Uma besteira

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Uma besteira.

Podia não ser nada mais que isso. Ainda assim, se era necessária ou não, Jeongguk teria que descobrir por conta própria.

A pequena pulga atrás da orelha se tornou incômoda demais para que simplesmente ficasse parado sem tomar uma atitude. Cenas confusas do passado começaram a povoar a mente ansiosa, e mais perguntas surgiram, sem resposta. Se aquilo era mesmo verdade, se o autor do diário realmente nutrisse daquele sentimento ainda antes do ponto de ônibus e da biblioteca, antes que Jeongguk tivesse se deparado com o caderno de couro no chão sob a garoa, se ele realmente, desde o início, sabia... Bem, isso mudava tudo.

Mudava tudo e explicava muito. Os sorrisos tímidos e inseguros de quando começaram aquela amizade inesperada, as expressões misteriosas de dúvida, a resistência dele sempre que sugeria carregá-lo nas costas, o motivo por nunca ter se afastado quando – de forma irresponsável e impulsiva – Jeongguk alcançava suas mãos e as cobria com as próprias, entrelaçando e embolando os dedos nos dele.

E as frases que ele soltava, às vezes, aleatórias.

"Acho que ainda não tinha tanta certeza sobre você"

"Não pensei que você pudesse gostar desse tipo de coisa"

Lembrava-se claramente da voz de Taehyung, entoando suas pré-concepções a respeito de si. Caso o palpite de Jimin estivesse mesmo certo, então essas frases ganhavam um sentido inteiramente novo. A pulga atrás da orelha incomodava demais, e Jeongguk decidiu que não dava pra conviver com essa dúvida.

Tinha que saber.

Se era besteira, mito, imaginação fértil ou ilusão e paranóia – tinha que saber. Nem que fosse para o bem da própria saúde! Mal conseguia comer, já não dormia direto há três noites, e a falta de sono definitivamente contribuiu para que ficasse ainda mais inconsequente que o habitual. Jeongguk tinha se tornado um neurótico, analisando os pontos e vírgulas do incógnito, cada sorriso sincero ou não, cada movimento inconsciente das sobrancelhas espessas e castanhas. Por fim de nada adiantava e Taehyung apenas continuava mais e mais incógnito do que antes. Agora, essa pulga. Essa maldita pulga. Por mais que os vestígios da pouca lógica que lhe restava insistissem para que colocasse a cabeça no lugar e bolasse um plano – gritavam para que tentasse dormir e esfriar a cabeça antes de fazer uma besteira irreversível, imploravam para que planejasse cada passo até provar essa suposição tentadora – a parte ilógica e impulsiva tomou todo poder sobre o corpo e mandou a lógica à merda.

Taehyung gosta de mim, era só o que pensava.

Como seria possível pensar em qualquer outra coisa?

- Taehyung gosta de mim. – Finalmente disse em voz alta, deixando cada sílaba penetrar nos poros, acordando a mente insana e o corpo inerte para aquela revelação esperançosa e libertadora.

- Bom, eu acho que sim... – Jimin interferiu, completamente alheio ao momento de epifania do melhor amigo, como se estivesse ponderando sobre algo banal. – Mas e aí, o que você vai fazer, hein? Você tá com cara de quem acabou de ganhar na loteria... Se um zumbi ganhasse na loteria.

Jeongguk ainda sentia os músculos das bochechas doendo de tanto sorrir, e encarou a careta do melhor amigo. Ele estava certo. Sim, era um zumbi. Não dormia há dias. E, sim, havia ganho na loteria.

Só precisava ir buscar seu prêmio.

- Eu tenho que ir. – Levantou-se de súbito, mais acordado do que jamais esteve, e alcançou a mochila verde militar, jogando-a nas costas.

Incógnito | vkook  [concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora