume dele fazer.

Ele estava tentando entender o que tinha acontecido naqueles dez segundos. Tiro. Ok. Três tiros. Tudo bem. NA CABEÇA DE FRANK. PORRA, O FRANK. BRIGA. Ok, ok. O Frank não morre, então precisava se focar na briga, mesmo que o fato da dor que os tiros iam causar o incomodasse. Se focar na briga.

Ulukie se lembra de que aquela esfera negra que rolou até seus pés era a fonte de poder de Itzel, segundo Frank. Ele se abaixa e a pega, e logo entra correndo na sala aonde Charlie estava acorrentado, enquanto Aretha ainda tentava lutar com Itzel.

Ulukie se ajoelhou do lado de Charlie, morto de nervoso, com uma arma em uma mão e o núcleo de magia morta na outra. Charlie o encarou com uma confusão genuína.

Demônios, maldições, e todas essas coisas que jovens gostam.Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum