¨t h i r t y - s i x¨

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Sentiu uma das mãos da Senhora Rubi tocar seu ombro de maneira encorajadora.
— Não se preocupe, querido. Isso será um passo em direção à vitória. — sua voz era suave, calmante e persuasiva, tudo ao mesmo tempo.

— Por que eu? — Kallien perguntou e se sentiu uma criança petulante.

Rexta correu o braço por seus ombros e se abaixou até ficar da altura do rapaz sentado na cadeira. Com a mão livre, pegou o queixo do garoto e virou para que ele a encarasse. A mulher se aproximou ainda mais até que os olhos de ambos estivessem conectados, até que os lábios cor de carmim dela quase se encostassem nos dele.

— Porque você, sem dúvidas, é o melhor deles. — ela disse num sussurro  convincente.
Bem no seu âmago, Kallien sabia que aquelas palavras eram meros artifícios de persuasão. Aquele era um dos joguetes preferidos dos deorum.

Ainda assim, quanto mais tentava se prender naquele fato, quanto mais ele tentava não se deixar ser encabulado, mais o Escolhido falhava deixando as palavras ecoarem para seu interior.

Eram como um ar contaminado que entrava por seus poros e rapidamente se espalhava, procurando uma articulação, um músculo, um órgão para se alojar. Quanto mais Kallien tentava se manter fiel a si mesmo, mais as palavras retumbavam ao criar garras se encravando em cada célula até que ele fosse um simples espectador de suas próprias ações. Até que estivesse estufando minimamente o peito em orgulho e tendo seu ego acariciado com fervor.

Até que acreditasse que era, de fato, o melhor.

Kallien se virou novamente para o recipiente quando a Governante se levantou dando o espaço que o garoto precisava agora que a mulher já tinha as garras presas bem firmes em seu ser.

O Escolhido de Fortuna respirou fundo antes de estender as mãos para girar a tampa. A cada balançar da pequena garrafa, o líquido adquiria uma cor diferente. Ao virar o vidro nos lábios, o líquido era de um tom de vermelho bem vivo.

A última gota escorregou em sua língua direto para a garganta e o rapaz voltou a pôr a garrafa na mesa.

Não sentiu nada de anormal até levantar-se para anunciar sua ida até Corinna agora que havia cumprido sua parte do acordo.

Estava na metade do caminho da porta e as palavras estavam prontas para deixarem sua boca no momento em que suas pernas falharam.

Então, sua visão.

E, por fim, sua consciência.

O Governante Esmeralda tinha feito planos de checar Corinna assim que o confronto terminasse, mas seu adorável pai tinha outros planos. Marjorie, ao menos,  lhe deu um aceno de cabeça com a intenção de tranquilizá-lo.

Athlin estava em pé enquanto tiravam medidas do seu torso. Não podia reclamar do período que passara ali naquela posição; suas medidas não eram tão diferentes da última vez. Já seu pai tinha que passar pelo processo completo sempre. Um fato que não era nem um pouco surpreendente devido à robustez incessante do ex-Governante.

Auremio, ironicamente, discursava sobre a importância da aparência para uma posição de poder.

Há pouco tempo, o filho prestaria atenção em cada palavra do pai.

Se exercitaria até as pernas e os braços fraquejarem de cansaço. Cortaria os cabelos curtos como o do pai e adotaria a expressão de desprezo permanente dele.

Porém, quando notou que, mesmo que devastasse o mundo com um mero gesto das mãos, não teria o devido reconhecimento do progenitor, parou de tentar.

Hearts of Sapphire (2024)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora