Uma febre

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Uma febre.

Não qualquer febre, mas uma dessas incapacitantes, que transforma o estado de consciência num sonho entorpecente.

Jeongguk só despertou ao sentir os dedos gelados de sua mãe sobre a testa pegajosa, ensopada de suor. Bateu os dentes antes mesmo de abrir os olhos. Que frio! Até os ossos tremiam. "Você está fervendo!" – ouviu. A voz de sua mãe soava longínqua, como se ela estivesse do outro lado de uma ligação com péssimo sinal.

- Foi aquela chuva de ontem. Garoto irresponsável! Eu mandei levar um guarda-chuva, mas parece que nunca me ouve!

Via o semblante de impaciência da mãe, mas o torpor era tão grande que não o deixou se concentrar em dar uma resposta coerente. Só conseguia pensar que estava morrendo de frio! Nunca tinha sentido tanto frio na vida. Engolir saliva era doloroso, e a garganta ardia. Tentou se mover, mas sentiu os membros moles feito gelatina e a tarefa foi bem mais complicada do que deveria. Com algum esforço, sentou-se na cama, desvendando uma poça de suor escondida embaixo do próprio corpo.

- Você precisa de um banho. – Sua mãe anunciou. – Anda, levanta daí.

Caminhou a passos trôpegos até o banheiro. A água morna escorreu sobre a pele como um alívio imediato para a sensação de frio, e Jeongguk se sentiu mais acordado. Pensou na aula, em Taehyung e nas classificatórias de luta do próximo sábado, mas os temas ficaram enevoados em sua mente enferma. Por fim, saiu do banho contra a própria vontade, sabendo que já estava ali por tempo demais. O frio voltou imediatamente, e Jeongguk amaldiçoou-se por estar doente. Não podia ficar doente, não agora. Tinha coisas importantes a resolver. Não podia faltar aula e deixar Taehyung vulnerável às implicâncias de Baek Geunsuk.

- Preciso ir pra escola. – Disse ao entrar no quarto. Sua mãe trocava a roupa de cama molhada por outra limpa, e lhe ofereceu um sorriso sarcástico ao se virar em sua direção.

- Devia ter pensado nisso antes de pegar aquela chuva ontem. Sinto muito informar, querido, mas você já perdeu a aula.

Desistente e conformado, Jeongguk bufou e retomou seu lugar na cama, feliz por ter de volta o conforto das camadas de cobertores. Sua mãe lhe puxou a gola da camisa e enfiou o termômetro debaixo do braço, não de um jeito carinhoso como espera-se das mães, mas com o inconfundível gênio de má vontade característico dela. Também, não parou de falar um segundo, outra particularidade de sua mãe. Tagarelou sobre como ele costumava ter febres quando bebê e como o pediatra devia detesta-la por ligar desesperada no meio da noite por causa de uma simples tosse.

- Shh, mãe você está me deixando com mais dor de cabeça. Não tem como me dar um remédio e pronto? Não posso faltar a aula de amanhã também.

- Garoto folgado... – Murmurou para si mesma. – Não vou te dar remédio nenhum se estiver de estômago vazio.

- Mas eu não estou com fome. – Reclamou, contrariado como uma criança.

- Eu não perguntei se estava com fome. Se quer o remédio, vai ter que comer. – Ela puxou os cobertores, tirando o termômetro e checando a marcação. – Quase 39 graus. Parabéns, Jeongguk, você ganhou um dia de folga.

Sabia que sua mãe estava preocupada, e transparecia em seu rosto apesar do humor arisco e das frases irônicas. Ela saiu do quarto meio contrariada, e Jeongguk foi deixado a sós com três camadas de cobertores e pálpebras pesadas. Seria difícil cair no sono com aquela maldita dor arranhando a garganta, mas tudo o que queria era dormir para que aquela sensação de invalidez passasse mais rápido. Sentia uma leve dor de cabeça, e a mente emaranhada só conseguiu passear por cenários nada agradáveis. Taehyung no colégio, sendo atazanado pelo alma ruim. Deixado de novo na enfermaria, sozinho, sem que ninguém fosse procurar por ele dessa vez. Jeongguk sentiu-se fraco e incapaz. Seria inútil se continuasse doente dessa forma. Joelhos enrijecidos, boca seca, os ombros tremendo. Tinha que dormir e suar aquela febre pra fora do corpo.

Incógnito | vkook  [concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora