Expectativa

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Eu estava muito ansiosa esperando por aquele final de semana, em meados de Julho. Seria a minha primeira vez em Silverstone com um carro da Fórmula 2. Aquele lugar era especial em todos os sentidos. Era o meu quintal, o principal circuito de automobilismo da Inglaterra e o berço da Fórmula 1, que nasceu ali há mais de 60 anos, em um 13 de maio. 

Foi ali que tive meu primeiro contato com automobilismo, no início da minha infância, quando meu pai começou a levar James e eu para assistir a prova da Fórmula 1 e as corridas de outras categorias. Minha irmã preferia ficar em casa com nossa mãe. Quando comecei a assistir as corridas com meu pai, in loco ou pela televisão, eu fiquei fissurada. Meu pai achou graça, era legal ver sua garotinha apaixonada por um esporte como o automobilismo, mas no fundo, ele e minha mãe pensavam que era coisa de momento, ou que eu me limitaria a ser uma fã. Não demorou para que eu estivesse dentro de um kart, competindo, vencendo e surpreendendo por ser, na maioria das ocasiões, a única menina presente entre os pilotos mais rápidos. Nem eu apostaria nisso.

Estar no mesmo local em que a categoria mais fascinante do mundo tinha surgido era quase como pisar em um solo sagrado. Eu amava Silverstone. Além disso, um dos pilotos que eu mais admirava – e meu conterrâneo –, Lewis Hamilton, era o maior vencedor do circuito, com cinco vitórias. E agora que eu estava ali, não nas arquibancadas, mas na pista, eu mal podia esperar o momento em que eu ultrapassaria o recorde dele, mais cedo ou mais tarde.

Por Silverstone ser o "quintal" das equipes de F-1 que surgiram na Inglaterra, aquele grande prêmio também era uma ocasião especial para times como a Williams e a McLaren, escuderia da qual eu era piloto de desenvolvimento. Por isso, minha semana seria cheia. Eu estava aliviada por não ter que passar horas enfurnada em um avião, então o descanso seria útil para que eu tivesse mais disposição para tudo que tivesse que fazer naquele fim de semana.

— Pronta para os testes?

James Browning me entregou uma caneca de café na entrada do motorhome da McLaren, onde eu estava esperando por ele. Começamos a caminhar pelo espaço, observando a movimentação dos funcionários das equipes de Fórmula 1 e também das equipes da F3 e da F2, além dos fotógrafos e dos jornalistas. De longe, conseguíamos ver alguns pilotos da F1 também. Era um pouco inquietante estar perto de pessoas tão famosas e pensar que, em breve, estaríamos todos no mesmo patamar.

— Não faz ideia de como eu tô preparada e ansiosa pra esse fim de semana, James.

— Competir em casa tem um gostinho especial, né?

— Com certeza. Tipo, com exceção da atenção dada à Fórmula 1, é lógico, eu sinto que todos os olhos estão sobre mim. 

— Ah, isso é uma certeza. Não é sempre que vemos uma garota postulante ao título da maior categoria de base do automobilismo andando por ai. 

— Bem, e a sua experiência trabalhando com a Fasciano, como tem ido?

— É um sonho. Eu acho que só vou viver coisa melhor se conseguir um emprego na Fórmula 1. — James sorriu e eu o acompanhei — Eu tenho aprendido muita coisa. Me formei em Cambridge, e você sabe, foi bem puxado, mas parece que eu ainda tenho muito mais o que aprender aqui, vivenciando o esporte de verdade, e não na teoria. Eu estava planejando apostar em uma pós-graduação que me ajudasse a conseguir um espaço na F1, mas isso aqui vale mais do que qualquer diploma. Sou muito agradecido pela oportunidade que a Fasciano me deu.

— Seu trabalho é incrível. E você é muito inteligente, eu fico realmente impressionada com tudo. Comecei a estudar Engenharia Mecânica, só que em uma universidade um pouco mais modesta que Cambridge. — Nós dois rimos — Então, eu entendo bastante dessa parte, mas não seria capaz de, sei lá, montar um carro do nada. Não como você.

Brava AlmaWhere stories live. Discover now