Capítulo 14 - As Paredes Ouvem

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Em sua mente, fragmentos de memória flutuavam, mostrando-lhe por partes tudo o que passou, tudo o que fez e as coisas mais importantes que lhe foram ditas. Tudo estava misturado, fora de ordem. Ora ouvia a voz de seu pai, a aconselhando; ora a de Zithar, a tratando super bem quando chegou; então de Raniel, lhe contando a profecia enquanto flutuava; os rugidos estridentes dos Armyasenkis; as armaduras sendo destruídas por golpes poderosos; ou Heilos, contando-lhe que não podia contar com estranhos, que, se duvidar, até as árvores podem revelar os seus segredos mais profundos. Aquela maldita frase ressoou em sua mente, sem querer deixá-la. A atormentando durante o tempo - que mais pareceram horas - em que estivera apagada.

Os olhos de Alisha se abrem. Ela se sente tonta e, por um tempo, vê tudo ao seu redor borrado, até que sua visão começou a se ajustar. Ela não estava mais em uma sala de operações, estava em seu quarto, no castelo de Ophiocus. Pela janela aberta, o vento frio do inverno sem neve da região e a luz do sol entravam aos montes, balançando as cortinas e iluminando o quarto. O relógio cuco, que continuava pendurado em cima da cômoda, mostrava que já havia passado da hora do almoço. Queria pensar por quanto tempo esteve dormindo, mas sentia-se quebrada demais para isso, apenas queria ficar ali, deitada, olhando para o teto, pensando em tudo o que fez e passou.

Se perguntou como chegou ali e como seus amigos estavam, até se descobriu e se sentou no colchão, percebendo estar usando uma das camisolas que Zithar havia lhe dado assim que chegou.

A porta do quarto foi aberta. Marcon entrou olhando para sua prancheta, então, quando viu Alisha sentada na cama, correu até ela e a fez voltar a se deitar com tamanho cuidado que a fez se sentir como uma criança.

- Não levante. Ainda não fiz os últimos exames.

- Marcon, a quanto tempo estou nessa cama? Cadê os outros? Cadê o livro?

- Posso ser sincero?

- Seja!

O curandeiro respirou fundo e sentou-se na beira da cama. Alisha encara seus olhos azuis sem medo.

- Nêmesis estava com as patas quebradas, seus ferimentos eram profundos e estavam infeccionados e queimados por causa do sangue dos Armyasenkis. Kauane estava com o corpo cheio de ferimentos, estava mutilada, me surpreendi ao saber que foi ela quem pegou o livro e jogou o corpo de Sieron por cima da garupa de um cachorro de dois metros. E Sieron, a cura foi tão difícil quanto a de Nêmesis, o rosto estava pura carne e ele havia perdido muito sangue. - Alisha, nervosa, parou de respirar, mantendo todo o ar nos pulmões. Marcon sorriu, a tranquilizando. - Foi difícil, trabalhoso, mas, apesar de tudo, todos passam bem e o livro está de volta ao cofre.

Alisha soltou o ar e deixou que a cabeça caísse no travesseiro. Sem demora, Marcon pediu permissão para lhe tirar a camisola e anasilar como estavam os ferimentos, mas ela recusou, corada e desesperada, se cobrindo até a cabeça para esconder sua vergonha. O curandeiro apenas rio alto, se divertindo com ela, entendendo suas preocupações.

Ele a prometeu, não iria fazer nada nem lhe tirar as roupas, então a desenrolou do lençol e, tendo em mente as partes do corpo em que foi ferida, ele puxava o tecido fino para o lado e analisava. Seus dedos apertavam sua pele com firmeza, entretanto, não deixava de haver certo cuidado em seus movimentos. A cada aperto, ele olhava para a jovem Hyd, que balançava a cabeça para os lados, sinalizando que não sentia dor alguma além dos dedos pressionando seus músculos e nervos. Por isso, ele sorriu e se afastou, anotando algo em sua prancheta e a olhando em seguida.

- A cura foi mais eficaz do que imaginei. Consegue mover as pernas?

- Sim, mas é como se pedras tivessem sido amarradas a elas.

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Onde histórias criam vida. Descubra agora