9. (1989)

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Estavamos em média oito horas hospedados na capela de Bullock, amontoados em um canto, se protegendo do frio, o homem ao contrário permanecerá a noite inteira sentado nos olhando.
  Reparei isso quando tossi e ele olhou seriamente para mim, Josie levará Sebastian e os outros gatos para algum lugar lá embaixo.
   Mal consegui fechar meus olhos direito, mas permanecer acordado com a presença daquele homem me olhando era pior, ele tinha um sorriso malicioso em seu rosto e isso me causava arrepios.
  Em uma dessas rápidas vistórias, vi quando ele levantou e foi até um espelho quebrado, ele dará um sorriso ao sentir (como eu não sei) que eu estava acordado.
  Ele retirou seus globos oculares, em seguida observou a escuridão, um sangue azul escorrendo e uma leve onda de prazer o tomando.
  Bullock virou em minha direção e disse.
- Pode levantar garoto - ele sorriu - Tenho grandes planos para você...
  Abri os olhos, retribui com um sorriso envergonhado.
  Mirian dormia sentado em sua cadeira, enquanto Alice relaxava seus braços em suas pernas, sua cabeça apoiada na barra fria da cadeira.
  Era estranho e macabro vê-lo sem seus olhos, ele apontou para uma protese de ouro.
- Pegue-a por favor - ele olhou em alto - Gostaria de colocar? - Ele sorriu.
Engoli a seco.
A protese era pesada, obviamente por ser de ouro, mas o que mais me impressionou era as marcas, como se alguém tivesse tentado derrete-la.
  O homem as tomou de minha mão e as pôs em seus olhos que relusia, ele olhou fixamente para os meus olhos que derreteram.
- Não olhe, Theo... - O brilho se apagou, e escutei passos indo até aonde eu acreditava ser uma mesa - Sua visão voltara em 48 horas, enquanto isso, vou fazer seu orçamento...
  O que? Que merda de orçamento? Eu nem pedi para ficar cego?
  Alias, a sensação de naúsea e tontura voltará, meu equilíbrio estava zerado, minha audição sensivel demais com o barulho de globo ocular derretendo.
  Meu sangue ferveu.
Tudo era escuro. Tentei religar as sensações, a audição, o tato para me guiar até o sofá em frente a mesa.
- Não tem como acelerar o processo?- Disse desesperado olhando para alguma coisa que não conseguia ver, esperava ser Mirian e Alice - Você é doente!
  Senti lágrimas escorrerem dos meus olhos.
Sua gargalhada emergiu de suas entranhas como um tubarão devorando sua presa maritma.
- Ou você paga! - ele bateu com os punhos na mesa - Ou sera meu escravo. Você escolhe...
- Seu filho da... - Avancei em cima de algo que esperava ser ele, mas falhei miseravelmente.
  Única coisa que recebi foi sua risada.
- Não te-te-temos dinheiro - gaguejei.

  E em segundos eu me perguntei como deixei tudo isso acontecer, mal havia chegado no mundo das almas e já havia me metido em confusão.
  - Almas - O homem pôs seus pés sobre a mesa - Estou abrindo um negócio de essência de almas, quem sabe... Eu não possa te recompensar.
- Tipo com o quê? - Uma fagulha de curiosidade brotou em mim.
  Ele sorriu novamente.
- Reencarnar por exemplo.
- Mais isso não é algo natural, para nós almas? Existe encarnação, certo?
- Claro... - Bullock grunhiu - Mas demora centenas de ano para acontecer. Então, topado?
Levei minha mão a frente, ele puxara com força para a direção contrária e as balançamos em confirmação.
 
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  Na manhã seguinte saímos do escritório de Bullock, tentei esquivar das perguntas curiosas de Alice e Mirian, eles pareciam saber de algo que eu literalmente não conseguia ver.
  Sebastian se pôs a minha frente fazendo um gemido de dor ao ver meu rosto (eu acho).
  Mirian se dispos a deixar que eu me sentasse em seu colo, neguei no início, mas depois que cai da escada vi que seria um pouco dificil.
  Escutei Josie correndo desesperado vindo me levantar, ela me entregou algo que reconheci como uma bengala.
Agradeci e tentei me locomover usando aquele aparato então tão novo para mim, como a cadeira de rodas a alguns dias atras.
  Sebastian e os outros gatos foram fundamentais, sempre com descrições ricas em detalhes.
  Segundo eles, estavamos em uma floresta, passando por uma pedra com um vazado no meio, como se fosse um rosto de elfos da mata, disse Alice.

  Segundo eles, estavamos em uma floresta, passando por uma pedra com um vazado no meio, como se fosse um rosto de elfos da mata, disse Alice

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Seguimos a trilha e eu só conseguia me sentir cada vez mais ansioso naquela escuridão. Me senti prepotente e inútil recebendo coodernadas de um gato falante.

                

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