Capítulo 3: "Sim, eu sou consciente"

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Fomos direcionados a nossos aposentos, comigo quase saltitando no caminho e fazendo um esforço enorme para conter minha empolgação na frente dos outros. O trajeto era indicado pelas trilhas de neon na parede, como quando fui guiado na entrada do prédio até a sala de estar. Desta vez cada um possuía uma cor específica; a minha, por exemplo, era azul, enquanto a de Samuel era amarela.

Nosso caminho seguiu de volta para o mesmo corredor onde todos havíamos entrado, passando novamente pelo vazio cômodo da árvore grande e a escada em espiral, onde a menina dos olhos grandes quase se atreveu a descer por curiosidade antes de ser redirecionada por Branca de Neve. Seguimos pelo outro caminho no corredor de entrada, dando a uma enorme área de refeição extremamente espaçosa. As luzes do cômodo estavam apagadas, porém era mais que possível enxergar uma luxuosa e comprida mesa contra a larga janela côcava que vi do lado de fora do prédio. O cenário fazia-me imaginar uma cinematográfica cena de nós sete, ali sentados almoçando à visão da natureza fantasiosa que cercava o prédio.

Subimos uma escada larga do lado oposto à mesa e nos deparamos novamente com outro corredor. Este se encontrava logo à nossa frente, estreito e com uma discreta janela ao seu final. As paredes eram lisas e brancas, porém agora brilhavam numa coloração caótica uma vez que nossos trajetos todos continuava pelas paredes, três de um lado e outras três do outro.

Nos aproximamos mais um pouco e percebi que nossos traços brilhantes pareciam contornar uma figura retangular, diminuindo sua intensidade ao parecer entrar em alguma fresta a qual eu não conseguia identificar.

-Estes são seus aposentos, basta empurrarem levemente a porta com sua cor que ela se abrirá para vocês ou para as pessoas que você der permissão apenas. -Entendi só agora que os contornos na verdade eram as portas. Elas mais pareciam parte da parede, uma vez que não apresentavam nenhuma diferença no relevo nem possuíam qualquer maçaneta; apenas um retângulo que brilhava em azul.

Minha porta era a segunda no lado direito do corredor, entre as portas de cor laranja e lilás. Quase revirei os olhos quando percebi que o laranja era o de Laura; tive quase uma certeza imediata que ela era o tipo de pessoa que provavelmente andava durante a noite e para variar devia ser sonâmbula. A cor lhe servia bem, aliás; grudento aos olhos, espontâneo e até um pouco deslocada das outras.

Ao menos o lilás pertencia à Clarice, uma cor mais reservada porém espirituosa, até um pouco amigável aliás, com seu tom mais claro e delicado. 

Na outra parede se encontravam as cores de Samuel, um amarelo alegre que certamente não lhe caía bem; até ele mesmo parecia desprezar a cor viva e mansa que tentava representa-lo. 

Theodor seguia a linha verde escura na ultima porta, reclusa e densa como ele mesmo. 

Mei acompanhou o trajeto vermelho que, diferente do laranja de Laura, invocava o olhar de modo mais provocante, atacando nossa atenção; eu não sabia se era uma cor que combinava com ela, uma vez que Mei não parecia agressiva ou provocante, porém enquanto eu a observava e ela por acaso me encarava de volta, seu olhar espantava toda minha segurança e parecia me deixar completamente vulnerável.

Percebi agora que ali faltava o caminho de um integrante. Olhei em volta e avistei Billy se dirigindo a seu lugar afastado dos outros, indicado por uma linha azul escura que parecia tentar esconder seu destaque escuro em meio à parede pálida.

Voltei à minha porta que esperava meu comando para ser aberta. Ao contrário da originalidade de cada uma das outras cores minha porta era contornada por um ordinário azul claro, nada ousado e com uma personalidade certamente limitada. Meu azul, porém, parecia ser a cor que mais combinava com o lugar, tendo seu tom moderno que embelezava a palidez da parede.

Projeto Branca de NeveWhere stories live. Discover now