A epifania de Emily Clark.

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“Cura e paciência são amantes
Não coloque a culpa em seu coração apenas para que eles calem a boca
Não há pressa para se recuperar
Porque é mais fácil falar do que fazer.”

Depois que o Shawn foi embora eu pude sentir as lágrimas irromper como uma represa aberta, as últimas palavras dele ainda ecoava na minha mente se misturando com o olhar de decepção, eu só conseguia me sentir péssima. Normalmente eu estava acostumada a engolir o choro e seguir em frente, nunca deixar que as pessoas vissem minhas fraquezas e jamais desabar em frente a elas foi uma das poucas lições que eu aprendi com o meu pai. Mas não hoje. Hoje eu apenas deixaria que toda aquela dor e culpa se esvaísse do meu corpo.

Ainda com o rosto molhado, agarrei meu casaco e a minha bolsa e bati a porta do apartamento. A noite estava fria e úmida em Toronto, por isso apressei os passos até o metrô que não ficava tão longe do meu bairro,me sentindo mais solitária do que nunca. Acomodei o meu corpo num banco próximo a janela e deixei a minha cabeça escorar no vidro molhado, apenas existindo em meio do caos da cidade grande, de alguma forma todo aquele barulho externo parecia calar o interno e, por hora, isso me bastava.

Pouco menos de uma hora depois, eu abandonei o vagão do metrô naquela estação tão conhecida por mim, a sensação de estar de volta ao começo era nostálgica. O trajeto até a velha casa de porta vermelha era curto, o meu rosto parecia congelado e as lágrimas secas e marcadas o deixou pegajoso. Bloqueei todo e qualquer pensamento, apenas observando as ruas e casas modificadas que fez a minha infância, eu ainda podia amar aquela pequena cidade.

Paguei a corrida e desci do carro observando até que ele dobrasse na saída da rua e desaparecesse, eu não sabia bem o que fazer agora que tinha chegado, sequer planejei o que diria ou a minha explicação para estar ali aquela hora da noite e com o rosto inchado. Encarei a casa amarela do outro lado da rua, me sentindo triste e com o coração apertado, o telhado alto próximo a janela fechada e coberta por cortinas me fazendo lembrar da última vez que eu estive lá, parecia que tinha sido a uma vida atrás. Apertei a alça da minha bolsa sentindo os meus olhos embaçando e me virei em direção a minha antiga casa, mas antes mesmo que eu conseguisse tocar a campainha, a porta foi aberta e o olhar acolhedor da dona Anna fez os meus ombros se encolherem e eu senti o choro voltando com tudo.

– Oh querida. – ela sussurrou assim que eu me joguei em seus braços, deixando que os soluços altos saíssem descontrolados. – Está tudo bem, você está em casa agora.

– Acabou vovó, acabou tudo. – eu me agarrei a ela como se dependesse daquilo para não desabar no chão. Suas mãos acariciando minhas costas num gesto de conforto aos poucos foi me acalmando.

– Sente-se aqui, eu vou buscar um copo com água para você. – ela me guiou até o sofá e desapareceu no caminho para a cozinha.

Enxuguei o rosto com o dorso da mão esquerda me sentindo uma criança idiota correndo para os braços da vovó depois de se machucar numa brincadeira em que desde o começo ela tinha sido alertada que acabaria mal. Afastei os pensamentos assim que a vi voltar com o copo de água.

– Aqui, você vai se sentir melhor. – concordei bebendo longos goles e deixando o líquido frio refrescar minha garganta, matando a sede que eu nem tinha notado estar sentindo.

– Eu contei a verdade para o Shawn. – soltei de uma vez, deixando o meu olhar preso num ponto morto. – Contei tudo.

– Foi muito ruim?

– Foi horrível, ele ficou tão decepcionado e magoado comigo, eu acho que o perdi para sempre, vovó.

– Não querida, para sempre é uma eternidade, o Shawn só está ferido e precisa de um tempo para assimilar tudo, mas as coisas vão se ajeitar, eu prometo. – assenti deitando a minha cabeça em seu colo e deixando que seus dedos fizesse um carinho gostoso nos meus fios. Chorei baixinho até finalmente me acalmar e deixei que todo o cansaço pesasse, me focando na minha respiração lenta e amolecendo o meu físico,afundando mais no estofado macio do sofá.

Fallin' All in YouWhere stories live. Discover now