Aos onze anos, depois de Ash falar que havia beijado Calum, o que não me  surpreendeu nem um pouco, e eu passar por toda a situação que eu passei por minha família me julgar ser gay, eu fiquei um tempo sem falar com meu amigo. Fiquei só, me afastei de todos, nem mesmo com minha mãe falava. Me senti péssimo, me senti magoado, sentia que não pertencia ao lugar que vivia, que morreria ali, naquela situação.

Andrew vivia mais bêbado do que sóbrio, Jack só aparecia para criar alguma mentira para nosso pai vir me infernizar, Ben simplesmente decidiu que não queria ficar mais lá e foi morar com a nossa avó. Foi o primeiro.

Minha mãe já estava cada dia mais no limite, cada momento mais distante e mais destruída, acho que ela já não tinha mais pele em que não tivesse hematomas, seja feitos pelo meu pai ou automutilação. Até que um dia, algo foi feito.

Acordei pela manhã e não a vi na cozinha. Fui até o seu quarto, não havia nada. Meu peito já começava a doer por antecipação.

Vi a porta da frente da casa escancarada e já saí correndo. Havia uma confusão armada lá. Ashton com as mãos tremendo, o pai dele saindo de um carro totalmente bêbado, meu pai praticamente em coma alcoólico no chão e minha mãe debaixo de um carro.

Naquele momento eu gritei, eu chorei. Foi tudo demais para mim. Jack apareceu e simplesmente olhou para tudo e pegou nosso pai e jogou ele no sofá. No fim, foi a única vez que o vi ser sensato. Ele foi até o policial que estava ali e foi o responsável pela primeira vez. Agiu como o nosso pai devia agir.

Ashton veio a meu encontro e me abraçou. Sabíamos que seu pai seria preso, que ele se livraria dele, principalmente se disserem como ele era em casa. O homem violento e abusivo que ele era com a família e ver os hematomas nos corpos dos seus familiares.

Mas eu havia acabado de ficar sozinho. Não havia mais nada naquela casa que me fizesse querer ficar. Eu sentia tanta dor naquele momento. A solidão dói, a percepção de que naquele momento, você não tinha mais ninguém, aquilo te mata completamente.

O velório foi simples e só havia Ash e sua mãe, Jack e eu. Nosso pai nem mesmo se sentiu triste, só voltou a beber. Ben, bom, estava viajando e nem comentou nada quando soube da morte de nossa mãe.

Dois meses depois, uma mulher aparece e com uma barriga com provavelmente uns seis meses e se instalou em casa. Dizendo meu pai, eles viveriam ali e teríamos de aceitar.

Nem tínhamos ainda superado a perda da nossa mãe, mas ele simplesmente queria que aceitassemos sua amante e seu filho que estava para nascer dentro de casa.

Na verdade, eu tive que aceitar, Jack foi embora no meio da noite e eu fiquei sozinho lá. No fim, foi como ver um filme se repetindo, a mesma coisa que era com minha mãe, era com Amália, não sei como ela não perdeu a criança.

No fim, Lilly nasceu e a mãe não aguentou depois do parto. Então ficou, eu, um bebê que eu aos meus doze anos de idade devia ter que me virar para cuidar, e meu pai, que depois de tanto tempo bebendo, o corpo começou dar sinais de não aguentar mais.

Era demais para eu poder aguentar.

Não aguentava imaginar que mais uma pessoa viveria aquele inferno e alguém tão inocente. A pressão doía em meu peito, queria saber o que fazer, queria ter uma família diferente, queria poder olhar para aquela menina e dizer a ela que as coisas ficaram bem, mas como eu faria isso, se eu sou o primeiro a não estar bem? Me sinto egoísta, mas queria naquele momento estar morto, não poder fazer nada. Um peso e um vazio tão grande cresceu que eu só me vi pegando os remédios que ainda tinham da minha mãe. Bebi quase todos.

O dia havia sido péssimo, estava cansado, havia apanhado sem motivo, somente por conta de um pai bêbado, tinha uma criança que eu provavelmente mataria por não saber criar, e vozes gritando na minha mente sem parar, eu só via um silêncio depois que ingeri aquilo. Me arrependo até hoje disso.

How to Fix a Broken Heart ~ •Muke• Where stories live. Discover now