Capítulo 5 - One Less Lonely Boy

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"Sendo sincero, nunca pensei muito em como a vida poderia ser dura. Pelo menos, nunca pensei durante a minha infância, visto que hoje em dia isto é algo quase irrelevante para maioria das pessoas. Em geral, elas pensam que a vida é dura apenas por não ter os aparelhos e roupas mais caras, ou então, porque a pessoa que elas gostam não retribui os sentimentos.

Isso tudo é apenas uma grande merda, se vocês querem realmente saber. Se você de fato pensa que sua vida é dura apenas por conta disso, isso é ótimo. Invejo você por ser ignorante a este ponto. Em algumas fases de sua vida, você vai notar que a ignorância é uma virtude que poucos possuem. Em geral, esses sortudos são as crianças. E porra... Como esses moleques conseguem ser sortudos. 

Se você deseja conhecer um pouco da minha história, sente-se. Relaxe, aproveite para tomar um leite quente ou um chá gelado. Isto pode demorar um pouco. Antes de tudo começar, prazer. Chamo-me Kim Seokjin e a seguir, você conhecerá um pouco mais de minha história. 

Nasci em Gwacheon-si, cerca de 21 anos atrás. Não era uma das maiores cidades da Coreia do Sul, tampouco a de maior destaque. O bairro onde eu vivia, era um dos mais pobres da região (para não falar que era um dos mais fodidos). Tínhamos que viver com o toque de recolher as 20:00 da noite e a energia da região era desligada todos os dias, as 22:00 e eram religadas apenas as 6h da manhã. Eram raras as ocasiões em que meu pai conseguia ter a sorte de tomar um banho antes de ter que sair para trabalhar.

Minha mãe, trabalhava em casa. Como era formada em pedagogia, ela preferia dar aulas em nosso sótão. Ela, no momento, tinha uma turma com cerca de 14 crianças, 15 comigo. Com carteiras de terceira mão, uma lousa velha e caindo aos pedaços... Ela ainda assim, conseguia ter a melhor escola em um raio de 10 quadras. 

Todos os dias antes de dormir, ela preparava o lanche para as 15 crianças. Além de ser uma ótima professora, minha mãe era uma das melhores cozinheiras que eu já tive o prazer de conhecer. Ela sempre me dizia que, se não amasse ensinar, ela com certeza teria feito gastronomia. Talvez tenha sido por isso que decidi fazer gastronomia.

Meu pai, por outro lado, trabalhava em uma empresa que tinha péssimas condições. Não apenas de materiais ou máquinas: a empresa em si era péssima. Todos os dias eles comprometiam a vida de seus funcionários, visto que não se atentavam aos riscos de mexer com produtos tóxicos sem a devida proteção, além de pagarem um salário horrível. 

Mas infelizmente, meu pai não conseguiria um salário melhor. Ele teve que parar de estudar aos 14 anos, para conseguir ajudar em casa. Meu avô tinha o péssimo ato de gastar todo o seu salário com bebidas e deixava as contas atrasarem. Por isso, meu pai desde cedo teve que  criar responsabilidades. Meu avô morreu dois anos depois, e meu pai, apenas com 17 anos, teve que sustentar minha avó e meus dois tios. Hyun-ah que, na época, era apenas um bebê e outro que, infelizmente, faleceu ainda quando criança. 

Bom, mesmo com essas condições apertadas, nós levávamos uma vida relativamente boa até que o acidente aconteceu.

Eu tinha 15 anos quando tudo aconteceu. Eu e meus pais estávamos voltando de uma viagem curta até Seoul. Tínhamos ido em uma convenção de games que iria ter lá. Meu pai e eu estávamos extremamente animados, e minha mãe apenas ria. Ela dizia que meu pai era uma eterna criança; fico feliz por ele nunca ter descontado seus problemas nem em mim e nem em minha mãe. Sinto saudades daquela época em que eu era alheio aos problemas dos outros.

Eu lembro exatamente como e quando aconteceu. Estávamos em uma das curvas para descer para a minha cidade, e estava tocando uma música internacional. Maldito Justin Bieber. Até hoje, mesmo gostando da letra da música, não consigo ouvir One Less Lonely Girl sem começar a chorar igual uma criança. Justamente quando o refrão iria começar, um caminhão acabou por se chocar contra a frente do carro de meus pais. O impacto foi... Não consigo detalhar. Somente a lembrança dessa situação, está fazendo as minhas lágrimas mancharem este diário.

Eu fiquei cerca de dois anos da minha vida em um estado de coma profundo. Até eu retomar o movimento total de meu corpo, levou 3 anos. Meus pais não tiveram a mesma sorte que eu. O funeral de ambos aconteceu três dias depois do acidente. Vivi com minha tia Hyun-ah, que era pouco mais velha que eu. Minha avó já havia partido dessa pra melhor, e Hyun-ah vivia em Seul, sozinha.

Ela tinha seus 20 anos quando eu acordei. Um garoto de apenas 17 anos, que ainda achava que tinha 15 e ainda estava atrás de seus pais... Essa fase da minha vida, foi simplesmente horrível. Acordava gritando a noite, sem poder me mexer ou me comunicar direito. Praticamente havia desaprendido a falar, conseguindo falar apenas coisas básicas. "Olá". "Obrigado". "Sim". "Por Favor" e ainda assim falava com grande dificuldade. Agradeço Hyun-ah por ter sido paciente comigo, talvez ela seja grata pelo meu pai até hoje. Afinal, ele, mesmo depois de sair de casa, continuava a pagar os estudos dela

Bem, diário... Voltando aos dias atuais, acho melhor eu te informar de algo. Sem querer, hoje esbarrei em uma menina. Sim, na faculdade. Acho que o nome dela é Kim Jisoo... Ou Evelynn, não sei direito. Deve ser algo assim. 

Eu não sei se ela vai fazer algo contra mim, ou não. Dizem que ela costuma quebrar e machucar o coração das pessoas... Se ela soubesse o que eu vivi, acho que ela não teria a capacidade. Ou teria? Bem, não faz diferença. 

Tenho que ir. Hyun-ah disse que tinha uma audição em uma empresa. Sempre foi o sonho dela ser cantora. Mesmo não conseguindo me comunicar direito com ela, eu vou ir apoia-la. Volto amanhã para te contar como foi." — Jungkook terminou de ler, para Jisoo. 

Sinceramente, foi fácil até demais pegar o diário. Estava dentro do armário de Seokjin, e Jungkook era o especialista nesse tipo de coisa. Jisoo estava sentada de pernas cruzadas, em cima da mesa dos professores enquanto olhava para suas unhas. Ela começou a batucar as mesmas contra a mesa, enquanto parava para refletir.

É, acho que isso explica algumas perguntas, mas levanta outras. — Murmurou, pensativa. Estava um tanto quanto séria, enquanto encarava o Jeon. 

E ai? Enviar para a Queen B, ou...?

Cara, nem que eu fosse uma tremenda de uma filha da puta eu enviaria isso. Isso é algo pessoal. Quase me sinto mal por ter lido isso.

— Mas fui eu quem...

Não importa. O importante é, que eu preciso ajudar ele. Tipo... Uma transformação total! — Falou, um tanto quanto... Empolgada, com a possibilidade de virar uma agente da moda. —Com a minha ajuda, ele pode se tornar o cara mais bonito dessa faculdade. E com isso, eu posso me livrar da culpa de ter lido isso. Certo?

Olha... — Kook tentou intervir, enquanto Jisoo já criava inúmeros estilos de roupa que combinariam com o rapaz. 

É isso. Vou realizar um extreme makeover na vida de Kim Seokjin, ou não me chamo Kim Jisoo!

COVENWhere stories live. Discover now