DNF

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Acordei um pouco mais cedo que de costume no sábado. Passei alguns minutos na cama checando as notificações do meu celular – incluindo as mensagens de boa sorte das minhas amigas e as fotos que elas mandaram em nosso grupo das roupas que vestiriam para virem me ver correr. Eu as agradeci mas não me estendi muito, arrumei coragem e levantei para dar início à minha rotina. Antes de começar, porém, fiz o sinal da cruz no peito e desejei do fundo do coração que aquele fosse um bom dia. Não era costume meu ser tão religiosa, mas aquela ocasião pedia.

Tomei café, treinei e aproveitei para acompanhar o classificatório da Fórmula 1 enquanto aguardávamos nossa vez. A dupla da McLaren estava se saindo bem no Q2 quando Alex, o meu engenheiro, me chamou.

— Oi, Alex. — Ele parecia sério — Está tudo bem?

— Não.

— O quê? O que aconteceu?

— Estamos preparando tudo para a primeira corrida e detectamos um funcionamento anormal do seu carro.

Fiquei boquiaberta, mas de forma negativa.

— Alex...

Ele ergueu uma mão para que eu ficasse calma e esperasse.

— Calma. Vamos descobrir o que há de errado e tentar resolver, OK? Você vai conseguir largar.

— Tudo bem, eu confio em vocês.

— Jessica, eu sei o quanto você está preocupada e ansiosa pra correr aqui. Eu entendo que é um lugar importante pra você. Mas não pense que, caso as coisas não aconteçam como planeja, seja algo negativo pra você ou sua carreira. Tudo, absolutamente tudo que vivenciamos aqui, principalmente você,  pra você que é piloto, é um aprendizado. E faz parte da vida e desse esporte que as coisas deem errado. Confio em você, garota. Do fundo do meu coração. Mas acredite que vamos fazer de tudo pra que esse fim de semana seja bom.

— Obrigada, Alex. Vocês são maravilhosos.

— Somos uma equipe.

Ele afagou meu ombro antes de sair. Levantei o olhar e vi que Daniel estava ali, com seu macacão de corrida. Ele deu um sorriso fraco e se aproximou de mim.

— Você ouviu?

Danny assentiu com a cabeça.

— Máquinas falham de vez em quando — Ele disse — O pessoal vai resolver isso.

Olhei para a minha mão quando senti um toque nela; Daniel havia pego-a e estava segurando-a. Voltei o meu olhar para o rosto dele e fiz que sim com a cabeça, respirando fundo quando ele me puxou para um abraço.

— Vem, vamos ter que ir pra pista daqui a pouco.

Dei um sorriso fraco para ele e o segui. Eu precisava pensar positivo. Poderia dar certo.

Mas não daria. Não naquele dia.

Meu carro simplesmente morreu na hora da largada. Eu estava tão concentrada em sair na frente que levei alguns milésimos de segundos para notar que eu estava parada e que o resto dos pilotos tinha saído. Levei minhas mãos ao capacete, já que não podia alcançar o meu rosto, e observei enquanto as luzes acima de nós sinalizavam para que os outros fizessem mais uma volta de apresentação.

Eu era a personificação da decepção naquele momento. Sabia que não teria jeito de resolver o problema do meu carro naquele dia, então só me restava recolher para os boxes e assistir a prova de lá. Todo mundo sabia o quanto vencer em casa era importante para mim, mas eu entendia que haviam se esforçado para resolver o problema. Retribui os sorrisos de "sinto muito" que recebi enquanto passava pelos boxes e fui para a sala de preparação onde minhas coisas estavam. Respirei, bebi água, troquei minhas roupas e alguns minutos depois voltei para assistir o resto da prova.

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⏰ Last updated: Aug 22, 2020 ⏰

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Brava AlmaWhere stories live. Discover now