Capítulo 13 - Sangue e Suor ~ Parte 1

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Kauane estava tendo um acesso de raiva, jogando no chão tudo o que via pela frente, quebrando estatuetas e outras coisas. Enquanto isso, Nêmesis permanecia deitado em um canto, aparentemente chateado, ao mesmo tempo em que Sieron descontava sua raiva e tristeza na comida, acabando com os suprimentos da equipe. Horas podiam ter se passado, todos podiam estar no templo, mas Alisha ainda estava agoniada, cheia de ódio, caminhando de um lado para o outro e falando sozinha.

— Por que vocês recuaram? Por que deixaram ele lá? Por que estamos aqui ainda?! — Alisha esbraveja, balançando os braços de ansiedade. — Não podemos deixá-lo pra trás! Vocês estão me ouvindo?!

— Claro que estamos, não somos surdos. — Sieron responde. Sua voz estava abafada, afinal, sua boca estava repleta de frutas. — Nós vamos ir atrás dele, trazê-lo de volta. Mas tenho de esperar a Kauane terminar de destruir tudo, ou ela me mata.

Alisha bufou enfezada, indo para outro cômodo, procurando afastar-se dos outros. Ela passou pela lareira acesa, percebendo de rabo de olho que não restara nada do homem que selou seus poderes, então, se dirigiu a estátua. Ela queria falar com Maharpayã, de alguma forma, entrar em contato com ele, no entanto, não fazia ideia de como começar uma oração. Sentia-se tão tola por estar recorrendo a um ser superior, que provavelmente havia problemas maiores para resolver, mas mesmo assim, olhou diretamente para os olhos da serpente de pedra. A garota passou a falar com a estátua, desabafando tudo o que sentia, sem se importar se ele estaria ouvindo ou não, se realmente existia ou não. Ela apenas queria alguém com quem compartilhar todo o sentimento de culpa e tolice que veio se acumulando em seu interior durante esses três meses em Daechya.

Enquanto compartilhava seus sentimentos e preocupações em relação a Daechya e Hydarth, ela fazia uma trança no cabelo para se distrair. Mas sua conversa, que mais parecia um monólogo, logo foi interrompido pelos passos pesados e apressados de Sieron, que estava armado, seguindo Kauane para a saída.

— Esperem! — a Hyd grita, deixando tudo de lado e indo atrás deles. — Vocês não podem ir sozinhos e sem um plano! Vamos juntos!

— Não.

Foi Kauane quem lhe respondeu com firmeza, parando de andar e olhando para a garota.

— Você não vai. Alisha, aquilo foi a gota d'água. Se você não tivesse feito o maldito acordo, teríamos saído de lá juntos e com o livro! Por isso, você não irá.

—Mas...

— Economize sua saliva. Já está decidido.

Alisha respirou fundo, contenndo as lágrimas e deixando os ombros descansarem. Sieron, nada fala, concordando silenciosamente com a nativa Hyd. Kauane ordenou que Nêmesks ficasse no templo, cuidando da adolescente, para que não tentasse sair. Então, a dupla montou em suas respectivas montarias e saíram cavalgando pela neve, os cavalos lutando para correr sem afundar.

Com raiva, Alisha bateu as portas do templo, as trancando e então começando a chutar a madeira. Sentia suas pernas doerem, entretanto, queria descontar toda a raiva ali, sua adrenalina estava alta, permitindo que não sentisse dor por algum tempo.

Quando as dores começaram a ser intensas, se encostou em uma parede e deslizou as costas por ela, escorregando até estar sentada no chão. Nêmesis se aproximou, observando a mestre massageando as pernas. Sentou-se ao lado dela, cheirando seu cabelo, lambendo seu rosto, batendo a pata em suas mãos, pedindo carinho.

Alisha recusou, se virando de lado, ficando de costas para ele. O cão resmungou, caminhando ao redor dela, deitando em sua frente para a aquecer e tentando encaixar o focinho em suas mãos. Quando conseguiu, ele abaixou as orelhas e deslizou a cabeça, deixando que as mãos da adolescente estivessem descansando em cima das orelhas dobradas. Ela sorriu, olhando para o cão, acariciando suas orelhas, ouvindo ele deixar um som manhoso escapar enquanto fechava os olhos, batendo a cauda felpuda no chão.

Ela estava imersa em pensamentos, acariciando seu guia, lembrando-se de Lucky e pensando em como ele ficou durante esses meses que, ao serem convertidos para o tempo Hyd, equivaliam a seis meses. Suspirou, pensando em Marla, em Mingzhi, em seu pai, e em suas notas escolares, lembrando que havia perdido todas as avaliações daquela unidade, e provavelmente as avaliações parciais da terceira unidade.

Mau percebeu o tempo passar. Havia ficado horas acariciando Nêmesis, conversando com ele. Apenas percebeu o tempo por causa do sol através das janelas, beijando a terra Dae, tingindo o céu de tons alaranjados.

— Já deviam ter voltado...

Nêmesis começou a rosnar, pondo as orelhas em alerta e se levantando rapidamente, se pondo na frente de Alisha, olhando para a janela. Nela, um corvo havia pousado, olhando ao redor, crocitando.

Ao ver os olhos do animal, Alisha puxou a adaga da bolsa e a lançou. O corvo havia levantado vôo, entretanto, a lâmina passou de raspão em sua asa, abrindo um corte, o fazendo se desestabilizar. Com isso, Nêmesis saltou no pequeno corvo, segurando suas asas com as patas contra o chão, mordendo sua cabeça, a esmagando e arrancando.

Alisha se agachou, analisando o líquido preto que substituía o sangue do pássaro. Seu olhar curioso se transformou sem surpreso, então, em apavorado.

— Oh céus. Ele estava nos observando esse tempo todo... Sieron e Kauane foram para uma armadilha. — Ela percebe Nêmesis a olhando confuso. — Antes de você se juntar, eu e Kauane fomos atacadas por um corvo gigante, que por dentro era exatamente assim. Era um corvo de Khoasang. Nós temos de ajudá-los, Nêmesis! Heilos foi uma isca... Aquele saco de ossos me queria sozinha...

O cão, ignorando tudo o que Kauane lhe falou, assentiu, concordando em ajudar a Hyd. Alisha abriu a bolsa de couro, pegando a adaga e a prendendo no cinto, então, olhou para a pequena caixa metálica e a pegou, a olhando por completo.

Para que não fosse tomada por Khoasang, a jovem escondeu a chave em um lugar que ela sabia que apenas ela e Nêmesis sabiam qual era, então, largando tudo de lado e optando por não vestir o agasalho — por ter o usado como luva para que não tocasse nas larvas da madeira podre. — ela sentou-se na garupa do grande cão avermelhado e olhou diretamente para o deserto gelado a sua frente.

— Nêmesis, abra o caminho.

Notas da Autora:
Céus! Um espião natural! Uma armadilha! Curiosos? Fiquem de olho no mural de notificações. A qualquer momento, a continuação deste capítulo pode ser postado. Fiquem atentos, posso lançar capítulos quando menos esperarem 👻

Daechya - A Crônica Do Kniga *Revisando*Where stories live. Discover now