N° 20

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Senti e senti mesmo
Uma angústia inexplicável
Pensei que tivesse ultrapassado
Mas o passado é implacável

Travou-me nele indefinidamente
Tentei fugir, não consegui
Queria seguir em frente
E mesmo que em tentativa, prossegui

Mostrei ao mundo que mudei
Pra pior, pelo que dei a entender
Desviei-me do rumo, tornei-me nulo
E anulei tudo o que poderia vir a ser.

Isolei-a na mente, tentei apagar quimicamente
Mas era forte e ali ficou
Pensei em matar ou ao menos reciclar
Mas a ideia nunca se dissipou.

Tornei-me refém de mim próprio
Sem dar por isso, fui violado
Por mil ideias, mil atitudes
Que nunca deveria ter congeminado

Mantive a distância segura
Mas segurei-me ao que não devia,
Fiquei agarrado, como disse, estagnado
A uma ideia que nem existia.

É cómico como continua
O cão a passar na rua e as conversas casuais
A mente é estranha. Ou linda
As perspetivas são contínuas mas não são iguais.

O sorriso não é claro
As lágrimas não são sinónimo de verdade
Ler a mente não é impossível
Mas como se lê a Saudade?

Como se lê a alma?
Ou como me leio a mim?
Perdido em pensamentos inócuos
Que nem eram para ser assim.

Era um impasse, se se tratasse
De algo realmente suficiente
"Mas é só desgaste, do que tu estragaste
Quando não foste prudente."

É tão difícil manter-me ciente
Do caminho que já perdi
Lá vou passando, deambuleando
Por rumos que já esqueci.

Olho pelo horizonte, à procura
Sem saber o que procuro
Perdido, desentendido, esquecido
Passando em brechas de futuro

Não contente nem descontente
Apenas assim eu sou ou serei
Escrevo um algoritmo em ritmos
Que talvez só eu entenderei

Não procuro nada que seja
Não sustento fixação
Sou fraco, sem tacto
Sem procurar ter razão

Não me afasto nem devasto
A barba e o pensamento
Deixo crescer e quem não quiser
Que me diga qual o argumento.

Tenho tempo, sem pressas
Espero o que for preciso
Dou tudo de mim, mesmo assim
Para encontrar algo conciso.

Sou incoerente, diz toda a gente
Verdade, coerente não tento ser
Represento o livre arbítrio
E a vontade de escolher.

Faço por gosto, sempre o fiz
É isso que me mantém
Incoerência e liberdade
Uma loucura que se auto sustém.

Poemas SoltosWhere stories live. Discover now