Manama

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A etapa do Bahrein era a primeira do calendário da Fórmula 2 e apenas a segunda no calendário da Fórmula 1, que já havia passado antes pela Austrália. 

Nas corridas nas quais compartilhávamos o mesmo autódromo, dividíamos também os mesmos espaços – ou a maior parte deles. Os pilotos da F-2 que tinham algum vínculo com as equipes da F-1 compartilhavam seu tempo entre a sua equipe de fato e a equipe à qual também eram subordinados, como membros da academia ou pilotos de desenvolvimento, o que era o meu caso: além de piloto da Fasciano, uma equipe inglesa da F2, eu também fazia parte da academia de desenvolvimento de pilotos da McLaren há um bom tempo, desde que fora descoberta por eles quando ainda andava de kart. Era em Woking que morava a minha chance de ir para a maior categoria do automobilismo de todas, mas era aqui, e neste momento, que eu precisava trabalhar para conseguir a chance com a qual tanto sonhava.

Daniel também não estava sozinho; além da influência que já tinha no meio por ser filho de um bicampeão da Fórmula 1, o brasileiro Maurício Müller, ele também fazia parte da academia da Red Bull, a melhor em descobrir e lançar talentos prodígios para o mundo como Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e Max Verstappen. Isso explicava porque, apesar de fazermos parte da mesma equipe, eu e Danny tínhamos algumas diferenças: meu carro e meu uniforme eram vermelho e branco, as cores da equipe; já os dele, azul-marinho com detalhes em vermelho e a logo da Red Bull em todo canto, incluindo as camisas, dos bonés e até as garrafinhas. Para alcançar grandes lugares no automobilismo, você precisava ter muito dinheiro, ou pelo menos, um padrinho. Danny tinha os dois.

Nós dois éramos recém-chegados, mas já estávamos acostumados com aquela pequena e adorável bagunça que também tinha sido a nossa realidade na GP3. E, honestamente, eu não fazia ideia de como conseguíamos conciliar três categorias no mesmo ambiente com tanta gente. No caso das categorias de base, nós éramos os itinerantes, "alugávamos" parte dos espaços das equipes de Fórmula 1 e dávamos nosso jeito. Bem, era divertido. O contato próximo só estimulava nossa sede por vitórias e pelo sucesso, almejando estar ali, na mesma posição de nossos ídolos e das maiores inspirações no esporte.

O Bahrein é um país pequeno, que fica no no Golfo Pérsico, próximo do Qatar, na Arábia Saudita, bem na região onde todos sempre lembram dos estereótipos de deserto, prédios gigantes e ultramodernos e muita gente rica. Bem, o estereótipo não era de todo irreal; eu me sentia essencialmente sem grana quando estava naquele lugar, mas não conseguia deixar de me encantar também. O autódromo se localizava em Sakhir, próximo à capital Manama, e foi o primeiro de todo o Oriente Médio. 

O circuito era legal. Tinha elevações consideráveis, quinze curvas sinuosas e o segundo traçado mais longo do calendário, perdendo só para Spa-Francorchamps, uma das melhores pistas do mundo inteiro. As provas ali costumavam ser divertidas, especialmente as da Fórmula 1. Eu mal podia esperar pela minha primeira vez ali.

Meu primeiro encontro com meu novo carro em semanas foi apaixonante. Eu gostava das cores, mas principalmente do estilo, ligeiramente parecido com um Fórmula 1, em comparação com outras categorias, visando primordialmente a nossa adaptação. O motor era um turbo de 3,4 litros e os sistemas eletrônicos também tinham sido planejados para se parecerem ao máximo com o da categoria principal, principalmente os sistemas de energia, o DRS e o safety car virtual.

— Ansiosa para estreá-lo?

Eu me virei e sorri ao reconhecer de quem era a voz que tinha me pego de surpresa. Aquele era Alex Meadows, meu engenheiro. Alex era inglês e, particularmente, havia gostado muito de trabalhar comigo na preparação para a temporada; juntos, havíamos conseguido desenvolver o meu equipamento da melhor maneira possível e aprender bastante com ele também – eu suspeitava que aquele carro tinha um pouco de vida, mas achava que seria fácil fazer amizade com ele. Pelo bom trabalho na pré-temporada, nós esperávamos ter um excelente ano. Claro que de início, Alex fora pego de surpresa ao ver que trabalharia com uma mulher, mas fiquei feliz em ver o quão cabeça-aberta com essa parte ele foi, o que tornou nosso relacionamento muito mais amistoso e agradável. E isso renderia frutos.

Brava AlmaWhere stories live. Discover now