N°16

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É quase irónico
O poder da própria ironia
Dizer que já passou
E passa por ti nesse mesmo dia

Toda a tua história
Todos os teus medos
Tudo passa por ti
Mesmo os teus segredos

Até o que pensavas não sentir
Abala-te de forma nua e crua
E o que tinhas como decisão
É mais um cruzamento na rua

Valia mais não ter falado
Valia mais ter esquecido
Valia mais não ter acordado
Valia mais não ter acontecido

Decidir continuar ou desistir
Uma linha tão ténue separa a decisão
Arriscar tudo por um capricho
Ou continuar a viver uma ilusão

Não é tão fácil assim
A sombra do ego é gigante
O objetivo está tão perto
Mas parece cada vez mais distante

E entre pensamentos alienados
Penso se há um futuro para mim
Tudo indica que não
Mas no fundo quero acreditar que sim

A lógica complicou-se
O certo tornou-se errado
Tentei traçar objetivos
E objetivamente fui enganado

Não sei se é depressão
Talvez demência até
Levanto-me como me deito
E não sei o que me mantém em pé

Não sinto tristeza alguma
Aliás, não sinto nada em geral
Apenas não me encaixo nesta realidade
Para mim é uma normalidade anormal

Será que algum dia vou entender?
O que é ser feliz? O que é a vida?
Já procurei sem resultados
Sinto que não há saída

Talvez seja o meu destino
Sofrer eternamente por não sentir
Não vejo piada nesta vida
Mas mesmo assim finjo querer sorrir

Descobri que sou assim
E que a mudança é algo vulgar
Basta mostrar um sorriso falso
E pensam que estás a melhorar

Mesmo que esteja cansado
Continuo a viver enquanto der
Não por mim, nem por ninguén
Apenas por que ainda não é hora de morrer

Vou continuar a lutar
Numa batalha sem forma de ter fim
Faço isto como um tributo a quem sofre
Apenas por se afeiçoar a mim

Sei que não tem lógica alguma
Também a perdi no processo
Vejo o mundo desta forma
E é desta forma que o mereço

Gostava de ter sido alguém
Tinha vontade de ser importante
Mas só sei escrever sobre nada
E nada nunca vai ser bastante.

Poemas SoltosWhere stories live. Discover now