PALAVRAS INFINITAS NUM ITALIANO FAJUTO

77 24 10
                                    

não penso que, algum dia, tenha batido educadamente antes de entrar. você se esticou através das beiras pesadas de madeira e invadiu meu espaço pessoal. e eu prefiro que tenha sido assim.

porque, como eu poderia ter feito qualquer outra coisa que não estrondosa em relação a tudo que sempre representamos? é fácil e sucinto implodir sua condição megalomaníaca de frases cursivas e infinitas, vestidos italianos e a chance gigantesca de tudo dar completamente errado. mas poderia ser? vir a calhar? superstições agridoces e vocábulos estúpidos e eu ainda acho que te quebraria ao meio com meu amor nada platônico. quando penso nessa realidade espanhola, minhas mãos tremem pela possibilidade inerente do mito intocável, o beijo de midas que nunca depositei no meio da sua língua rosada. ou o toque íntimo, ferro de passar entre coxias e coxas. 

às vezes, me pego pensando se você perceberia caso eu levantasse um palmo das cortinas. 

sei a pretensão das coisas, a ideia retroativa de bebês sumindo em manjedouras assim como a inocência do seu coração pedra-sabão-escorregando-pelas-beiras-do-meu-amor. todos os anjos acenam penosos na direção da sua silhueta, temendo que seu lugar no céu esteja ameaçado pela ideia do que você poderia ter comigo, bem abaixo da terra, quente, gêiser de fogo, carne primal, sussurros espirituais do inferno, um palácio de caminhos gritantes.

eu tentei. juro que tentei te jogar pra longe, esquecer a chatice da memória fotográfica, do grito no escuro da alma que floresce de cima para baixo, raízes firmes na terra sangrenta e sementes bocudas com dentes tão grandes quanto a mordida que você nunca me deu, mas tanto ansiou. outrora minhas palavras continuem escorregar infinitamente pela sua traqueia apertada, desejo que saiba que a amo profundamente.

você chega um pouco mais perto do "h" em letra de forma escondido no cursivo de armadilha e se pendura pelas beiras, agarrando os destroços do que sempre fui, com esse brusco movimento, consigo finalmente te dizer que nunca fui metade do que sonhou de mim, nessa efêmera passagem de paixões e amores verdadeiros.

portanto, sei que, apesar de qualquer coisa que eu diga, de um jeito brasileiro o suficiente para sua sevilha destruída, nada vai tirar os gomos florais mastigados precoce da boca, então sei que nunca poderei te soprar pra longe.

peachuuves

a resposta que nunca te dei por medo de perder o pouco que tenho de você. por favor, não se aborreça, porque amor é amor, não importa de qual tipo.

‒ seu bebê roubado da manjedoura. ♡

BLO(W)SSOMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora