SOLÁRIO AMANTEIGADO

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eu sabia, potencialmente, coberta de montes caprichosos de açúcar, que a doçura da sua alma salpicaria estrelas de manteiga por todas as minhas cicatrizes-fantasma. porque, quando somos assim, casas silenciosas, tábuas fora do lugar, o universo espacial da ambientação natural tremelica através das portas vintage e maçã. aquele piquenique ainda me arranca muitas questões veranis sobre a tristeza e a vontade de perversão desmedidas.

queria que você tivesse me salvado antes do rapto grosseiro da via-láctea.

não gosto do que o mundo real faz com pessoas como eu.

quando suas sapatilhas azuis apareceram no batente da janela, a espiação generalizada dos meus cincos sentidos: bolinhas pequenas e gulosas de ansiedade do abandono visitaram os fantasmas mudos do sótão e do resto do que sobrou do porão ‒ porque, depois de tantos anos tentando passar para o outro lado, haveria autodestruição. é o que acontece com quem busca felicidade como único alvo ‒, quando a dança deslizante pelos ossos deixava um anseio festivo, aquela vontade hiperativa de saltar pelos vácuos risonhos do seu coração sem a potencialidade dos hematomas e a coloração sufocante das suas bochechas nas minhas.

quero o que é doce e sutil, quero o sol na boca e aquele vento sombrio me visitando quando a doçura solitária acaba e somos obrigados a dividir um pedaço de torta de morango com nossos vizinhos de tristeza e vazio; de solidão e violência; de ódio e amor.

o que você diria? alguma coisa podia mudar? fantasmas em decomposição compartilhada não podem representar mais a loucura particular de um corpo que decaiu dos braços de Deus.

quando sua bochecha se encosta na minha mais uma vez, o cheiro amanteigado da sua alma engole as cinzas solares espalhadas na minha barriga e eu consigo tirar um cochilo pós-piquenique. 

htmcutie

sempre imaginei o cheiro da sua alma algo como manteiga e o sorriso de um céu ensolarado. vamos a um piquenique? 

‒ da sua comilona, que mastiga com o espírito. ♡

BLO(W)SSOMWhere stories live. Discover now