1, 2, 3... ação, por @BiaDLima

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Você sabe o exato momento em que se apaixonou por algo?

Caso saiba, fico feliz por você, porque eu não me lembro. Esse é um dos momentos que eu gostaria de me recordar com os mínimos detalhes possíveis, ao invés disso, narrarei o que a minha mãe me contou.

Eu tinha três anos de idade quando ela me levou ao cinema pela primeira vez, porém antes teve uma conversa comigo, me alertando que em algum momento as luzes iriam se apagar, mas que eu não deveria sentir medo pois ela estaria do meu lado.

Tentando tirar o foco disso, comentou que na sala havia uma tela enorme, eu inocentemente perguntei se era do tamanho do céu, ela riu e disse que não, mas que era bem grande comparada a tevê da nossa sala. Minha versão criança assistiu ao filme sem problema algum.

Hoje, com dezoito anos eu gostaria de me recordar deste momento da minha vida porque eu AMO cinema. Amo filmes, amo as histórias por trás deles, as atuações e os impactos sociais desencadeados por eles.

Agora vamos para outra coisa que me incomoda atualmente. ELA NÃO LEMBRA QUAL FOI O FILME QUE VIMOS! Isto mesmo, senhoras e senhores, não basta ter uma memória seletiva ótima, mas também ter parentes abençoados com a mesma.

Portanto, não sei qual foi meu primeiro filme assistido no cinema, contudo sei muito bem como o cinema foi e continua sendo algo importantíssimo para mim toda minha vida. Daí alguém pode pensar, "são só filmes", por favor, enquanto as pessoas iam à praia ou viajavam em feriados, eu e minha mãe íamos ao cinema. É o nosso lance mãe e filha. É algo tão natural para nós que todas quintas-feiras checamos os filmes lançados na semana e os horários das sessões durante o final de semana.

Grande parte das minhas melhores memórias tem origem no cinema, por exemplo, aniversários, pré-estreia de Harry Potter e as Relíquias da Morte: parte 2 ou meu primeiro beijo aos 14 anos com um garoto da minha sala. Foi um passeio do colégio, minha professora de inglês sempre nos levava ao cinema uma vez no ano, e bom, fomos assistir "Percy Jackson e o mar de monstros". Lá pro meio do filme ele sussurrou algo, aproximei minha cabeça para escutá-lo claramente e ele me beijou. Com direito a língua e tudo, seus lábios tinham gosto de sal e manteiga derretida. Dois meses depois ele me pediu em namoro, antes da sessão começar, agradeci mentalmente por isso porque não queria perder nenhum segundo de "Thor 2". Deveria ter uma regra para não me interromper enquanto vejo algum filme da Marvel, enfim, voltando: eu aceitei, claro! Nosso namoro durou até dois meses atrás, quando eu descobri uma traição.

Alerta de plot twist: o ousado do Felipe levou outra garota para a mesma sala, mesmo assentos e ele enterrou sua língua dentro da boca dela. Simples assim.

Uma amiga minha, Lorena, estava na mesma sessão com a namorada e me contou depois. Foi péssimo, caros leitores, foi como encontrar uma cabeça de cavalo na minha cama, estilo O Poderoso Chefão.

De repente eu me senti traída, não só pela merda do meu ex, mas também pelo cinema ter criado uma imagem falsa de relacionamento. Acho que todos temos este momento, onde percebemos que os colégios não tem armários, líderes de torcida ou um time de lacrosse.

Eu passei toda minha adolescência esperando o momento em que eu pudesse trabalhar no cinema como jovem aprendiz e cá estou! Usando um uniforme vermelho com listras verticais, com um sorriso que insiste em retornar para o meu rosto, tento controlar minha respiração para não parecer tão ansiosa. Não que eu esteja, imagina... eu só esperei por isso, tipo, minha vida toda.

Se não fosse o Danilo...

Argh! Calma, não me julgue ainda. Não estamos falando de ranço gratuito, pelo menos da minha parte. Eu não sei qual o problema deste garoto, desde que posso me lembrar ele implica comigo, quando íamos a passeios da escola para cá ele ficava jogando pipoca em mim, uma vez sai com o cabelo repleto delas, ninguém me avisou e todos começaram a rir de mim. Se já não bastasse, ainda me perturbava na hora do intervalo quando me via assistindo algum filme na Netflix, ficava me chamando de cinéfila. COMO SE FOSSE UM INSULTO! Insulto seria ter um cérebro desses!

Os Quatro AmoresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora