Mas o outro, o de olhos azuis, este não tinha essa sorte.

Minha mente trabalhava na ideia de o que ele fazia para passar a dor física e psicológica que ele sentia, a quem ele recorria quando tudo era demais pra seu corpo de pouco mais de onze anos. Qual era sua forma de extrapolar tudo?

A de Ashton era ir pra minha casa e eu cantar pra ele, minha mãe o abraçar e dar todo o amor que podia. Calum saía de casa e ficamos os três juntos, como um time.

Mas e o menino de olhos azuis?

Minha respiração entrecortava, sentia que perdia o controle de mim mesmo.

Estava caindo, mas não era tranquilo, era uma queda conturbada, apavorada, desesperada.

Minha mente não parava, minha mãe gritava, meu pai gritava, agonizando de dor, eu gritava para que alguém ajudasse que a dor passasse.

Tia Joy gritava, me chamava de ingrato, de mal agradecido, e por dentro, o antigo Michael gritava, urrava, ele queria falar, queria sair.

Na minha mente, um menino chorava, ele ficava em seu canto, em seu quarto, chorava, pedia que isso acabasse, que tudo passasse, que fosse apenas um pesadelo, que as coisas seriam melhores, o amanhã existe para isso, para mais uma forma de esperança.

Seus olhos cor de céu brilhavam de dor, brilhavam de esperança. Mas algo se quebrou.

Eu caía.

Agora não caio mais.

Meu corpo está a milímetros de atingir o chão. Meu corpo está suando, estou pronto pra o que vai acontecer, para minha tal morte. Estou pronto.

Mais uma vez o menino chorou.

Eu caí.

Assim que me preparava para o impacto, eu acordei.

Tudo não passava de um sonho.

Um sonho, que tinha um teor de verdade. Um sonho que misturou o que eu ouvia de Ash depois de tanto tempo, junto ao que eu perguntei a ele essa semana.

Um sonho que só me fez mais curioso, mais triste, mais solidário com o que aconteceu. Mais culpado.

Calum estava ao lado da cama. Exatamente como na noite que acordei no hospital. Senti um frio percorrer minha espinha. Nunca era bom sinal.

Porém, depois de sua mudança definitiva para minha casa, era altamente frequente, principalmente depois de um pesadelo, acordar com a sua companhia ao meu lado.

Seus olhos estavam mais puxados. Isso significa que ele estava em um sono praticamente pesado. Esse sonho deve ter sido um daqueles que a vizinhança toda acorda ligando para polícia reclamando da perturbação da paz.

Antes que eu me sentasse na cama, foi tomado por um abraço forte. Muito forte tenho que afirmar.  Não sei o que aconteceu, mas eu retribuí na mesma intensidade. Ainda estava tonto por conta de tudo que veio no sonho, pela queda por uma imagem tão nítida da vida de uma pessoa que eu sequer conheço. Me sentia tonto.

— Você estava tão desesperado. — Calum mantém a força no abraço. — Gritava tanto, eu achei que você estava se sufocando durando o sono. Achei que estava te perdendo.

Eu só respirava o mais fundo que me era possível com aquele abraço. Eu podia ser um idiota, mas me sentia muito menos infeliz por ter o meu melhor amigo/irmão do meu lado.

— Esse sonho foi muito real. — Foi o que consegui dizer depois de minutos em silêncio.

— Eu imaginei, você não parava de gritar. — Sua voz era baixa. — Na verdade berrar mesmo. Teve um momento que você gritava e chorava, gritava de novo, aí quando ficou sem voz você ficou quieto. Então você começou a sonhar com o tio Daryl e a tia Karen e você começou a ficar sem ar.

How to Fix a Broken Heart ~ •Muke• Donde viven las historias. Descúbrelo ahora