O Departamento de Conspirações do Inferno

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Frank se assustou quando olhou para o lado de fora do bar logo após escutar um barulho próximo ao de uma explosão pequena, e acabou dando um pulo feito o de um gato assustado, segurando a própria cabeça. Ele viu um buraco no chão, de onde saía uma fumaça vermelha alaranjada, que entrava em um estranho contraste com o resto do Vazio, já que tudo era uma imensidão preta sem luz ou qualquer coisa que fosse. Frank fez uma prece silenciosa para que aquilo não fosse proveniente de aliens que porventura houvessem resolvido sair das profundezas do nada, pois isso significaria que o plot da narrativa em que o demônio foi inserido havia começado, e ninguém merece histórias sobre alienígenas no inferno.

Além do mais, o estagiário estava desarmado e não sabia se conseguiria se defender apenas com os punhos em uma invasão extraterrestre.

- Merda. - Murmurou Charlie, em um desânimo juvenil, encolhido debaixo do balcão do bar. Ele não estava nenhum pouco a fim de lidar com mais gente agora.

- ... O que acabou de acontecer lá fora? - Perguntou Frank, ainda meio assombrado e em alerta, mas sem ir olhar mais de perto. Ele odiava admitir, mas com o tempo aprendeu que existem coisas que precisam ser deixadas de lado apesar da curiosidade ou medo, para que não cortem sua cabeça fora e destruam toda autoestima que você já teve em sua vida de maneiras quase que irreparáveis.

- Um bueiro explodiu. Você não reconheceu o barulho?

- Eu não ouço muitos bueiros explodindo. - Frank na verdade não fazia a mínima ideia do que era um bueiro, mas preferiu não comentar, já que também odiava admitir isso.- Porque tem bueiros aqui? Eu pensei que aqui era suposto de não haver absolutamente nada, assim como diz o nome.

- Eu trabalho no inferno caralho. Tu acha que eu saio daqui pra ir pro trabalho como? Num unicórnio rosa? – Charlie retrucou de forma amargurada, se levantando e pegando uma carteira de cigarros amassada que estava escondida junto com mais meia dúzia das mesmas em uma das estantes sujas de poeira onde ficavam as bebidas. Logo, colocou o gameboy no bolso, como quem se preparava para a guerra.

O estagiário não gostava de como era tratado pelo demônio, mas como não tinha como mostrar sua indignação com uma careta muito madura naquela forma de caveira dele, apenas deu um suspiro meio angustiado. Olhando mais atenciosamente para o lado de fora, dava para ver o que seria um bueiro segundo o que Charlie havia dito, e isso fez Frank se sentir aliviado por aparentemente não ser nada demais. Do buraco em questão, um fogo feroz saía a cada intervalo de seis segundos, de forma macabra e um tanto quanto bonita, apesar de ser uma passagem para o inferno. Uma tampa de bueiro amassada estava ao lado, cravada na vertical no gigantesco e infinito bloco negro que se podia chamar de chão, mesmo que em certo ponto parecesse se fundir com o céu completamente preto em um horizonte não existente.

- Vamos logo. Já desisti de te convencer a ir embora, de qualquer forma.

Foi o que Charlie disse, com um desânimo e indiferença palpáveis, a voz rouca e meio morta como sempre. Pulou o balcão como um adolescente que fazia parkour, e Frank apenas assentiu levemente com a cabeça, abrindo a portinhola para que pudesse sair, da forma mais elegante e cavalheiresca que alguém podia o fazer, já que ele era grande demais para fazer os saltos acrobáticos de Charlie, e até um pouco velho demais para isso, em seus 456 anos.

- Eu espero que já tenha entendido a situação que se encontra. Sabe de alguém que poderia ter te amaldiçoado? Alguém que teria interesse em controlar a sua vida ao ponto de escrever um livro sobre ela? - A caveira de terno perguntou, em um tom gentil, já que era a primeira vez que estava trabalhando fora E sozinho, então não podia se permitir ser avaliado mal pelo seu atual protegido por ser rude, mesmo que o demônio parecesse estar cagando e andando para qualquer coisa que Frank viesse a fazer. Se algo desse errado, o estagiário podia ser expulso, ou coisas piores. E ele não tinha para onde ir se qualquer uma dessas opções acontecesse.

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