Mexeu Comigo

11

O último dia das férias chegou e eu estava deitada na minha cama.
Eu olhava pro telefone e esperava uma ligação.
Será que ele ia querer sair hoje?
Esperava que sim. É nosso último.

Tentei não pensar nisso, mas continuava olhando pro celular em cima da cama, ao meu lado.

Tocou.
Era ele.
Sorri e respirei fundo.

"Oi, Trid?!" Ele falou.

"Oi, Henri." Respondi bem feliz.

"E aí?! O que vamos fazer hoje?" Ele parecia feliz também. Me animei e levantei da cama.
"O que você quiser." Ele falou por fim.

Pensei um pouco.

"Praia?" Sugeri.

"Aahnnnn..." Ele resmungou.

"Qual é?! Você disse o que eu quisesse!" Ri.

"Disse, mas não disse que não ia reclamar."

"Vamos, Henri?! Faz tempo que a gente não vai... pra falar a verdade, a gente nunca mais foi depois daquele dia lá." Ri comigo lembrando do dia da proposta.

"Tá bommm. Vamos." Ele suspirou.
"Ver você de biquíni faz tudo valer a pena. Até areia em todos os lugares." Eu ri.

"Babaca." Falei em tom jocoso. "Até daqui a pouco."

"Beijo, linda..." Ai. Ele desligou.
Suspirei alto e depois coloquei as mãos no rosto.

Que merdaaaaa.

***

Caminhávamos até o posto que estava mais vazio. Apesar de ser fim de férias a cidade ainda estava cheia de turistas.

No meio do caminho ele estendeu a mão pra mim sorrindo. Eu segurei.

Andávamos lentamente e falávamos sobre assuntos variados até chegarmos num bom ponto.

Estendi minha canga enorme e sentamos.
Tirei minha blusa e Henri também. Eu usava usava um biquíni que amava e Henri ficou olhando. Eu corei.

Ele se aproximou de mim e deu um leve beijo nos meus lábios. Borboletas no estômago eram reais.

"Você é tão linda." Ele disse e eu olhei pra baixo e depois olhei pra ele. Observei cada aspecto do seu rosto. Levei minha mão até seu rosto e acariciei sua bochecha. Ele fechou os olhos quando fiz isso. Queria saber o que ele pensava. Queria gravar cada pedaço do rosto dele na memória.

Me aproximei e beijei sua testa. Ele permanecia com o olho fechado. Beijei a bochecha. Aproximei meus lábios dos dele e passei lentamente um no outro. Sentia a respiração pesada dele, assim como a minha. Fechei os olhos e grudei nossas bocas.
Começamos a nos beijar lentamente. Parecia que ele queria o mesmo que eu. Curtir aquele momento calmamente.
As mãos dele estavam no meu pescoço e me puxavam pra ele. Uma das minhas mãos estava no seu braço e outra no seu rosto.
Ficamos assim por muito tempo. Quando nos afastamos, olhei pro rosto de Henri e ri. Ele estava vermelho com um sorriso engraçado no rosto.

"Que foi?" Ele perguntou.

"Você tá rosa." Disse apontando. Ele riu.

"Olha quem fala." Sorriu e me deu um selinho.

Olhei pro mar e sorri.
"Vamos?" Perguntei pra ele apontando pra água.

"Não... vou ficar por aqui..." Ele disse.
"Mas pode ir lá, aí quando você voltar vem correndo em câmera lenta, tá bom?!"
Eu dei uma gargalhada e um tapa no braço dele logo depois.

"Por que você nunca entra no mar?"

"Eu entro no mar. Eu amo! Mas... prefiro ficar aqui hoje." Ele foi meio vago.

"Por que você nunca entra comigo então? Algum problema comigo?" Franzi a testa tentando entender o que poderia estar errado pra que ele não quisesse entrar comigo.

"Não!" Ele disse e se virou pra mim, claramente preocupado.
"Não, Trid. Eu adoraria entrar com você é que..." Ele parou de falar e olhou pra baixo.

Me virei de frente pra ele. Ele pareceu triste de repente.

"Que foi?" Peguei na mão dele. Ele riu pro meu gesto. Toda vez que eu fazia algo fofo ou romântico ele ria pra mim e eu corava, como naquele momento.

"Não acredito que vou te falar isso..." Ele suspirou.
"Eu sei que parece idiota isso que vou falar, só pra deixar claro. Mas não consigo evitar, ok?!" Ele falou sério. Comecei a ficar preocupada.

"Ok. Quando Lavínia e eu vínhamos a praia... era sempre eu que queria vir... então ela vinha muito emburrada." Ele ia explicando.
"Eu amo entrar na água, mas um dia... eu tava com ela e ela olhou pra mim..." Ele suspirou. "...E ela disse que eu tava 'muito esquisito' e que eu ficava muito feio molhado e aí ela saiu da água e me deixou lá sozinho..." Eu franzi a testa. Ele olhou pra baixo.
"Eu sei que soa idiota e que eu não devia ligar, mas... você me conhece... eu sou um pouco sentimental..." Ele riu fraco. "Depois desse dia a gente nunca mais voltou e eu só vinha pra praia sozinho. Mas assim... eu não ligo de ficar 'feio' sabe?! Foi o jeito que ela falou... que ela olhou pra mim... parecia... enojada. Imagina a pessoa que você mais ama no mundo falar assim com você?!" Ele disse e isso me doeu um pouco.
"Foi... ruim." Ele olhou pra baixo. Parecia envergonhado e machucado.

Coloquei a mão no seu rosto e ele levantou.
"Não é idiota, Henri. Ninguém merece ser tratado assim. E mesmo que fosse verdade que você fica 'feio', o que eu acho impossível, ela não devia ter falado nada. Isso é ser rude, mal educada e otária." Falei por fim. Ele riu.
Eu sorri pra ele.
"Um dia você vai aprender a deixar isso pra lá e apenas curtir." Eu falei por fim.
Pena que não vou estar aqui pra ver... pensei.

Ele olhou pra baixo de novo.

"Ela voltou, sabia?!" Meu coração parou. Acho que comecei a tremer um pouco.
"De viagem e tal... vi no Instagram dela."

"É? E aí?" Tentei soar normal, mas parecia que ia chorar. Acho que ele não percebeu.
Ele olhou pra mim e deu de ombros.

"Não quero pensar nisso agora." Disse sorrindo.
"Vai lá na água que quando você voltar eu vou te levar pra comer." Sorri fraco.
Antes de levantar ele me puxou mais uma vez e me beijou. Grudou nossas testas.

"Obrigado. Você não me faz sentir como um idiota."
"Você não é." Disse e dei um selinho nele antes de levantar.

Tirei meu short e corri pro mar.
As lágrimas começaram a rolar no meu rosto de novo e eu mergulhei pra ninguém ver.

Ótimo. Além de apaixonada agora sou chorona.

***

Passamos o dia juntos.
Comemos muito, rimos muito, conversamos muito... beijamos...

No fim do dia, quando ele me deixou em casa, não pude deixar de me sentir triste.

A gente não fez uma grande despedida, nem nada.
A gente só se deu tchau e disse "até amanhã" entre beijos.
Nesse momento meu coração pulsava pensando que talvez... talvez realmente não tenha sido uma despedida.
Talvez amanhã fosse tudo normal.
Mas, no fundo, sabia que esse romance de verão tinha acabado.

Entrei em casa e fui pro meu quarto arrumar minhas coisas pra aula de amanhã.
Não sabia o que esperar de amanhã, nem de mim, nem dele, nem da ex, nem de ninguém.

Suspirei fundo e apaguei a luz.
Veria o que seria no outro dia.
Naquele momento eu só queria conseguir dormir.