Uma palavra

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Uma palavra.

Amor. Difícil de falar em voz alta, até pra si mesmo.

Mas exalava pelos poros, traduzindo-se em ações de forma muito natural. Natural além da conta, às vezes, em demonstrações de afeto que deveriam ficar escondidas, mas eram inevitáveis.

Como aquele abraço no meio da rua.

Jeongguk sentia-se o tempo todo perseguido pela palavra. Bastava olhar para ele e era como se amor ecoasse nos ouvidos, infinitas vezes. Céus, era só pensar nele e o sentimento borbulhava no estômago.

Porém, ao contrário das ações, a palavra não queria sair assim tão fácil. Incomodava-o, presa naquela gaiola dentro do peito, aquela onde por tanto tempo prendera um pássaro azul. A porta ainda estava aberta, mas a palavra continuava encarcerada por vontade própria, com medo de se libertar.

Lembrou-se de Taehyung no dia anterior, ao se afastar de abraço. Via, gravado na mente, o sorriso frouxo que brincou em seus lábios, a forma adorável como ele secou o rosto com a manga comprida do casaco.

Amor, sorriu consigo mesmo.

— Senhor Jeon?

Levantou o olhar e seu sorriso desapareceu de súbito. Deu de cara com a expressão aborrecida do velho professor de história, de sobrancelhas erguidas e olhar severo.

— Hm?

— O que pode me dizer sobre o Pacto de Não Agressão Germano-Soviético?

Engoliu em seco. Por alguns minutos, esqueceu-se que estava na sala de aula.

Contudo, antes que fosse capaz de inventar algo para dizer ou admitir que não fazia a menor ideia da resposta, foi salvo de maneira inesperada.

— Jeongguk não entende muito sobre não-agressão, professor! – Won Sunki, o engraçadinho da sala, cantarolou da última carteira.

A turma inteira se alvoroçou, enchendo o cômodo com risadinhas abafadas, gritinhos agudos e uma ou outra gargalhada espalhafatosa. O professor de história, na tentativa de controlar a classe exaltada, acabou deixando a pergunta de lado — o que foi um grande alívio.

Mesmo assim, Jeongguk sentia o coração saltar na garganta. Que ótimo, pensou, revirando os olhos.

Acho que ainda não esqueceram a briga com Baek Geunwon.

~x~

— Guk, você precisa acordar pra vida! – Songyi advertiu após o sinal do intervalo. Ela estalou os dedos finos em frente ao rosto de Jeongguk, as unhas pintadas um amarelo-gema-de-ovo e pulseiras metálicas tilintando como um chocalho. – Semana passada parecia um morto-vivo, num estado de dar pena, e agora fica sorrindo sozinho sem motivo feito um cachorro babão.

— Melhor, não?

Songyi revirou os olhos.

— Ainda é um estado de dar pena, sinceramente...

Estavam esperando Jimin na porta da sala para irem juntos até a estátua da Virgem Maria.

Encontrar Taehyung, pensou, e sorriu outra vez.

— Eu sei, eu sei. É só que... – Jeongguk soltou uma risada frouxa pelo nariz, os olhos negros brilhando em expectativa. – Acho que minha ficha ainda não caiu.

O sorriso bobo continuou lá. Songyi bufou com impaciência.

— Eu estou feliz por você, juro, mas você precisa parar de dar esse mole. A gente já está no dia cinco de dezembro, Guk. As provas começam em seis dias!

Incógnito | vkook  [concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora