Motorhome

299 15 1
                                    

Aquele ringtone irritante do iPhone me despertou com um susto. Minha primeira reação foi levantar em um pulo, com o coração na boca, até que eu percebesse que o som era apenas o meu celular tocando. Tateei pelo lençol sobre a cama até encontrá-lo e esfreguei os olhos, semicerrados e irritados com a luz, então passei a mão pelo rosto e atendi a chamada antes que o telefone continuasse a tocar.

Jess?

Era Joanne, minha irmã mais velha.

Hmmm... — Foi tudo que eu consegui murmurar.

Você acabou de acordar?

Mais ou menos... — Respirei fundo por alguns segundos e limpei a garganta — O que aconteceu pra ligar tão cedo num sábado?

Jess, são 11h da manhã. Definitivamente não é cedo. E desculpa te acordar, à propósito. É que eu e o Christian... olha, não recebemos uma das melhores notícias agora. Vamos visitar a mãe dele, ela foi parar na emergência. Queria saber se você pode ficar com as crianças por algumas horas.

Claro que posso, Jo. Você tá vindo pra cá? Preciso só expulsar alguém daqui antes.

Eu disse enquanto me sentava na cama.

Espera, tá com alguém na sua casa? É um cara?

É o Daniel. E dá pra parar de sorrir? Eu estou sentindo que você acabou de dar um sorriso muito malicioso.

É, eu dei sim. Vou desligar, Jessie. Nos vemos em alguns minutos. Até mais.

Até...

A chamada foi encerrada. Eu olhei para a tela do meu celular só para conferir a hora e o bloqueei em seguida. Eu estava com tanto sono que mal conseguia pensar com clareza; não me lembrava nem à que horas havia chegado em casa na noite anterior, a única coisa da qual eu tinha certeza é que a opção de voltar a dormir estava sendo altamente considerada por mim.

Mas minha irmã e meus sobrinhos estavam vindo para a minha casa.

Respirei fundo, tomei coragem e levantei da cama em um pulo. Puxei a barra do short que vestia e estava apertando minha cintura para ajeitá-la enquanto caminhava até o espelho grande que estava na parede oposta à minha cama.

— Ai meu Deus.

Eu me assustei. Só não sabia se tinha sido com o reflexo da pessoa acabada que estava a observar no espelho, ou com o som da porta do cômodo sendo aberta. 

Quem apareceu foi o mesmo saco de batatas de 1,80m e 60 e tantos quilos que eu havia carregado para dentro de casa naquela madrugada, bêbado e parcialmente inconsciente. Mas para a minha surpresa, ele estava visivelmente bem. A postura estava ereta, o rosto estava limpo e os cabelos molhados; seus olhos escuros brilhavam e os seus lábios cheios estavam esticados em um sorriso muito gostoso de se ver pela manhã. 

Daniel estava ótimo, com exceção das suas roupas, as mesmas que ele havia vestido na noite passada; a camiseta branca por baixo da camisa xadrez com listras em preto e vermelho e a calça skinny preta – e que ainda cheiravam à fumaça de alguma coisa e vodka. Além disso, ele estava carregando um prato com um sanduíche de pão integral e um copo de suco que me pareceu fresco. A visão do lanche despertou o meu estômago de tal forma que me fez levar a mão à barriga para tentar conter uma roncada daquelas, mas Danny não percebeu. 

— Bom dia, Bela Adormecida. — Ele riu — Achei que estivesse em coma, sabia? Tentei te acordar, mas você estava apagada.

— É sério?

Brava AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora