12. (2019)

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  Já se passara duas ou três horas desde que cheguei na sala de espera da Sr. Huglis, naquela manhã, duas almas e um anjo entrara para uma conversa longa de assuntos que não conseguia nem imaginar.
   Minha mente passageira, navegava sobre os pontos que não me deixaram dormir a noite toda: 1) Samantha, seu jeito diferente, seus poderes? Podemos assim dizer, era tudo muito novo para mim, e algo ainda mais novo, ela perdera a confiança em mim.
  Mirian e Alice não mudarão nada, eu estava evitando Mirian, não que eu não gostasse dele, é porque reve-lo ativou alguns sentimentos que tranquei a sete chaves.
  O barulho da porta se abrindo me trouxe de volta para o presente, uma mulher concurda com óculos redondos pôs sua cabeça sobre uma pequena brecha da porta e me chamou.
  Entrei timidamente quando vi as almas e os anjos todos me olhando, Sra. Huglis com um leve sorriso de orgulho e preocupação me consumia. Eu sei quem é você, Theo...
- Sente- se - Ela apontou para uma cadeira vazia.
Sentei.
Uma alma cruzou a sala, era um menino( Cabelos afro, negro, olhos azuis e uma grande cicatriz em seu peito), ele foi até uma pequena mesinha e pegou a bandeja com diversos chás, depois voltou até a nós.
Sra. Huglis deu um leve sorriso e se serviu.
- Bom... - Ela pousou a xicará sobre a mesa tranquilamente - Sr. Owren... Nossa amiga, e aliada... Espero - A mulher lançou um olhar metralhoso na garota, que se enfiou na poltrona intimidada - Trouxe novidades para nós...
  Não havia olhado para a garota de capuz até então, eu a conhecia, eu a vi exatamente quando cheguei aqui, a menina da fila de turistas ( Que até esse ponto já sabia que fazia parte do exército de soldados do Bullock).

- Eu sei o que deve estar pensando - Ela lançou um olhar penetrante em mim, me senti mal por julga-la naquele momento, mas de uma coisa eu sabia, ela não era de confiança - Da mesma forma que você... - a garota engoliu a seco - Eu também fui enganada, mas desde então eu luto contra o governo autoritário e narcisitsa de Bullock!
  Então senti uma ponta de desprezo por mim.
  Sra. Huglis forçou um leve sorriso, entrelaçou os dedos e observou a pequena linha de vapor do chá subindo.
- Srta. Marte e Sr. Owren, estamos aqui para ser mais estratégico, só você, Sr. Owren! Pode nos colocar dentro da cidade dos anjos.

Eu já havia escutado esse nome, só não me lembrava de onde, não era daquele papel que encontrei a alguns dias naquela igreja. Foi em 1989, logo depois que caimos daquela montanha.
Então foi ai que um feixe de luz iluminou minha mente, aquela garota, a de capuz na minha frente eu já a conhecia e tinha um motivo, mas não conseguia lembrar qual.
- Toma - Marte entregou um amontoado de folhas costuradas - Eu mesma fiz, é tipo uma bibliografia de Bullock, ainda não acabei... - Ela mordeu a lingua - Mas acho que tem contéudo necessário.
  Peguei os papéis dando uma leve olhada, sem ler, em seguida me direcionei a Sr. Huglis, as outras três almas permaneceram quietas apenas escutando.
- Com lisença - Bebiriquei um pouco do chá, a esse momento, minha garganta havia secado de tanto debater e senti minhas cordas vocais implorando por água ou qualquer líquido bebível - Não acho que um monte de papel nos ajude. Alias, Pra que essas almas ai se elas não falam nada, são inuteis para nós!
  Bati a mão na mesa, furioso, Sra. Huglis lançou um olhar de reprovação, pedi desculpa em seguida.
- Somos do Conselho das Almas - Os três disseram juntos - E estamos aqui para avaliar a situação e se podemos ter credibilidade nas propostas.
  Marte tossiu fazendo que todos nós a olhassemos, ela se virou para Sra. Huglis e prosseguiu.
- Por muito tempo eu achei que dava para viajarmos no passado e destruirmos o exército de Bullock. Mas na verdade, após anos de pesquisas e quase duas morte foi que descobri, ele nunca de fato teve uma data de nascimento como visto no papel, desde que o mundo das almas existe, o nome do rei das almas já era dito, então me perguntei... Quem é Bullock e aonde ele vive? - Ela bebeu o chá despretenciosamente - Ilegalmente criei um codinome, virei o maior astrologo do mundo das almas, Olíver Olix. Hoje enfim, posso usar meu nome original. Enfim, após anos destruindo as possiveis entradas descobrimos que a única maneira de entrarmos nela é com um relógio, porém, encontra-los e manusea-los é quase impossivel, apenas manipuladores do tempo tem essa habilidade.
- Meu deus - Murmurei para mim - Meu deus...
- Agora entende aonde queriamos chegar, Sr. Owren? - Sra. Huglis me olhou com certa pressão em seu olhar, havia muitos sentimentos neste gesto, uma delas era esperança - Precisamos que você nos leve até a cidade dos anjos para matá- los ou prendê-los.

  - Leia, porfavor... - Marte ajeitou sua capa marrom - Tem coisas nunca ditas no mundo das almas ai, por isso tome cuidado, pode por todos nós em risco...
Assenti, a Sra. Huglis nos guiou até a saida, vimos as quatros pessoas sendo levadas pela senhora idosa que abrira a porta para mim.
  Mirian estava na sala de espera com um buquê de orquideas em suas mãos, ele manteve um olhar apaixonante em mim.
- Não conte para eles - Ela sussurrou - Não agora...

                             ❇ ❇ ❇

  Mirian veio em minha direção quando a porta da Sra. Huglis se fechou.
- Eai? - Ele veio até mim - O que vocês falaram? Aqui... Para você!
O menino entregou as orquídeas para mim, sorri encantado com tal beleza.
- Obrigado...
  Ele dispensou agradecimentos e me olhou, ainda com aquele seu olhar.
- Podemos conversar?
  Engoli a seco. Eu sabia exatamente aonde essa conversa iria chegar e temia os caminhos das palavras.
  Assenti de qualquer forma.
Mirian apertará um botão, sua cadeira de rodas em segundos andará lentamente sobre seus comandos de um "controle remoto", se assim podemos dizer.
  Fiquei impressionado com tamanha tecnologia desde a última vez que o vi.
- O que vamos falar? - Coloquei minhas mãos dentro dos bolsos da minha calça.
- Você sabe... - Ele abaixou a cabeça, sua voz leve a aveludada oxcilando - Você prometeu, Sabe quanto tempo estou te esperando?! 30 ANOS!
  Ele estava chorando, não de raiva, mas de tristeza, e por  ter acreditado na promessa que eu fiz.
  Respirei fundo. Procurei a forma mais delicada para não machuca-lo, não queria ser babaca com uma pessoa que eu amava tanto, e mesmo assim eu fui.
  Abri minha boca para tentar falar, mas não conseguia, era como se meu cérebo estivesse impedindo meu coração de falar alguma merda.
- Eu ia voltar... - Olhei cabisbaixo, escutando seu choro reprimido - Eu tentei, eu juro que eu tentei, mas eu não sabia, eu... Eu... Eu te amo! E sinto raiva de mim todos os dias por ter te ludibriado com promessas, me sinto um lixo  sabendo que um dia deitei com um homem que não fosse você! - Chorei, nós dois nos revesavamos. Era como se até nessa situação fossemos interligados - Mas eu ainda te amo.
  Ele sorriu, limpando suas lagrimas.
- Que bom... - Ele assentiu - Mas quando se passa trinta anos e mesmo assim você acredita que um dia a pessoa vai voltar - Mirian parou a cadeira no caminho, me olhando - As féridas param de se regenerar e a única coisa que resta é a dor. A única coisa que me restou foi chorar.
- Me desculpa. - Bati em meu rosto cada vez que repetia "me desculpa" - Me desculpa! Me desculpa! Me desculpa!
  Mirian fungou. Levantou seu olhar brilhante para mim, odiava e amava isso, sua pureza no olhar.
- Eu não quero ficar com uma pessoa que se bata por causa de mim - Ele se virou, apertou o botão e caminhou sala a dentro - Isso é doentio!
- Miria...
  Desisti na metade da palavra quando percebi que ele estava a duas portas a frente. O que ele disse era verdade, o meu amor por ele era doentio.
  Esse sentimento de invalidez, de só se sentir completo com outra  pessoa acabou me tornando assim. Transformando o amor em algo doentio.
O que me fez pensar : O amor não é doentio, nós o tranformamos.

CIDADE DOS ANJOSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora