》epílogo.

2K 300 238
                                    

— Que bom que veio, garota.

— Eu não perderia isso, Charlie.

Depois do aviso de Charlie e de sua insistência em se negar a falar sobre a nova seção, eu estava ali para vê-la.

Naquela tarde de sábado, a entrada do museu estava cheia. Jovens, adultos, idosos... Todos queriam conhecer o museu sempre tão desvalorizado de La Jolla.

— São muitas pessoas para a visita de hoje — observei. — Espero que seja especial.

Charlie sorriu com sinceridade.

— É, sim.

Eu estava lá dentro. Depois de todo o roteiro seguido pela nova guia do museu com os visitantes, nos aproximamos da entrada da seção 11. A nova seção.

— Vocês estão com sorte. Vieram justo no dia em que inalguraremos uma nova seção por aqui — a guia brincou, e as reações dos presentes variaram entre risadas e exclamações surpresas. Ela se aproximou da enorme porta cinza escura e segurou firmemente as duas maçanetas — Eu apresento a vocês, a seção dos novos artistas!

Ela abriu a porta. E foi como se, por um instante, tudo ao meu redor tivesse desaparecido, incluindo o chão sob meus pés.

Impossível.

Senti minha respiração falhar ao concluir que, sim, o que vi dentro daquela sala era real.

Entre diversos outros quadros naquela parede, ele estava majestosamente pendurado no centro.

O meu quadro.

O quadro que dei para o Benjamin.

Entrei na grande sala, me aproximando dele sem me atentar ao que acontecia ao meu redor.

Era ele mesmo. Mas diferentemente dos outros ali próximos, ele não tinha um papel com um nome na pequena placa de plástico transparente abaixo dele.

— Ele veio aqui pouco antes de ir embora. — Charlie surgiu ao meu lado, me assustando. — Acabei contando sobre a nova seção.

Minhas sobrancelhas se levantaram em surpresa.

— Você contou a ele e não me contou?

— Me deixa falar um minutinho — ele pediu, brincalhão, e eu me calei. — Ele trouxe o quadro, e todos os funcionários do museu se juntaram para falar com uma tal moça chique que é responsável por selecionar as artes daqui. Qual o nome dessa profissão, mesmo? Trabalho chique sempre tem nome chique...

Eu estava sorrindo.

— Não acredito que fizeram isso por mim.

— Todos aqui te adoram. Mas calma, ainda tenho mais para dizer — interrompeu, levantando o dedo em minha direção para pegar algo no bolso de seu blazer. — Ele te deixou isso.

O homem me estendeu um embrulho branco e fino que, rapidamente, eu peguei.

— Eu... Obrigada...

— Ah, e... Ele disse que você saberia qual nome dar ao quadro.

Eu estava encarando o embrulho. Não pensei muito antes de dizer:

— A revelação do Sistema Rochoso.

Ele demorou um pouco para assumir, sincero:

— Achei o nome interessante. — Ele me encarou. — Aliás, é um quadro interessante. Com o asteroide no centro de todo o resto e tal. Eu não sei o que toda essa bagunça significa, mas com os anos que passei trabalhando por aqui aprendi que toda obra de arte se torna mais bonita quando conhecemos ao máximo a história que ela conta — assumiu, sorrindo discretamente. — Talvez um dia você queira contar essa história, garota.

E assim, ele se afastou.

Eu estava sozinha com o embrulho de Benjamin.

Tirei o embrulho com cuidado, sentindo meus dedos tremerem em nervosismo e meus batimentos acelerarem quando vi o que continha ali.

Era a foto que tirei dele com sua câmera. Na imagem, ele estava sentado com as mãos apoiadas na borda no colchão de sua cama, o que deixava os músculos de seus braços em evidência. Além disso, era impossível não reparar na sombra de um sorriso esperto em seu rosto.

Era linda.

Ele era lindo.

Virando a imagem, vi que havia algo escrito em uma letra cursiva caprichada. E o texto contido ali foi capaz de me fazer ouví-lo em sua própria voz:

      "Toda a sua arte é incrível demais para ficar presa a mim.
       Você é grandiosa.

com amor, Ben."

Por um momento, não pude acreditar no que havia lido.

Minhas mãos estavam suando e meu coração acelerado, exatamente como Benjamin costumava me deixar. Era como se ele estivesse realmente ali, dizendo aquelas palavras com sua voz reconfortante e quase melódica em minha frente.

Parecia tão... real.

Real.

Eu havia finalmente encontrado a palavra.

Definir uma pessoa era o mesmo que limitá-la. Como descobri pouco antes que ele fosse embora, Benjamin não era limitado.

Benjamin era uma fotografia que eu guardaria comigo. A inspiração para meu primeiro quadro exposto. Uma memória distante proporcionada pelo azul intenso de seus olhos.

Eu era real.

Benjamin também era real.

Éramos como aquela arte. Éramos um quadro confuso cujo desconhecimento de sua história nos tornava abertos às mais diversas e absurdas interpretações.

Sempre houve e sempre haveria muito mais para saber sobre a História da arte.

Mas eu já sabia algo sobre Benjamin.

Eu sabia algo sobre mim.

Éramos realismo. E história. E...

E arte.

Arte.

•

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.
O Louvre [#1]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora