11. (1989)

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   - Eu odeio vocês! - Resmunguei batendo o cabo da bengala sobrevoando - Odeio!
  Sebastian mordeu minha perna, provavelmente eu estava saindo da trilha.
- Trilha! - Ele murmurrou.
- Ninguém te forçou a vir - Alice respondeu se sentindo ofendida - Pode dar meia volta e voltar para aquela enfermaria de merda e ser levado para sei lá a aonde! - Ela cuspiu no chão, em seguida escutei seus dedos estalando - Vai Theo!
  Engoli a seco.
- Desculpa...
- Desculpa? - Ela cutucou meu ombro - VOCÊ! Está prestes a se tornar a droga de um dos seguidores de Bullock, você olhou para o sei lá o quê! - Alice gritou - Já estamos em desvantagas, Pô! Você quer nos matar?!
- Pegou pesado com ele... - Mirian disse para Alice - Tenho certeza que não foi proposital.
- Cala a boca, Mirian! - Alice apertou a mão na barra metalica da cadeira - Você só fala isso porque quer transar com ele.
  Mirian se virou para olhar Alice e deu um soco em sua barriga furiosamente, Alice deu um passo para trás resmungando de dor, olhou enojada para todos nós, em seguida gritou algo que  não entendi.
  - Obrigado,  Theo! - Disse Sebastian Sarcasticamente - Estamos sozinhos! Agora vai...
  A este tempo Alice já estava a metros luz de nós, estavamos parados no meio da trilha, eramos presas fáceis e suscetiveis a qualquer perigo.

                  ❇               ❇              ❇

   Sebastian me guiou até a barra de ferro da cadeira de Mirian, ele disse algo para Mirian: " Você será os olhos e os ouvidos de Theo" em seguida sentou em seu colo, enquanto os dois gatinhos cansados se rastejavam na trilha.
  Eu queria perguntar para Mirian sobre o que Alice acabará de falar, sobre ele querer transar comigo, nunca achei que ele quissese ficar comigo, ou seja lá o que ele queria. Não sei se ficaria com ele, acho que não o amo.
  - Corre, Theo! - Mirian gritou - Vamos!
  Então foi ai que escutei, as botas pesadas batendo no chão de cimento, seus passos acelerados, o estinlar de suas armas, seus gritos coreografados vindo em nossa direção.
  Frente, continuei correndo normalmente, a cadeira outrora tremendo por causa dos pedregulhos na trilha, outrora pendendo para o lado por erro de construção, Mirian tentava o possivel para eu não cair em algum buraco, ainda mais sendo mesmo que por algumas horas, um deficiente visual.
  Esquerda, Bati em algo que identifiquei como uma árvore folhosa, os soldados cada vez mais pertos, os sons dos tiros passaram por nossos ouvidos, percorrendo próximo de nossas cabeças.
  Continuamos correndo descontroladamente, Sebastian pulou da cadeira e serviu como distração para os soldados pulando de árvore em árvore como macaco.
- Eu encontro vocês lá na frente! - Ele gritou sem fôlego.
  Mirian ria, me perguntava como ele poderia achar aquela cena engraçada, estavamos a poucos passos de sermos mortos.
  Escutamos um tiro, em seguida um miado agudo tomou conta da floresta, estavamos longe de mais de Sebastiam e se voltassemos encontrariamos os soldados preparados para nos executar como fizerá com Sebastian.
  - Corre, Theo! - Mirian segurou minhas mãos suadas, preocupado - Direita! Direita! Esquerda!
Então virei para direita, guiado pela movimentação do corpo de Mirian, em seguida direta novamente e por fim para esquerda.
  - Eai? - Disse ainda tonto e nauseado, tentava segurar algo que percorria minha garganta enquanto meus pés rangiam procurando se equilibrar - Em, Mirian!?
  Mirian estalou os dedos. Sobre nossas costas, o som das botas se aproximaram, as armas sendo destravadas trazendo uma sensação estranha de pavor e misericordia por vida.
- Mirian! - Gritei - Direita ou Esquerda?!
  Ele engoliu a seco. Indaguei o motivo dele estar tão quieto.
- Não temos saida, Theo - Ele suspirou sem forças - Deve ter uns vinte soldados aqui...
- Que merda! - Murmurei.
  A mão de um soldado segurou meu ombro, em seguida senti a ponta de uma arma tocando minha costa, fora arrancada de minhas mãos a bengala.
  Tentei criar aquela imagem em minha cabeça, vinte soldados a nossa volta. Sem saida não tinhamos mais o que fazer.
   Estavamos perdidos. Uma presa fácil, pensei.
  - Se segura ai - Sorri para Mirian.
   Me impulsionei para o lado e caimos mata a dentro, os soldados atiraram em nós, duas ou três balas nos acertaram, caimos a queda livre a meio de um monte de árvores, um cadeirante e um cego, perdidos a um emaranhado de cipós e folhas secas.
  Uma bala passou raspando em meu ombro, os sons da bala chicoteando o vento, passando sobre nossos corpos. Estavamos aceitando a pré- morte naquele momento.
  Enquanto caíamos, escutamos os passos calculados dos soldados se aproximando, gritando coordenadas em alguma lingua desconhecida por mim, Mirian segurava fortemente sua cadeira, me possibilitando escutar quando a cadeira de rodas batia nas árvores. Estavamos perdidos e provavelmente com sua cadeira completamente quebrada.

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