Opa, espera. Isto quando eu estiver bem velhinho mesmo, grisalho, com uma barba rala, bem aparada, igualmente branca e óculos de grau mais fortes, uma orelha um pouco flácida devido aos brincos ainda pendurados e uma bengala... Ou seja: vai demorar um bocado.
Claro.
- Ele ficou muito feliz com você. Falei que se dariam bem.
- E você não está feliz comigo? – Perguntei animado, mas me dei conta de que poderia ter ficado calado. Mordisquei os lábios envergonhado.
O que deu em você, Taehyung?!
- Eu? Bom, estou sim! Pensei que iria embora noite passada após a conversa no terraço e... Me sinto orgulhosa do seu talento. Nunca ninguém ajudou o Vincent em tão pouco tempo com suas inspirações. Ele é geralmente uma pessoa fechada e vocês parecem amigos de longa data apesar dos sustos no começo para ambos, não é mesmo?
Ela sorriu para mim e sorri igualmente, mas pelo simples fato de me sentir completamente abobado por ela. Talvez porque, por algum motivo, não me sinta tão singular assim quando a vejo.
- Mas, então, ele o aceitou como pupilo? – Em sua voz havia esperança com a resposta e sim, eu seria pupilo do Vincent Van Gogh! Olhem só onde cheguei! Queria poder dizer isto à ela e sentir mais um pouco desta euforia cálida em meu peito mas, minha vida não é aqui. Não é esta...
"Ninguém pode mudar destino algum".
Ela me dissera esta frase na manhã em que acordei e suas palavras pairaram em minha cabeça me fazendo refletir. Esta pode ser finalmente a chave para tudo isto!
Não é novidade que sempre quis conhecer o Vincent. Sonhava em como seria o momento em que isto viesse a acontecer, se por algum milagre isto fosse possível, mas de algum jeito fantástico e inexplicável cá estou eu, em Arles, em 1888!
Sem aviso prévio tive a oportunidade de vivenciar o que tanto devaneava e, nossa, é muito melhor poder viver e encher os pulmões com os ares de um sonho concreto do que apenas de um mundo onírico, borrado, impalpável, imutável, improvável e tudo o mais que termine em "ável".
Bom, não que uma forte exaustão, hipotermia, embriaguez e ainda um pequeno calombo na testa, como brinde, fizessem parte dos meus mais desastrosos pesadelos, mas vamos esquecer esta parte, focar no Vincent e nesta minha viagem louca no espaço-tempo.
Ainda que eu tivesse direito de escolha, preferiria voltar para o meu mundo (não menos louco), para minha família e amigos. Lá, pessoas sempre estarão me esperando. Lá eu posso costurar meu próprio futuro e caminhar junto com estas pessoas. Aqui estou preso no tempo. Viveria uma vida em um passado e o que aconteceria com todos que amo? Eu seria esquecido? Eu sequer teria existido em suas vidas?
Isto parece demais para eu conseguir suportar.
Aqui eu nunca estaria completo... Nunca seria eu mesmo. Sempre haveria um vazio em meu peito pela falta das pessoas da minha vida, do meu verdadeiro passado e presente. Aqui elas não passam de rostos opacos e memórias.
Não sei se seria capaz de sobreviver a isto.
Em alguns poucos meses, o Vincent morrerá e saber desta tragédia só me encheria de culpa por não poder revelar-lhe suas loucuras ou impedi-lo de fazê-las e se as coisas apenas andassem em círculos e tivessem o mesmo final?
Eu ficaria louco!
Oh, esta mulher, bucólica e doce; como um sonho de primavera, uma pintura, talvez, um poema em rimas perfeitas, marcantes, porém suaves, como seus olhos de lua e cabelos em ondas de mar. Nunca fui romântico ao ponto de acreditar em amor à primeira vista, mas talvez esta seja mais uma peça deste meu destino nada convencional. Mas e ela? Sempre viverá neste Café, como se estivesse presa nos quadros do Vincent; dentro desta França que já passou. E se existiu alguém em sua vida*? Onde eu me encaixaria? Teríamos um prazo. Nosso tempo que mal começara já estaria prestes a acabar.
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