¨t w e n t y - f o u r¨

254 23 23
                                    

—Suas técnicas de evasão são péssimas.

A voz de Theodor ecoou na enfermaria. O Governante passou um algodão embebido em álcool e entregou para o Escolhido.

—Sério? Você é tão observador. Isso é algo que ensinam junto com a magia?—Conall pressionou o algodão contra o ferimento no supercílio, fazendo uma careta.

—Apesar da sua ironia infame, sim, somos ensinados a observar desde criança.

O algodão não demorou muito para absorver o sangue que escorria da testa do garoto.

—Não seria mais fácil se você apenas me curasse, cara? Isso aqui está ardendo como o inferno.

Um pequeno sorriso se formou no canto dos lábios de Theo enquanto ele entregava um novo algodão a Conall.

—Seria bem mais fácil. E evitaria que eu tivesse que ouvir a sua falação covarde e cheia de frescura. Porém, você não aprenderia nada com isso.—Conall franziu a testa e o deorum continuou.—É o claro exemplo de males que vêm para o bem. Esses ferimentos podem parecer apenas uma simbolização das falhas que você cometeu nesse combate, mas amanhã, quando começar aquela coceira da cicatrização, eles se tornarão lembretes. Lembretes que você, apesar de tudo,—apesar das falhas—venceu um obstáculo. Que você aprendeu o que estava fazendo de errado e, da próxima vez que for entrar em combate, vai se lembrar dessa ardência de hoje e fará de tudo para que não aconteça de novo.

Conall pressionou os lábios.

—Discurso bonito. Seu pai que fez quando você furou seu dedo numa agulha?—o menino zombou.

Theodor riu.

—Foi ele sim. Mas, em vez de um corte de faca, eu tinha uma adaga enfiada no ombro e um pedaço de carne faltando. Agora, pare de ficar choramingando e termine logo isso.

O Governante deu as costas saindo pela porta.

Conall respirou fundo.

Não era nada fácil controlar a magia e ele estava aprendendo aquilo do jeito mais complicado.

Havia ficado como um louco doente na noite anterior ao combate se cortando e observando o processo de cicatrização.

Como o seu corpo reagia. Como ele sentia quando tudo estava acontecendo.

Precisava achar a válvula para retardar o processo e com muito custo havia conseguido.

Mas ainda requeria muito esforço, principalmente naquele momento em que estava fisicamente esgotado pela luta.

Então, aquelas poucas palavras trocadas com Theodore foram o teste final.

Manter os ferimentos abertos —sangrando—e fazer com que palavras continuassem saindo da sua boca... era como andar num desfiladeiro com uma venda.

Havia conseguido, no entanto.

Dominar a luta e dominar a si mesmo, por ora.

Um dia vencido, afinal de contas.

A canção ecoava no cômodo. Crescendo. Crescendo. Crescendo até o teto.

Thisbe e Clyne observavam Conway tocando o piano, como não fazia há muito tempo.

Ambas não tinham muita afeição uma pela outra, mas tinham igual estima pelo homem que praticamente se fundia ao piano.

Conway sempre teve esse poder. De fazer as pessoas o estimarem apenas com um olhar. Quererem estar ao seu lado sem que ele pedisse.

Era tanto sua benção, como sua maldição.

Hearts of Sapphire (2024)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora