5. Pecado e desejo

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Segunda-feira

Anaju

Passei o fim de semana trabalhando. Mari conseguiu um extra para nós. Afinal, só irei receber o pagamento pelo serviço na casa dos Reed no fim do mês. E preciso de dinheiro líquido agora. Então, passamos o sábado inteiro e parte do domingo, aspirando e limpando interiores de veículos de luxo, num lava-jato próximo ao hotel aonde Mari trabalha.

No resto do domingo, limpamos o nosso apartamento e fizemos as unhas uma da outra enquanto resenhávamos. Sim, gostamos de conversar e dar risadas juntas. E o que mais adoro na amizade com Mari é que falamos horrores do passado, sobre pessoas que conhecemos de forma suave e sem maldades.

Nesse momento, acabo de chegar na casa dos Reed. Estou ansiosa. Afinal, vou ajustar o meu primeiro contrato de trabalho em solo americano. Durante o percurso, na linha 2 do metrô, pesquisei sobre comida light para preparar para dona Rebecca. Mesmo que ela me pise, quero agradá-la, como também, ao senhor Reed, aquele deus, guerreiro do céu, caído bem diante de mim.

Um sonho inatingível.

Começo animada a fazer minhas tarefas. Ligo minha playlist baixinha. Começa com "I don't want to miss a thing" (Aerosmith). Amo.

— Bom dia, Ana Julia! Tem bom gosto. Gosto também do Aerosmith – diz Alexander.

— Bom dia, senhor Reed. — Desligo a playlist. — Sei que o senhor quer assistir televisão.

Apanho o controle e sintonizo na CNN.

— Não precisava fazer isso, desligar a sua música. Mas obrigado. — Ele vem até a mim e pega o controle da minha mão, observando-me diretamente nos olhos e encostando aquela mão de asgardiano na minha, o que desencadeia furacões e tormentas gelados por meu corpo.

Em frações de segundos, pareço ter desmaiado e voltado a mim.

Tensa, volto às tarefas e o sirvo. Noto que ele prende um meio sorriso no canto dos lábios e volta a me observar invasivo.

Que raiva de mim mesma! Devo ter deixado transparecer que ele me impressiona.

— O que fez esse fim de semana, Ana Julia?

— Eu... eu. Limpei carros de luxo com minha amiga Mari.

— Não para, menina! — Ele lhe sorri.

— A vida aqui é cara. E preciso me manter e juntar – respondo voltada para as minhas tarefas.

— Que bom que pensa assim. Trabalho com finanças, cuido do dinheiro de investidores. E também administro o meu. Está certíssima em poupar.

— Eu sei, é um diretor de fundos de investimentos da bolsa.

— Aham aham... Quando estudava administração, o que pensava exatamente?

— Em arranjar um bom emprego, numa grande empresa. Só que isso é ilusão. Hoje quero ficar aqui, juntar dinheiro, ajudar os meus pais e o orfanato que eu era voluntária. No futuro, quem sabe, ter meu próprio negócio aqui ou no Brasil.

— Decidida! Gosta de ler e acompanhar o que está acontecendo no mundo? Os acontecimentos são sinais e sempre estão pressagiando, dando dicas do que pode acontecer na economia e finanças, que são minha área, mas em outras também.

— Quando tenho tempo. Era mais focada nos acontecimentos quando estudava, pois fazia parte do movimento estudantil... minha preocupação era mais os acontecimentos políticos – digo e o semblante dele parece excessivamente impressionado.

RENDIDO aos Teus Pés (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora