Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*

Capítulo 9 - Pao e Circo ~ Parte 2

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Após horas, era noite e Alisha finalmente pôde dar um fim a todo o seu esforço. Sentindo todo o corpo doer, ela deixou-se cair no chão, respirando fundo para recuperar o fôlego.

— Foi um treino tão básico que nem os iniciantes precisam fazer. — Alisha franze o cenho, ouvindo as palavras do guerreiro. — Não está tão mal, levante-se.

— Falou o senhor guerreiro, que usa uma espada e luta a anos. Claro que você não vai sentir nada. Pois saiba que estou morta!

Ele começou a rir, Alisha resmungou. Nêmesis se levantou e foi até a garota, lambendo seu rosto, se deliciando com o gosto salgado de seu suor. Quando a língua canina, levemente áspera, moveu-se para as laterais de su cabeça, ela começou a rir, sentindo cosquinha na orelha.

— Para Nêmesis! — ela ria com vontade, tentando se afastar do cachorro avermelhado, que ia atrás dela, lambendo suas orelhas de forma travessa e divertida. — CHEGA!

Alisha tentou parecer séria e enfurecida, entretanto, suas risadas revelavam o quanto se divertia. Heilos permanecia indiferente, entretanto, achava a cena engraçada.

Quando Nêmesis parou, Alisha estava respirando fundo, com ambas as mãos descansando sob a barriga. Heilos sacou a espada e direcionou a lâmina para o escuro enquanto Nêmesis rosnava.

Uma risada alta ecoou estrondosa, o guerreiro revirou os olhos e guardou a lâmina.

— O que vocês fizeram? Nem o cachorro reconheceu vocês.

Eram Sieron e Kauane, ambos estavam sujos. Suas roupas encharcadas de água enlameada e seus cabelos embaraçados, entretanto, a nativa carregava as toras de madeira e o viking possuía dois crocodilos mortos. Sieron sorri aberto e, apesar de estar com o braço ferido, ergueu os cadáveres no ar por suas caudas.

— Vamos assar essas lagartixas!

***

A fogueira estava acesa, queimando a carne e órgãos do segundo crocodilo, para que pudesse ser ingerida no dia seguinte. 

Kauane estava em pé atrás de Sieron, desembaraçando seus fios ruivos e rebeldes enquanto o viking trocava a atadura do braço ferido. Nêmesis estava deitado, se deliciando com a sua parte do jantar; Heilos havia enfiado a espada no chão, amarrando os cavalos a ela, e agora limpava a pele que tirou dos crocodilos; e Alisha massageava as pernas  ainda doloridas.

O silêncio estava incomodando a todos, mas ninguém queria ser o primeiro a puxar conversa, então, Sieron foi o primeiro.

— O que a névoa fez vocês verem?

Heilos, Alisha e Kauane se entreolharam em uma conversa silenciosa, um perguntando ao outro mentalmente se seria o primeiro a falar. Kauane, percebendo que, por enquanto, seus outros companheiros não iriam se pronunciar, resolveu ser aquela que iria dar início a conversa.

— Eu vi minha aldeia, e meu amigo de infância, Ubiratã. Rapaz, que caçador ele era... Uma pena que ficou preso a uma mulher cuja mãe era uma desgraça. — ela ri, mas logo seu sorriso desaparece. — Ele me mostrou o dia em que ele morreu... Tentando me salvar...

— Ele me mostrou uma visão distorcida do meu maior pesadelo. — Heilos, que não queria que sua amiga ficasse presa a aquela lembrança, resolveu contar sua experiência. — Eu nunca vejo quem está lá, eu apenas sinto, e é uma dor horrível. Como se alguém estivesse tirando meu coração lentamente, sem me drogar. — ele olha para Alisha. — E você?

— Desde criança eu tenho sensibilidade o suficiente para ver e interagir com espíritos, isso já me ferrou muitas vezes porque eu via pessoas sem partes do corpo, ou todos ficavam me olhando como se fosse louca. — Ela busca palavras para explicar. — Aquela névoa era controlada por um espírito vagante, e ele levou a minha Essência Vital para uma falsa realidade, um pesadelo, que mataria meu corpo físico e aprisionaria minha alma lá. Quero dizer, não tenho certeza de que seria isso, não conheço ninguém com tal experiência. Mas como eu disse, a névoa era controlada por um espírito vagante, que quando eu consegui o "libertar" de sua prisão, assumiu a forma de um garoto.