Meio rouca, eu disse:

-Lindo, você é tão lindo.

A mulher olhou para mim e perguntou:

-O que querida?

-Lindo, você é tão lindo.

-Quem meu amor? -Perguntou ela com suas duas mãos segurando a minha.

-Jesus. -Respondi.

As lágrimas saíram de seus olhos e ela deu um beijo em minha mão.

O homem não tinha voltado, e eu não tinha notícias de Priscila. Eu queria gritar, queria derramar toda água do meu corpo, mas precisava ser forte. Por Jesus.

Fechei os olhos novamente e uma lágrima silenciosa desceu pela minha bochecha.

E na minha cabeça eu continuava cantando: lindo, você é tão lindo.

O resto das cenas passaram como borrões. Ouvi sirenes, vi o corpo de Priscila ser tirado mas eu não sabia como ela estava e nem quando eu a veria de novo. Optei por apenas ficar em silêncio e ser forte. Precisava colaborar comigo mesma e com as pessoas que estavam tentando me ajudar. Mas doía muito.

Eu só queria a minha família. Queria poder pedir perdão pra mamãe por ter feito Pri passar pelo que está passando. Queria que Ben estivesse aqui.

Quando me deitaram na maca e começaram a empurra-la, eu senti que talvez poderia descansar. Que poderia apagar os olhos e só acordaria quando a dor já tivesse passado. Isso sempre acontecia com dores pequenas.

Fechei os olhos mas o barulho e a dor me obrigavam a ficar acordada. Gemi algumas vezes e tentei abrir os olhos, mas sempre quando eu fazia isso a luz me incomodava.

Depois de me levarem para um quarto, fizeram diversos procedimentos, e entre algum deles, eu acabei apagando.

Ao abrir os olhos percebi que não era um sonho. Minha cabeça começou a latejar e eu senti que não poderia movê-la um centímetro que isso causaria dor. Olhei em volta e as coisas pareciam mais calmas.

Eu não via ninguém, mas queria ver.

Queria saber como eu estava, como Priscila estava, queria saber sobre meus pais. Milhões de perguntas se entalavam na minha garganta e eu estava começando a ficar com claustrophobia.

Olhei para a parede a minha frente e comecei a respirar fundo e a contar na minha cabeça. Depois olhei para o teto e fiquei assim por um bom tempo.

O que ia acontecer a partir disso? Ia mudar tanto a minha vida? Diversas teorias se formavam na minha mente quando alguém adentrou o quarto.

-Que bom que você acordou, sua família estava muito preocupada. -Disse uma enfermeira de meia idade.

-Eles estão aqui? -Perguntei.

-Estão na sala de espera. -Disse ela.- Logo vão te liberar para visitas, fique tranquila. O importante é que você está bem e que sua família sabe disso.

-É. -Concordei.- Minha irmã está bem?

-Sua irmã? Ela também está enternada aqui? -Perguntou ela.

Como ela não sabia?

-Está. O nome dela é Priscila.

-Eu vou ver pra você e logo volto com a resposta tá bom? -Disse ela.

Assenti com esforço e sorri.

Ela saiu me deixando sozinha com Jesus.

Sábado

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