2. Ana Julia

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Anaju


Estou ansiosa e tensa. Irei me apresentar para uma vaga de assistente pessoal de um grande diretor de fundos de Wall Street. Nem acreditei quando Mari, minha amiga que me trouxe para Nova Iorque, me ligou, quando ainda estava no Brasil, para fazer daquela possibilidade de trabalho.


O coração tamborila afoito no peito.


Entrei nos Estados Unidos com visto temporário, oferecido pelo investidor. Cheguei com pouco dinheiro e estou entrando num estado de desespero. Ando pela rua arborizada. Pessoas apressadas passam de um lado a outro. E sinto o vento um pouco frio de outono bater no meu rosto.


Ajeito os cabelos castanhos escuros e lisos, presos num coque. Olho o mapinha desenhado por Mari e também observo o mapa do aplicativo de orientação, no celular. Sigo cheia de esperanças. Ajeito o casado emprestado no corpo.


Tenho fé de que tudo dará certo, mesmo com meu inglês sofrível. Preciso muito. Meu sonho é me estabelecer aqui. Mas o que piorou a minha aflição foi saber que meu pai foi demitido logo que aterrissei nos EUA.


Me preocupo com meus pais. Sou filha única. A minha mãe, Rosa Maria, trabalha fazendo bolos, doces e salgados por encomenda. Ganha o dinheiro dela, mas quem sempre teve o salário certo, foi meu pai, Antonio.


O peito retorce em angústia.


Minha história é semelhante à de muitas moças de minha geração: com nível superior e sem perspectivas de crescimento. Me graduei em administração numa universidade pública. Tenho 24 anos. E na única oportunidade que consegui no Brasil, o salário era muito pequeno e as perspectivas de crescimento, ruins.


O dinheiro que amealhei durante um ano e pouco de trabalho, investi na retirada do visto, na compra da passagem e num dinheirinho para me manter no primeiro mês. Só que tudo aqui é tão pouco que meus recursos estão acabando mais rápido do que imaginava.


Preciso tanto desse trabalho!


Mentalizo com força e me sinto perdida naquelas ruas de Manhattan. Decorei bem as dicas que li sobre aquele distrito e o bairro Tribeca. Ainda assim, me confundo no meio daqueles prédios relativamente baixos, num estilo vintage e em tons terrosos e outros um pouco mais altos entre construções mais modernas. Em alguns prédios, as escadas de incêndio para fora me dão a impressão de que estou dentro de uma das séries de televisão.


Ando e ando e não chego ao número da rua em que iria trabalhar. Mesmo com o sol frio daquela manhã, suores gelados se formavam nas têmporas. Mais alguns minutos de caminhada, alcanço a rua arborizada em que ficava o prédio do diretor de fundos de investimento na bolsa de Nova Iorque.


O verde forte das folhagens dava um tom estiloso àquela calçada tranquila. Finalmente, chego ao prédio, que deveria ter, no máximo, oito andares. Uma imponente escadaria se estendia adiante. Nas laterais, jardins se impunham, belos e elegantes.

RENDIDO aos Teus Pés (Degustação)Where stories live. Discover now