- Não entendo o motivo de ele estar aqui, ou você precisa que eu afirme algo e ele possa se defender? – Dou um bocejo e coço o meu olho, vendo o mesmo que entrou se sentando no sofá de dois lugares e de couro preto que havia no canto do escritório, enquanto me olhava com uma expressão assustada e olhar pidão. – Isso pode ser bastante divertido.

- Apenas farei uma pergunta e dependendo da sua resposta, ele pode ser demitido de seu cargo, ou não. É verdade que o Victor tentou bater em você?

- É verdade! Eu já posso ir? – Perguntei enquanto me levantava e desamassava a minha roupa.

- Você é um... como pôde? Eu sou o seu pai. – Dou um sorriso de deboche e respiro fundo, me virando lentamente em direção dele.

- Você não é o meu pai e nunca vai ser, e você sabe o motivo? – Vou me aproximando dele, enquanto ele se mantém em seu próprio lugar sem mover um músculo.

- Diga o motivo, já que você é tão autossuficiente para falar tudo o que vem a sua cabeça sem se importar com as consequências.

- Você não esteve lá quando eu era criança e eu quase fui estuprado, você não estava lá quando eu tinha 13 anos e um homem passou as mãos asquerosas em uma criança que não sabia como se defender daquilo, você não estava lá quando nós passamos três dias sem comer, porque as pessoas acharam que eu fui o culpado de ser assediado e quase ter sido estuprado e você nunca esteve por mim em nenhum momento da minha vida. – Terminei de falar tudo o que estava entalado em minha garganta com os olhos cheios de lágrimas, mas eu não deixei que elas saíssem... a porta se abriu e Amélia entrou junto de Thor e Logan. – E os únicos momentos em que você esteve comigo foi para me bater, naquele dia do quarto, quando os seus filhos mereciam muito mais do que eu, sendo que nunca os procurei para nada; e hoje, quando você precisa estar aqui para que eu salve a sua pele.

- Leo, eu... – Amélia tenta falar, mas eu levanto a minha mão e a mesma se cala, entendendo que eu queria continuar. Os olhos do meu dito pai, estavam ainda arregalados e até marejados, mas depois de todo esse tempo dele ausente, não é algo que me deixe comovido quando, em outros tempos, poderia até fazer com que o perdoasse por ter deixado eu e minha mãe à deriva.

- Mas isso tudo me fez ficar mais forte, me fez ficar mais esperto com relação as pessoas que existem no mundo e, principalmente, me ensinou que eu não preciso ter a mínima compaixão por uma pessoa que nunca teve compaixão por mim. Ou você sabe como é passar fome? Ou como é ver as crianças te rejeitar porque você é um bruxo, mas além de ser um bruxo, ser um bruxo filho de mãe solteira? Você sabe o que é ter que racionar até um grão de feijão para que no outro dia eu tenha algo para pôr na barriga? – Ele nega com a cabeça. – E algum de vocês sabe o que é isso que eu passei? – Todos eles negam. – Então nenhum de vocês sabe o que é estar na minha pele e não têm de dizer que minhas decisões são erradas ou mal tomadas.

- Mas nós não dissemos nada, Leo. Inclusive eu te apoio na sua decisão e eu sei o que você passou por falta desse imbecil que está aqui! – Amélia se põe em meu lado e me abraça pelos ombros.

- Eu acho melhor que você, senhor Victor, vá cuidar de seus filhos, de sua bela esposa, de sua bela vida cheia de rosas e me deixe em paz com todos os meus demônios, porque mesmo eles sendo coisas que a maioria das pessoas não conseguiriam viver, eles são meus. Eles me ajudam a ser mais forte a cada dia e eles ajudam a saber que se você não tirar sua cara de lixo da minha frente, você não terá dez segundos a mais com esse seu rosto de pessoa cínica. – Sinto minha mana se movimentar dentro de meu corpo e fluir pelo meu sangue em uma dança silenciosa e melodiosa a qual o único objetivo se dá para ser liberada. Meu corpo começa a emitir uma luz de cor verde e sinto meus olhos mudando também...

Enigma (Romance Gay)Where stories live. Discover now