Incógnito | vkook [concluída]

Um poema

Um poema.

Por mais que o relesse trocentas vezes, Jeongguk não conseguia entender. Droga, por qual razão tinham que estudar essas coisas? Ora, se querem tanto saber o que o tal poema significa então por que diabos não perguntaram pro cara que escreveu? Teimavam em complicar tudo.

"O bom texto é aquele que deixa saudade na boca da alma"

Aish, que diabos é a boca da alma?

Bufou, desistente. Não adiantava, jamais entenderia. Era subjetivo demais.

Depois perguntaria a Taehyung, ele com certeza ia saber. No momento, só queria que a droga da aula de literatura terminasse. Era finalmente sexta-feira e como se até mesmo o treinador Lee tivesse pena de seu estado agudo de insanidade, o treino foi cancelado. Ótimo, porque aquela seria sua única chance de fuga do castigo imposto pela mãe, e Jeongguk obviamente não avisou que não teria treino. Muito pelo contrário, mandou uma mensagem a Jimin alertando que, se sua mãe ligasse, era pra ele não atender. Afinal, estariam no treino. Os celulares tinham ficado dentro do vestiário, como sempre.

Também, não tinha avisado Taehyung. Planejava ir até a arquibancada e queria ver sua reação, apreciar qual das incontáveis expressões espontâneas seu rosto bonito formaria assim que o visse. Esperava que fosse uma das boas, das que faziam os olhos cósmicos dele cintilarem e dava um baita frio na barriga.

Quando enfim foi libertado da sala de aula claustrofóbica, não encontrou Taehyung no fim do corredor, como havia acontecido nos dois dias anteriores. Tirando o curto caminho até o ponto de ônibus e os míseros minutos esperando o transporte, Jeongguk não conseguiu passar um tempo sozinho com o incógnito desde a conversa debaixo da árvore na quarta-feira. Foi quase como se o beijo nunca tivesse acontecido e, por algum motivo, nenhum dos dois tocou mais no assunto. Para Jeongguk, foi só falta de oportunidade. Tinha sempre gente demais ao redor, infelizmente.

Aliás, Elizabeth Lutterback sempre estava por perto. Se fosse só Hyeyeon, talvez os dois pudessem dar um jeito de ficarem mais próximos, mas sob o olhar perspicaz de Liz, Jeongguk não tinha coragem nem de jogar indiretas. Era como se a mão sedenta implorasse pelo toque de Taehyung, mas os olhos azuis e frios da garota inglesa congelavam os dedos antes que pudessem se mover. Ela ria de lado, astuta, e dizia suas suspeitas no silêncio de uma sobrancelha arqueada, num aceno de cabeça inexplicado.

Mas na sexta-feira, finalmente, teria um tempo sozinho com Taehyung. Naquele dia fazia sentido que ele não estivesse o esperando no fim do corredor, para caminharem juntos até o ponto de ônibus. Na sexta, nenhum dos dois ia pra casa cedo. Jeongguk colocou a mochila verde militar nas costas, respirou fundo e foi ao encontro de Taehyung.

O céu nublava-se num cinza tão claro que Jeongguk precisou semicerrar os olhos e, por entre os cílios escuros, buscou pelos cabelos castanhos de Taehyung. Não tardaria a chover, aquela garoa fina de céu claro, a mesma chuva do dia em que encontrou o diário.

Não foi difícil encontrar o incógnito. O cancelamento do treino e a ameaça da chuva espantaram a maior parte dos estudantes que costumavam ficar por ali, e que já não eram muitos. Viu-o no lugar de costume, de costas para si, sentado de pernas cruzadas e cabeça baixa. Com certeza era ele, não tinha como confundir, o cabelo em seus tons de sépia e a pele exposta da nuca, acobreada como caramelo. Estava usando um casaco azul marinho de inverno, desses fofos e gordos, que não fazia parte do uniforme escolar. Taehyung e seu frio excessivo. Não dava pra ver, mas Jeongguk poderia apostar que ele tinha um livro aberto no colo, como todas as outras vezes. Taehyung e seu vício em livros.

Aproximou-se devagar, esforçado para não chamar a atenção do garoto. Queria fazer surpresa, ver com qual expressão brilhante seria recebido e, furtivo, quase na ponta dos pés, alcançou a mochila preta com o broche do L. Tirou a própria das costas, silenciosamente a colocando junto da dele, os broches de Death Note lado a lado. Não conseguiu evitar um sorriso tímido.