— Como assim propriedade? — minha voz sai baixa, acreditando que talvez tenha ouvido errado ou delirando por um segundo.

— Seus pais o venderam para o rei. — ele diz com naturalidade, o que me deixa em choque.

Horrorizado, eu encaro a minha mãe que inicia um choro alto. Lentamente, vou tomando consciência do que está acontecendo e sua reação encandeia em mim um ataque de pânico, mas ainda assim digo para mim mesmo que deve ser alguma piada de mau gosto. Ele está mentindo, não posso acreditar, não quero.

— Mãe, isso...

— Nós precisávamos do dinheiro. — ela diz com a voz embargada e o semblante triste.

Arregalo os olhos ao escutar suas palavras, sua desculpa mais que estúpida. Como ela pode usar essa desculpa se dias antes foi à própria quem deu as nossas economias ao viciado do meu pai?

Se uma pessoa precisa de dinheiro, ela vende um móvel, um eletrodoméstico. Não vende uma pessoa, o próprio filho, o mesmo que no sol e na chuva a ajudou todos os dias a colocar comida na mesa.

Meu amor incondicional por minha mãe e meus esforços por ela agora não existem mais. Isso deu lugar a um grande vazio, como quando perdemos um ente querido, porém, ela perdeu esse posto após fazer algo tão cruel comigo. E, pior, por dinheiro.

— Não! – digo alto.

— Não faça drama, Jimin. —meu pai se manifesta. — Vá arrumar suas coisas, o rei lhe espera.

Sem pensar nas consequências voo em cima dele. Acerto seu rosto, esmurro seu corpo. A revolta pelo o que eles estão me submetendo é ferrenho e por mais que sinta minhas mãos se chocarem contra a pele de meu pai, a fúria não cessa. Ele segura-me pelos braços e com a força aplicada no local, eu sei que logo estarei marcada.

— Seu desgraçado, eu te odeio! – esquivo-me das suas mãos asquerosas. – Eu odeio todos vocês. – aponto para os meus pais antes de sair correndo para o quarto, fecho a porta e me encosto a ela. Sentado na cama abraçado ao ursinho e com um olhar assustado, eu encaro minha irmã.

Aproximo-me da cama e sento ao seu lado. Jiwoo me abraça forte e respiro fundo retribuindo o seu carinho. Pelos soluços melancólicos de minha irmã, eu sei que ela escutou novamente a discussão dos adultos – e não posso fazer nada a respeito, mas é o suficiente para as minhas lágrimas começarem cair. Eu nunca imaginei sair de casa e não levá-la comigo. Minha vida é minha irmãzinha.

— Você não vai embora, né?

— Jiwoo. — seguro seu pequeno rosto, fazendo ela me olhar nos olhos. — Meu anjo, eu preciso que seja forte, por nós dois, por-favor...

— Minie, não...

— Jiwoo prometa-me, por-favor. — exijo encarando-a nos olhos.

— Tá, tudo bem, eu prometo.

— Ótimo. — fungo, meneando a cabeça em concordância. — Você sempre será a minha pequena fadinha, por isso, nunca se esqueça de que eu te amo muito.

— Isso é um adeus?

— Não, isso é apenas um até logo. — garanto. Parecendo reconfortantes para o momento e uma tentativa de sobreviver à incerteza do futuro, eu me apego às palavras proferidas. Enxugo as nossas lágrimas e dou um sorriso sem mostrar os dentes. — Poderia me ajudar a arrumar a minha mala?

Jiwoo me ajuda a juntar as minhas poucas roupas e alguns objetos dentro da pequena mala e ao terminar a tarefa, sinto meu coração acelerar, com medo.

Aproveito para tomar um banho e lavar bem o rosto na tentativa de disfarçar o rosto inchado de choro. Coloco minha melhor roupa – uma blusa, de tonalidade azul bebê e de comprimento até as coxas, e uma calça jeans. Calço meus sapatos e arrumo meus cabelos castanhos para trás.

Assim que chego à sala carregando a minha mala, vejo Jiwoo ao lado da nossa mãe. Ela vem correndo e me abraça.

— Sentirei saudades. — sussurrou com o rosto encostado na minha camiseta.

— Também sentirei, pequena.

Mamãe vem até nós e noto o quão inchado estão os seus olhos.

— Filho... — ela diz com a voz embargada pelo choro. — Quero que você me desculpe, e-e-eu... – ela gagueja visivelmente segurando as lágrimas. – Sentirei sua falta, Minie.

Não consigo olhar para ela, então, antes que mais palavras duras saiam da minha boca que a machuque, eu passo por ela e deixo a minha antiga casa. Na porta, o conselheiro do rei vem até mim e estende a mão para pegar minha mala, antes de abrir o carro real parado na minha porta.

— Como os ânimos lá dentro foram fervorosos, não tive como me apresentar... – ele diz. – Meu nome é Jung Hoseok.

Meneio a cabeça com um sorriso fraco no rosto. — Sou Park Jim...

— Park Jimin , eu sei o seu nome, senhor.

Com um aperto no peito por ter que abandonar a casa, onde vivi toda a minha vida, viro para olhar uma última vez aquela simples fachada. Suspiro pesado ao encarar a possibilidade de nunca mais vir aqui.

— Senhor. — Hoseok me chama e aponta para dentro do carro.

— Obrigado. — agradeço ao passar por ele e entrar no carro. No banco da frente, o motorista uniformizado nos espera.

E como se não quisesse sair dali, coloco a mão na janela fechada e me prendo a imagem de minha irmã na calçada abraçada ao seu ursinho. Um último adeus.

Eu sei que meu pai do jeito viciado que ele se encontra hoje é capaz de qualquer coisa por dinheiro, mas nunca imaginei que pudesse ir tão longe. Vender um filho, sangue do seu sangue, seu primogênito. Mas, além disso, o que mais me intriga são os motivos que levaram o rei a propor uma negociação desse tipo. Nunca pensei que Jungkook fosse esse tipo de monarca, não estamos na época da escravidão. O que será de mim agora? Sem respostas para o tanto de questões que rondam minha mente, eu tento me manter na realidade em que a cada minuto minha vida é deixada para trás – pelo caminho – e adentro em um mundo que pouco sei a respeito.

Entrelaço meus dedos em meu colo e fecho os olhos, tentando sufocar toda dor que sinto. Meu único desejo é desaparecer, pois me recuso a aceitar qualquer que seja o meu destino de agora em diante.

— Senhor Park. — abro os olhos e noto de imediato a porta do carro já aberta. — Chegamos.

O conselheiro do rei estende a mão na minha direção e ajuda-me a sair do carro. Observo o jardim repleto de rosas brancas e vermelhas. Lindo. Viro o rosto e do outro lado há chafarizes em forma de anjos fazendo ali parecer a entrada para o paraíso.

Mas diferente da sensação de paz que o paraíso deveria me passar, um calafrio me faz tremer completamente e a apreensão dominar minha mente ao pensar no que aquele lugar realmente significará para mim.

Desde o instante em que deixei a minha casa, eu soube que minha vida estava caminhando para uma grande mudança – completa e para sempre.

Vendido Para o Rei - Versão JikookWhere stories live. Discover now