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Acordei no outro dia na força do ódio, com muito sono e totalmente arrependida de ter ficado até muito tarde na festa.

Tentei acordar Ayla, mas acho que foi em vão. Se pudesse também não iria, mas era o dia de entregar a prévia do trabalho pra professora. Argh.

Levantei, me arrumei e tomei café com os pais de Ayla. Como sempre, eles foram uns amores comigo. Quase sai atrasada do tanto que jogamos conversa fora.


No horário da aula da literatura fui pra sala com uma sensação esquisita de ao mesmo tempo que queria muito ver Henrique, não queria de jeito nenhum ver Henrique. 
Entrei na sala e ele já estava lá. 

A professora chamava dupla por dupla na mesa dela pra uma leitura do esboço do trabalho oficial que faríamos, de forma que a turma estava "livre".

"Sobre ontem..." Henri começou a falar comigo, bem baixinho.
"Desculpa quando eu... te beijei." Ele falou e olhou pra baixo. 

"Você não queria?" Falei de supetão. Por um momento me senti como no início das nossas férias, quando confrontei ele. Não sei se ele sentiu a mesma coisa, mas ele parou um pouco e me olhou. Ele suspirou enquanto olhava pra mim.

"Queria." Ele falou mais seguro que nunca.
"E você?" Ele olhava fixamente pra mim.

"Você sabe, Henri." Disse.

"Então porque me pediu pra parar, Trid?"

"Pelo motivo que entrou na porta momentos depois daquilo." Disse e ele abriu a boca, mas logo fomos chamados à mesa da professora.

"Uhhh, Machado de Assis!" Falou a professora animada.
"Mal posso esperar pra ver a apresentação completa." Ela disse sorrindo. Sorrimos pra ela e continuamos a falar do trabalho.

Nós fomos a última dupla. Sentamos nas nossas carteiras e logo o sinal tocou. Eu peguei minhas coisas pra ir embora. Henri segurou minha mão.

"Trid..." Ele olhava pra mim com aquele olhar de dar dó.
"Você não quer conversar sobre ontem?"

Tudo que eu queria era abraçar ele ali e falar que ia ficar com ele pra sempre, mas... ele precisa saber o que ele quer.

"Acho que a gente já conversou, Henri..." Olhei pra porta e Lavínia apareceu de novo.
"Ah, e parece que alguém veio te buscar." Ele soltou minha mão e ela entrou na sala passando por mim e sentando na cadeira que eu tava antes. 

Sai pisando fundo. Ele era muito cara de pau. Coisas assim me faziam pensar que isso tudo era um jogo pra ele. Ele me beijava aqui e depois ia com Lavínia.

Minha mente estava enchendo de conspirações, quando senti alguém tocar no meu ombro.

"Porque saiu correndo?" Era Henri.
"Ela só foi me pedir um livro emprestado." Ele disse e correndo o risco de ser a pessoa mais trouxa da terra, acreditei. 

"Tá tudo bem, Henri." Disse tentando ser simpática.
"Vamos marcar de terminar o trabalho, pode ser lá em casa na segunda, que tal?" Disse tentando não voltar no assunto. Ele fechou a cara.

"Não posso sair segunda. Meus pais vão sair e o Arthur não pode ficar só. Meus pais pediram pra ele ficar em casa pra estudar porque tem prova na terça."

"Ah... então pode ser na sua cas..."

"Você não quer mais nem conversar comigo sobre isso tudo?" Ele me cortou.

"Isso tudo o quê?"

"Você, Trid. Eu. Lavínia. Renan." O último nome soou tenso.

"Renan?" O que ele tem a ver com isso?

"Eu vi vocês ontem." Ele falou ríspido.

"Sim, eu vi que você viu eu tendo uma conversa completamente normal com meu amigo." 

"Amigo? Desde quando ele tem amigas?" Ele soava sarcástico demais, o que me deu uma raiva.

"Desde ontem." Disse e ele riu.

"Sei..."

"Até segunda, Henrique." Disse e sai de lá. Henrique nunca havia me irritado tanto. Eu só queria que ele decidisse. Ou que eu decidisse. Argh.


***

Naquele mesmo dia Renan sentou do meu lado na hora do intervalo e via todos comentando. Ele percebeu também e riu.

"Bom, parece que temos um relacionamento." Eu disse rindo.

"Eu tenho uma reputação mesmo, não tenho?!" Ele sorriu e os olhos dele fecharam junto. Renan era, sem dúvidas, um dos caras mais bonitos que eu já tinha visto na vida. E ele tinha esse... brilho. Ele não passava despercebido mesmo. O que era ruim, porque agora eu não passaria despercebida.

"Tem sim." Sorri e olhei pra baixo.

"Que foi, amigona?" Ele ainda me chamava de amiga com sarcasmo. Eu ri.

"Henrique." Sorri amarelo. Ele revirou os olhos. 

Ayla chegou e sentou na nossa frente.

"Ele revirou os olhos e você tá down, deve ser sobre Henrique, né?!"  Ela já falou. Renan levantou as sobrancelhas em surpresa e eu afirmei pra ela.

"Ué, acordou?" Fiquei surpresa com minha amiga ali. Ela se recusou a levantar de manhã.

'Cheguei no segundo horário, não podia perder a aula de história mais." Ela riu.

Contei a história pros dois e do ciúmes de Renan, o que fez ele gargalhar.

"Isso pode ser bom no final, amiga." Ayla disse.
"Às vezes ele ficando com ciúmes ele decide." Ela deu de ombros.

"É. Ou caga ou sai da moita." Renan disse e Ayla e eu fizemos careta pra ele que levantou as mãos rindo.
"E você sabe que pode contar comigo. Você é minha primeira amiga." Ele disse colocando a mão no coração zoando. Eu empurrei ele de leve e ele riu. Depois pegou minha mão e olhou bem pra mim.
"É sério. Você foi a primeira pessoa que QUIS saber de mim." Ele falou sério mesmo. Eu sorri pra ele. 

"Meu Deus, todo mundo olhando."  Ayla disse. Olhei ao redor e vi Lavínia em um canto, sorrindo um pouco. Dei de ombros.

As pessoas sempre vão pensar o que elas quiserem mesmo. Com certeza Henri vai escutar sobre isso... eu falei a verdade pra ele, espero que ele acredite em mim assim como eu sempre acredito nele.

"A recíproca é verdadeira." Disse e dei um beijo do rosto de Renan que sorriu.

"Awwwww." Ayla disse.
"Eu sei que é justamente por isso o caso e tristeza, mas eu shippo." 

"Eu também!" Renan voltou a brincar.

"Calem a boca os dois!" Disse, rindo. 

***

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora