3. Nenhuma Dor Tão Grande

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Esse pensamento arrebenta uma corda em Harry. Ele olha para as costas largas do companheiro, a pele bronzeada e mãos calejadas. Pensa no sorriso descontraído dele, e quão rápido foi em colocar Harry debaixo das asas. Esse bosque não é a única coisa forte que a Tigela Empoeirada produziu.

Louis fica de frente para o riacho e abre os braços, apresentando essa maravilha natural para o prazer de Harry.

- Vai em frente e beba, se quiser.

-...Eu posso?

- Claro, é limpa e tudo. Beba o quanto quiser. Hm, na verdade, não enlouqueça nem nada assim. Você já se move devagar o bastante sem a barriga cheia de água.

Às vezes, esse cara...

- Eu estou tentando meu melhor.

- Aw, eu só estou brincando, coração. Sério, vai em frente.

Harry se ajoelha na beirada do riacho e pega um pouco de água nas mãos. "Limpa" é um pouco de exagero, mas tem um gosto delicioso - gelado, natural e seguro. Depois de ter tomado, ele percebe que Louis perambulou para uma das árvores e está inspecionando o tronco. O mais velho mexe com ela, torcendo a mão para frente e para trás num movimento serpenteado, antes do fino galho preto estalar, deixando algo pequeno na palma do Louis.

- Ah! - Harry exclama.

É...fruta!

Se colocando de pé e indo para mais perto das árvores, agora Harry vê um monte dessas coisas, aninhadas nos galhos que aparentavam ser estéreis. De um preto-roxeado e sem forma uniforme ou tamanho, não são das frutas mais bonitas. Harry estica a mão para pegar uma, tendo dificuldade de a retirar, como se a árvore soubesse quão precioso é e tivesse medo de se separar. Está na mão, enrugado e encaroçado. O cheiro é vagamente doce, mas forte e enjoativo. E a casca deixa uma mancha roxa na pele.

Enquanto o cacheado admira maravilhado e com certa repulsa a coisa na mão, Louis se aproxima por trás e abre a mochila dele, jogando as frutas dentro.

- Você ficará no dever das uvas, okay? Apenas ponha o máximo que puder na mochila.

Isso tira Harry do transe.

- Isso não são uvas...São?

- Bom, elas precisam de um nome, não? Não se preocupa. Todas as uvas de verdade estão mortas para se sentirem ofendidas.

Enquanto Harry se coloca ao trabalho, o Louis também faz isso. Ele arrasta o galão que estava carregando até o riacho e começa a enche-lo. Coletando as "uvas", Harry sente a fome chegando. E a fruta fresca bem em sua frente está parecendo mais e mais linda para os olhos verdes.

- Ah sim, e antes de você pensar nisso, não coma nenhuma delas.

- Por quê? Não são comestíveis?

- Bom...Não são perigosas, nem nada. Olha, só vai logo, okay? Estamos perdendo a luz do dia. 

Irritação surge. Às vezes, parece que esse cara está ficando cada vez mais mandão com os dias. Guiado por fome, tentação e puro aborrecimento, Harry leva a "uva" para a boca e dá uma mordida grande e deliberada. Ele mantém o olhar desafiador fixo em Louis, que o observa quase sem expressão. Por um momento não tem nada - a textura esquisita de casca áspera e carne mole, mas sem gosto. E aí, vem.

A sensação de queimação mais desagradável e rançosa se espalhando na língua de Harry, envolvendo a boca inteira, derramando pela garganta. Engasgando, Harry cospe a fruta e joga o resto dela no chão.

- Pfft. HAHAHAHAHA! Ah cara! Eu te avisei! Não pode dizer que não. Escuta, elas não são para comer.

- Para o que são, então?

Aloners || l.s. (post-apocalyptic AU)On viuen les histories. Descobreix ara