Terapia do plástico bolha.

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“Gente demais vivendo num mundo secreto
Enquanto encenam os papéis de mães e pais
Brincamos de garotinhos e garotinhas
Quando faremos isso funcionar?
Eu poderia ser feliz
Poderia ser bem ingênuo
Somos apenas eu e minha sombra
Felizes em nosso faz-de-contas…”

Não é curioso como as pessoas só precisam de suas próprias imaginações para julgar umas às outras? Veja bem, você olha para uma pessoa, visualiza sua postura, observa seu modo de falar, gesticular e agir e pronto; isso já é o suficiente para formar seu senso crítico a respeito dela. Vocês sequer precisam trocar uma única palavra, pois sua imaginação já se encarregou de analisar, julgar e sentenciar o outro.

Foi o que fizeram comigo.

No momento em que eu vi fotos minhas ao lado do Shawn circulando na internet, eu soube o que viria a seguir, eu só não estava preparada para tamanha crueldade em palavras. Coisas como “vagabunda” “interesseira" e “feia” se tornavam adjetivos pequenos perto do sentimento de injustiça e insegurança que eu sentia. Não que eu não pudesse ouvir críticas ou ter pessoas que não gostasse de mim, mas eu preferiria que elas tivessem motivos reais para me odiar e não apenas o fato de eu estar andando na rua ao lado do ídolo delas. Isso não era justo. Nem comigo nem com ele.

Shawn provavelmente viu as mensagens, pois um pedido de desculpas seu ascendeu na tela do meu celular, e embora não fosse culpa dele, também não era minha, por isso escolhi não responder no calor do momento. Eu não vou ser hipócrita e dizer que eram apenas comentários negativos, tinham várias mensagens adoráveis nas minhas fotos, aliás, essas vinham se repetindo há um tempo, o que me colocava sorriso nos lábios. No entanto, é sempre a maldade que nos afeta, e talvez eu não tenha maturidade suficiente para lidar com tudo isso. Por isso recorri a desabilitação dos comentários nas minhas fotos, seria o melhor por agora.

“Lily, me desculpa por elas, eu nem sei o que te dizer.”

“Me sinto envergonhado e culpado por te fazer passar por essa situação.”

“Eu prometo que isso vai passar, uma hora elas vão se acostumar com você.”

As mensagens de espreitavam na barra de notificações do meu celular, mas eu não estava pronta para responder. Toda essa onda de ódio me trouxe uma insegurança que eu não achei ser capaz de sentir antes, era mais fácil pensar que eu só teria que lidar com a imprensa e fotos minhas circulando por aí, mas pensar que tinham várias garotas me odiando pelo mundo sem saber nada a meu respeito, era assustador. Nada tinha me preparado para isso, e eu me sentia de volta ao tempo em que constantemente precisava me provar.

Eu estava com medo. Medo do julgamento, das críticas e dos esqueletos no armário. Por isso corri como uma criança assustada para os braços de quem melhor me protegeria.

“Alô?” – a voz doce soou do outro lado da linha e instantaneamente eu me senti segura.

– Oi vovó, sou eu, Emily.

“Oi querida, que saudades de você.” – ela parecia empolgada em ouvir minha voz. – “Está tudo bem por aí?” – o nó na minha garganta estava cada vez mais dolorido, o tom acolhedor da dona Anna só piorava tudo e por um momento eu cogitei contar tudo para ela, mas essa não era uma conversa para se ter por telefone, eu não queria preocupar a velhinha. Por isso, engoli toda a vontade de chorar e respirei fundo antes de responder.

– Sim vó, está tudo bem por aqui.

“Ema, está tudo bem mesmo? Sua voz parece triste, amor.”

– Bobagem, é só uma gripe que está querendo me pegar mais o excesso de trabalho.

“Certo, e isso não tem nada a ver com as fotos que eu vi na internet de você com o Shawn, não é?” – velhinha esperta.

Fallin' All in YouWhere stories live. Discover now