RENDIDO aos Teus Pés (Degustação)

4. Mulheres, amigos e brandy

Alexander

Aquela sexta-feira parecia não ter fim. Nem o pregão da bolsa queria se encerrar. Mas o tempo é resiliente e tem o próprio ritmo imutável, independente de nossos desejos e impressões. Enfim, a bolsa fechou em alta.

Aquele dia infernal acabaria em poucos minutos. E há a promessa de uma boa diversão. Ao menos para mim e Andrew.

Estou num pub, na Stone Street, com Bruce e Andrew. Conversamos sobre negócios, mulheres e bebidas. Não que eu fosse um mulherengo incorrigível, embora não seja santo, ou que bebesse exageradamente. Mas aprecio aquele tipo de conversa entre amigos.

Já estou um pouco alto. Quer dizer, não só eu, como também, os meus amigos.

O loiro Bruce olha a toda hora o celular. É que a esposa, Judith, está grávida de 6 meses e o espera em casa. Eles são apaixonados. Não entendo muito de coisas do coração, mas admiro a relação de Bruce e Judith. Conheci o amigo e parceiro de trabalho ainda na faculdade e temos a mesma idade, 33 anos.

— Está ansioso, man? Vá embora. Se tivesse uma esposa grávida me esperando em casa, numa relação tipo a sua e a da Judith, não estaria aqui uma hora dessas... – comento.

Andrew ri.

Andrew é um solteiro convicto, mas nunca solitário. O cara é bonito, forte, dono de um rosto de garotão, com olhos e cabelos escuros. Não admiro homens. Ao contrário, gosto de lindas mulheres, mas o amigo arrasa onde quer que estejamos.

Além de atrair atenção, ele é bem sociável e agradável. Talvez, seja esse poder sedutor de Andrew que o faça amealhar tanto sucesso empurrando títulos pífios como se fossem ouro. Não o queria longe do escritório. O rapaz tem futuro, é um ás nos negócios mesmo tendo apenas 26 anos.

— Está precisando fazer um filho também, Reed... – comenta Bruce.

— Ah! Muito interessante de sua parte... – sorrio e brinco com o copo de brandy, um dos meus destilados favoritos. — ... mas primeiro preciso encontrar a mãe – completo com um olhar meio perdido sobre a bebida.

— Uau! Por acaso, rompeu com Becca? – Bruce não esconde o olhar inquieto.

— Não... mas Becca não tem o menor perfil para ser mãe. Nunca teria filho com ela – concluo e sorvo uma dose da bebida.

— Becca parece uma eterna garota – diz Andrew, num tom de voz de quem já está bem afetado pelo álcool. — Eh... já a encontrei na noite. Te disse... – o cara remenda, como se arrependesse de sua colocação.

Não ligo.

— Bem, há momentos, em que precisamos pensar sobre nós, além do trabalho. — Bruce fita meus olhos. — A vida é única, amigo. Se não está bem, precisa rever o que está acontecendo.

Bruce dá um tapinha em meu ombro.

— Becca é muito diferente de mim. Acreditem, ela me fez contratar uma governanta brasileira para trabalhar a semana inteira.

— O quê? — Bruce se surpreende.

Andrew franze o cenho.

— E ela não trabalha meio turno? – depois ele diz.